Os mais velhos carregam a experiência de uma vida inteira marcada por dificuldades, com uma infância de trabalho e ausência de descanso. É esse contraste com o presente que os leva a olhar para os jovens de hoje com desconfiança e até alguma dureza. Numa série de entrevistas feitas pelo criador de conteúdos Gerard Masol, homens e mulheres espanholas da geração mais velha não pouparam nas palavras para explicar porque acreditam que a juventude atual sofre mais de ansiedade e depressão.
De acordo com o jornal digital espanhol, Noticias Trabajo, a maioria dos entrevistados apontou para a disciplina forjada pela pobreza como a principal diferença entre gerações.
A dureza da vida no passado obrigava a maturidade precoce e deixava pouco espaço para fragilidades emocionais. “Quando eu era criança, aos 10 ou 12 anos já tinha de ir trabalhar no que fosse”, recorda um dos entrevistados, acrescentando que não havia margem para se lamentar ou ficar em casa.
“Não havia tempo para pensar em estar triste”
A pobreza é um dos elementos que mais se repete nos relatos. Um dos reformados contou que perdeu os pais ainda em criança e, desde os sete anos, alternava entre a escola e trabalhos de carpintaria. “Se não me levantava, sabia que não comia ou que apanhava castigo”, disse. Outro acrescentou: “Não havia tempo para pensar em estar triste. A vida obrigava-nos a seguir em frente”.
Para eles, a diferença com os jovens de hoje é clara. Enquanto a sua geração foi moldada pela necessidade de lutar diariamente pela sobrevivência, os atuais adolescentes e jovens adultos crescem rodeados de facilidades que, paradoxalmente, os tornam mais frágeis. “Os pais tiveram muita culpa. Deram-lhes demasiado e agora falta disciplina”, admite outro dos pensionistas.
Redes sociais no centro das críticas
O peso das redes sociais foi outro dos pontos destacados. Segundo a mesma fonte, os jovens tendem a ampliar problemas que, na visão deles, não são tão graves como aparentam. “Hoje, aos 12 anos, ainda quase usam chupeta. Nós já tínhamos de trabalhar. E agora passam os dias agarrados ao telemóvel”, comentou um reformado, com ironia.
Os testemunhos deixam também espaço para conselhos práticos. Vários entrevistados recomendam manter a mente ocupada como antídoto contra a tristeza.
Uma mulher contou que adotou um cão apenas para se obrigar a sair de casa todos os dias. Outro afirmou que “a vida tem de ser aceite como vem, não há outra forma”.
O segredo, dizem, é não parar
As sugestões repetem-se com pequenas variações: sair de casa, procurar conversas, arranjar um trabalho simples que distraia a mente e, sobretudo, não se deixar cair na apatia. “Não se pode passar o dia todo no telemóvel”, alerta um deles.
Outros aconselham mesmo abandonar as redes sociais. Também o cuidado com a aparência é referido: “Se nos arranjarmos um pouco, sentimos logo outro ânimo”.
No final, a mensagem deixada pelos mais velhos é clara. Segundo o Noticias Trabajo, a geração que já passou os 80 anos aprendeu a aceitar a dureza da vida e a resistir sem desistir.
O que transmitem agora aos mais novos é que o tempo é o bem mais precioso e desperdiçá-lo em apatia ou nas redes sociais será, mais tarde, o maior motivo de arrependimento.
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