Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, fluem anualmente para os oceanos aproximadamente 11 milhões de toneladas de plásticos, valor que poderá triplicar até 2040. Estes resíduos, que têm origem na sua maioria nas atividades terrestres, não são biodegradáveis, acumulam-se progressivamente nos oceanos e não desaparecem. Por ação da luz solar, água salgada e ondas vão-se fragmentando, gradualmente, em minúsculas partículas, microplásticos e nanoplásticos. Desta forma, entram nas cadeias alimentares e são ingeridas pelo Homem, desconhecendo-se ainda as consequências da sua ingestão para a saúde humana.
Os plásticos (subproduto dos combustíveis fósseis) são também um importante contribuinte para as emissões de CO2. A estes se juntam outros resíduos não biodegradáveis que constituem uma ameaça para as diversas espécies marinhas. Com a pandemia o problema agudizou-se devido à quantidade de máscaras e luvas descartáveis, produtos de difícil reciclagem, que foram parar ao oceano. No mar, as luvas assemelham-se a medusas (alimento das tartarugas) e os elásticos e fitas das máscaras, à semelhança das cordas e redes de pesca perdidas, deixam os peixes emaranhados.
A problemática do lixo marinho constitui visivelmente um dos maiores desafios globais dos nossos tempos e a sua resolução constitui uma preocupação cada vez mais urgente. É, pois, obrigatório que cada um de nós, individualmente ou enquanto membro de uma comunidade, assuma o seu compromisso para com o planeta. É fundamental que nos envolvamos conjuntamente em ações consubstanciadas nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (e metas) da resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) de forma a: prevenir e reduzir o lixo marinho; proteger os ecossistemas marinhos e costeiros; assegurar a conservação e o uso sustentável dos oceanos e dos seus recursos; tomar medidas para a sua restauração, a fim de assegurar oceanos saudáveis e produtivos e um planeta mais justo para todos.
Atendendo a esta urgência e comprometidos com os valores da responsabilidade, sustentabilidade e cidadania, alunos(as) e professores(as) das disciplinas de Português, Ciências Naturais e Educação Visual, da Escola Básica Dr. Joaquim Magalhães – Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira, integraram o projeto “LIXARTE” tendo sido levadas a cabo várias ações de interação e sensibilização ambiental. No dia 23 de setembro, Dia Mundial do Mar, os(as) alunos(as) da turma C do 9º ano deram início a esta jornada participando conjuntamente com alunos(as) de outras escolas na ação de limpeza do Porto de Faro. Arregaçaram as mangas, calçaram luvas, agarraram em sacos de lixo e fizeram-se ao caminho. Objetivo: ajudar à salubridade de uma zona bastante poluída da cidade de Faro e recolher lixo para transformar em Arte – uma peça de “tapeçaria” para exibir ao público no dia 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos – um desafio à criatividade, uma estratégia para comunicar ciência, um veículo para sensibilizar e envolver os(as) jovens da nossa comunidade na necessária proteção e restauração dos ecossistemas marinhos e costeiros.
Seguiram-se, durante os meses de março e abril, outras iniciativas organizadas pelo Clube Ciência Viva do Agrupamento da Tomás Cabreira, “Mar(é) Vida”, em parceria com várias instituições[1], que incluíram: saídas de campo à Ria Formosa para monitorização ambiental e observação de aspetos relacionados com a ecologia de ambientes costeiros; oficinas de ciência sobre plásticos e microplásticos; oficinas de arte e reciclagem; atividades de OpenLab; palestras sobre o oceano e a sua importância para o equilíbrio do sistema “Terra”; entre outras ações de sensibilização e cidadania participativa como, por exemplo, o “Balcão Europa – Futuro vai a votos (ideias futuro)”, Europe Direct Algarve, integrado na Semana Temática “Mar Adentro”, que decorreu de 20 a 28 de abril. As iniciativas realizadas envolveram ativamente várias turmas do 2º, 4º, 5º, 6º, 7º e 9º anos e todas as turmas do 8º ano.
As saídas de campo tiveram ainda como finalidade a recolha de lixo em zonas de sapal, dunas e areal. Surpreendentemente, para satisfação de todos, pouco ou nenhum lixo foi observado nas diferentes áreas percorridas!
No decorrer desta caminhada conjunta, alunos(as) das turmas B, E e F do 9º ano, incentivados pela professora de Educação Visual, juntaram vontades e aderiram também eles(as) ao projeto “LIXARTE”. A escola passou assim a ter dois projetos, duas propostas de reflexão sobre o oceano, o ambiente, o planeta, a arte, a poesia, o tempo atual e os seus desafios emergentes.
Agitaram-se e ensaiaram-se ideias, construíram-se e desconstruíram-se conceitos. Finalmente, colocou-se a mão na massa. Era tempo de concretizar. Pelo meio, organizaram-se campanhas de recolha de lixo na escola: plásticos vários, máscaras faciais descartáveis, entre outros materiais (lixo que não irá parar ao oceano). Todos(as) colaboraram: alunos(as), professores(as) e pessoal não docente. Com estes materiais e alguns outros encontrados dispersos no areal da praia ou perdidos entre o lixo que se continua a acumular no Cais Comercial de Faro, os projetos começaram a desenhar-se e a tomar forma.
O primeiro projeto, “A voz do Mar”, inspirado na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen e no impacto da pandemia Covid-19 nos oceanos, será essencialmente composto por máscaras e outro lixo associado a este período que veio poluir, ainda mais, as águas marinhas e as zonas costeiras por elas banhadas, bem como outras áreas adjacentes. A intenção é promover, a partir desta peça, diferentes leituras e reflexões, entre elas a substituição real dos elementos marinhos por resíduos não biodegradáveis alertando para o seu impacto negativo na vida marinha, inclusive o seu eventual desaparecimento. Pretende-se ainda com este trabalho “agarrar” a atenção para as gigantescas quantidades deste tipo de lixo, descartável e não reciclável (no caso das máscaras), produzidas e usadas por todo o mundo, em simultâneo, e por um período de tempo considerável. Alguns dados apontam para que tenham sido descartados cerca de “3,4 mil milhões de máscaras ou viseiras, todos os dias”, durante o período pandémico. O projeto foi concebido e está a ser executado por alunos(as) das turmas A e F do 6º ano e C do 9º ano.
O segundo projeto, “Oceano Saudável vs. Oceano Doente”, procura a sua inspiração nas criações da artesã algarvia Vanessa Barragão que representam a imensidão e a beleza dos ecossistemas marinhos, mas também a desarmonia causada pelos efeitos da poluição e da acidificação dos oceanos nos corais. Neste trabalho serão, essencialmente, usados plásticos – garrafas PET e sacos – provenientes de várias fontes, incluindo o lixo doméstico. O objetivo é abordar a problemática dos plásticos e retratar, numa mesma peça, duas visões de um mesmo oceano: a superfície oceânica onde apenas são visíveis manchas de plástico, petróleo e outros resíduos que impedem a entrada da luz e do oxigénio (vida) na coluna de água; a camada mais abaixo, mais profunda, onde a cor (vida) se multiplica na diversidade de animais, algas e plantas levando-nos a refletir sobre o que estamos a destruir e, muito possivelmente, a negar às gerações futuras. A criação deste segundo projeto está a cargo dos alunos(as) das turmas B, E e F do 9º ano.
Independentemente do produto final, fica-nos sobretudo o empenho e a dedicação de todos aqueles que connosco caminharam ao longo desta jornada. Fica-nos também a partilha de ideias, os ensinamentos, as aprendizagens construídas ou consolidadas, as competências desenvolvidas e a amabilidade dos nossos parceiros [1], a quem endereçamos o nosso profundo agradecimento.
[1] Parceiros: Europe Direct Algarve, ARH Algarve – APA, Centro Ciência Viva do Algarve, Centro Ciência Viva de Tavira, CCMAR, EDUCOM, União de Freguesias de Faro, CMF, CCDR Algarve e CRESC Algarve.
(Escola Básica Dr. Joaquim Magalhães – Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira – Faro)
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O projeto LIXARTE – Transformar o Lixo em Arte é um projeto-piloto de diversos parceiros da região do Algarve, com a mentoria de Ana Sousa, professora da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Diversas escolas, algumas inseridas no Plano Nacional das Artes e na rede Escola Azul, estão a trabalhar para construir uma tapeçaria a partir de lixo (sobretudo marinho), a apresentar publicamente, em cada escola, no dia 8 de junho – Dia dos Oceanos – promovendo assim a mensagem do EU Climate Pact, o cumprimento dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e a missão do Ano Europeu da Juventude.
Participam como parceiros no projeto: o Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa e o Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira, em Faro, o Agrupamento de Escolas João da Rosa e o Agrupamento de Escolas Dr. Alberto Iria, em Olhão, e ainda a Faro2027 – candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura, a APA-ArH Algarve, a SCIAENA, a MOJU, o Centro Ciência Viva do Algarve e o Europe Direct Algarve.
Mais informações sobre o LIXARTE, podem ser obtidas através do Europe Direct Algarve, das redes sociais, ou de qualquer um dos parceiros apresentados nesta rubrica.
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