A ideia de criar soluções para resistir a um eventual ataque deixou de ser exclusiva dos militares e chegou aos particulares, com portugueses a procurar respostas discretas e tecnológicas. O movimento tem vindo a crescer, impulsionado por quem se identifica como “prepper” e por empresas que oferecem soluções à medida; o objetivo, dizem, é que os abrigos sejam capazes de resistir a um ataque e assegurem autonomia, algo que começa a mobilizar portugueses com meios para investir.
Bunkers feitos à medida e com prazos definidos
Em Portugal, a Solid Bunker afirma construir abrigos com prazos típicos de quatro meses e orçamentos que podem chegar aos 200 mil euros. A empresa comercializa três linhas: de superfície (a partir de 50 mil euros), modular (desde 60 mil euros) e a versão Solid, a mais completa. Segundo o fundador Rui Ribeiro, os projetos seguem referenciais técnicos usados na Suíça e recorrem a materiais com especificações militares.
Os abrigos incluem fontes de energia independentes, captação e armazenagem de água, sistemas de regeneração de ar, kits médicos e de sobrevivência, bem como vigilância por câmara e comunicações. A proposta passa por garantir habitabilidade prolongada em cenários de crise, com a possibilidade de instalação a 10, 20 ou até 50 metros de profundidade, conforme o terreno e o projeto.
Mercado nacional em ascensão
A Portugal Bunkers & Shelters confirma a tendência, avançando que está a construir dois abrigos subterrâneos e um de superfície. Paralelamente, regista procura diária por máscaras antigás e filtros para adultos, crianças e animais, refere o Jornal Económico. Os preços das salas de pânico e dos abrigos variam entre 16 mil e 100 mil euros, havendo também condomínios que estudam adaptar pisos inferiores com portas blindadas e purificação de ar, numa resposta coletiva ao risco.
A procura não é apenas portuguesa. Em Itália, Espanha, Alemanha, Suécia e Reino Unido, o nicho dos abrigos pessoais cresceu com modelos básicos de menos de 10 metros quadrados e custos entre três a cinco mil euros por metro quadrado. As especificações incluem betão armado com paredes de cerca de 30 centímetros, portas blindadas com proteção radiológica e ventilação de segurança.
Segmento de luxo e soluções pré-fabricadas
No segmento superior, empresas italianas referem projetos de 140 metros quadrados com áreas de estar e sistemas completos de entretenimento, orçando perto de um milhão de euros. No Reino Unido, soluções pré-fabricadas de luxo podem custar até 181 mil euros e incluem porta estanque, aquecimento, tanque de água, cozinha equipada, camas com arrumação e geração solar, sendo “capaz de resistir a qualquer tipo de ataque”, diz a mesma fonte.
Enquanto alguns governos europeus avaliam redes públicas de proteção civil, o mercado privado avança com propostas para resistir a agressões convencionais e não convencionais. Na Alemanha, a proteção civil estuda ampliar infraestruturas no curto prazo, refletindo um entendimento político de que a preparação para emergências voltou à agenda. Este contexto tem acelerado a adoção de normas técnicas e a padronização de componentes críticos, como filtragem de ar e refúgios pressurizados.
Comunidades preparadas e redes de apoio
A disseminação do tema também se explica por redes de apoio e comunidades online, onde se partilham guias de instalação, listas de equipamentos e procedimentos de segurança. A tecnologia tem papel central, seja pela energia solar, seja por sistemas de tratamento de água ou monitorização remota, num esforço para resistir a um ataque com autonomia e redundância.
No plano nacional, não existe um licenciamento específico dedicado a abrigos privados, pelo que os projetos seguem as regras gerais de construção e segurança, além de referenciais internacionais. As empresas portuguesas indicam que o escrutínio técnico, os estudos de estabilidade e a ventilação certificada são pontos críticos para garantir a operacionalidade em caso de emergência.
Um mercado que reflete mudanças culturais
Nos Estados Unidos, as previsões de mercado apontam para crescimento no segmento de abrigos, com fabricantes a integrar soluções de descontaminação, portas herméticas e túneis de escape. Em Portugal, a evolução do interesse por estes equipamentos sugere que a preparação pessoal deixou de ser um tema marginal, com mais portugueses a procurar informação e serviços que, em última análise, lhes permitam resistir a um ataque e permanecer autónomos durante períodos prolongados.
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