Uma ave consumida em determinadas regiões deste país pode provocar sintomas graves, incluindo dormência, paralisia e até a morte em casos extremos. Os habitantes locais desenvolveram técnicas específicas para preparar esta carne, reduzindo os riscos associados ao seu consumo.
Uma toxina mortal
A ave em questão é o Pitohui dichrous, uma espécie nativa da Papua-Nova Guiné, um território que esteve sob domínio europeu durante parte da sua história colonial. A toxina presente nesta ave chama-se batracotoxina, um alcaloide esteroide considerado um dos venenos naturais mais potentes do mundo.
De acordo com a National Geographic, esta substância é capaz de bloquear os canais de sódio nas células nervosas, musculares e cardíacas, resultando em contrações contínuas e incontroláveis. Estes efeitos, quando não tratados, podem levar à falência do sistema nervoso e provocar paragem cardíaca. A toxicidade é tão elevada que ultrapassa a potência do cianeto, sendo mortal mesmo em quantidades mínimas.
As populações locais que habitam a região onde esta ave é comum aprenderam, ao longo de gerações, a lidar com os perigos da sua carne. O processo de preparação envolve técnicas específicas, como a remoção cuidadosa da pele e das penas, além da cozedura prolongada. Ainda assim, o seu consumo é evitado por muitos, que a apelidam de “pássaro-lixo” devido ao risco que representa.
Alerta dos especialistas sobre as toxinas
Vários especialistas alertam para o elevado risco associado à carne do Pitohui dichrous devido à presença de batracotoxina, uma neurotoxina extremamente potente.
O ornitólogo Jack Dumbacher, que descobriu a toxicidade da ave, destaca que o contacto com o animal pode causar dormência e ardor, evidenciando o perigo da exposição à toxina.
Por sua vez, o investigador Knud Jønsson salienta que a batracotoxina bloqueia canais nervosos essenciais, podendo provocar graves problemas de saúde se a carne for consumida sem os devidos cuidados. Estes especialistas reforçam que o consumo desta ave implica riscos significativos para a saúde e deve ser evitado ou sujeito a preparações rigorosas.
Origem e habitat
Esta espécie venenosa é endémica da Papua-Nova Guiné, um país situado no Pacífico Sul, com fortes influências europeias no seu passado colonial. Segundo a National Geographic, a ave pertence à família dos corvídeos e está entre um grupo restrito de aves conhecidas pela ciência que possuem veneno.
As investigações indicam que a batracotoxina é adquirida através da alimentação, nomeadamente de escaravelhos do género Choresine, que contêm esta substância nos seus corpos.
A descoberta da toxicidade destas aves, de acordo com a fonte citada anteriormente, remonta ao final da década de 1980, quando o ornitólogo Jack Dumbacher, durante uma expedição às florestas tropicais da Papua-Nova Guiné, se deparou com os sintomas após ser arranhado por um exemplar.
Na altura, os guias locais explicaram-lhe que os habitantes evitavam o consumo da carne sem um processo de preparação rigoroso, um conhecimento transmitido de geração em geração.
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Estudos continuam a desvendar mistérios
Apesar de décadas de investigação, ainda permanecem muitos mistérios sobre como estas aves lidam com a batracotoxina sem serem afetadas.
De acordo com a National Geographic, os cientistas acreditam que estas espécies possuem mutações específicas nos seus canais de sódio, impedindo que o veneno se ligue aos receptores celulares.
Esta adaptação biológica permite-lhes acumular a toxina sem sofrer os efeitos devastadores que provoca noutros animais.
Atualmente, equipas de investigação, lideradas por instituições de renome, continuam a explorar o habitat destas aves para compreender a origem exata da batracotoxina e os mecanismos de resistência que desenvolveram.
A toxina dos escaravelhos
A teoria mais aceite, tal como refere a mesma fonte, é que os escaravelhos que consomem possuem esta toxina, que depois é armazenada nos tecidos das aves. No entanto, ainda não foi descartada a possibilidade de existir uma fonte alternativa no ambiente.
Com o avanço das investigações, os cientistas esperam identificar novas espécies que também possam ser portadoras de toxinas semelhantes.
A descoberta poderá contribuir para o desenvolvimento de novos estudos na área da neurobiologia e até para potenciais aplicações medicinais.
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