10 de outubro de 2017. Passaram 9 dias desde o suposto Referendo. Carles Puigdemont, Presidente do Governo catalão, anuncia o processo de independência da Catalunha no Parlamento Regional.
Em Madrid, o sentimento de que o caminho não devia ser aquele era maioritário. As bandeiras espanholas correm as varandas de quase todos os prédios.
Espanha era um País dividido. Estava-se a escrever história nas ruas enquanto eu escrevia apontamentos na sala do Campus de Somosaguas da Universidade Complutense de Madrid, numa periferia pacata da Capital espanhola.
Mas não só de apontamentos de faculdade se fizeram os meus meses de Erasmus em Madrid.
Cheguei a 1 de setembro, logo a seguir ao meu aniversário e o calor era terrível. Como algarvio pensei que estaria calejado para as temperaturas, contudo, enquanto lacobrigense, não estava preparado para um calor sem vento e sem mar. Ainda assim, o entusiasmo superava qualquer sentimento irremediável de busca por sombras fresquinhas e água.
Cheguei com várias colegas do ISEG e rapidamente conheci muitos portugueses das mais diversas faculdades e áreas de estudo. O convívio apareceu e os planos de grupo foram uma consequência fácil. Dos menos elaborados como uma cerveja ao fim da tarde nos 100 montaditos aos mais elaborados em visitas a outros pontos de Espanha.
Assim que pude, ainda em setembro, fui ao Santiago Bernabéu ver um jogo de Liga dos Campeões do Real Madrid. O nosso Ronaldo fez 2 golos, naquela que foi a sua última época em Madrid, e numa caminhada que nesse ano acabaria com mais uma conquista europeia do Real. A minha senhoria, equatoriana e madridista, sempre acreditou. Prova da sua fé pode estar no cachecol dos Blancos que me ofereceu quando voltei para Portugal em janeiro.
Viajei muito nestes meses. A correr quase todos os cantos possíveis da área metropolitana de Madrid graças ao passe jovem. Em Espanha fui a Toledo, Guadalajara, Burgos, Bilbao, Salamanca, Ávila, Segóvia, Cuenca ou Córdoba. Visitei uma antiga colega do secundário que estava também a fazer Erasmus noutra cidade de Espanha. Nessa visita, em conversas e cantorias de D’ZRT com uma mexicana que estava em Espanha também num programa de intercâmbio, descobri que o clássico Para Mim Tanto Me Faz da antiga banda juvenil era papel químico de uma música de uma artista mexicana. As probabilidades.
Também visitei colegas de turma da faculdade, igualmente de Erasmus, que me levaram até Mannheim e Amesterdão. Na visita à Alemanha, fui – além de Mannheim – a Frankfurt e Heidelberg, mas também tivemos tempo de cruzar a ténue – diria, hoje, inexistente – fronteira franco-alemã e passar 1 dia em Estrasburgo. A Capital da Alsácia, território historicamente disputado entre os dois países, bem como motivo de muitas tensões e conflitos passados, tem nela a sede do Parlamento Europeu, símbolo da Europa integrada, da cooperação económico-social e da Paz.
Do meu Erasmus em Madrid ficaram muitas memórias. Ficou a experiência de um ensino da Economia diferente, que me abriu horizontes académicos e não só me deu ideias sobre como pensar a Economia, como também ajudou a clarificar por onde queria seguir depois da Licenciatura. Ficaram as festas em casa e as festas no centro da Cidade ou nos vários andares do Teatro Kapital. Ficou o Real Madrid, seja no Santiago Bernabéu para o futebol europeu, como no Wizink Center para o basquetebol europeu, onde vi um Real Madrid vs Estrela Vermelha de Belgrado, onde testemunhei a exibição brilhante de um jovem esloveno chamado Luka Doncic, com 18 anos, e que hoje orgulha o Velho Continente como um dos melhores jogadores da NBA. Ficaram os pores do sol no Templo de Debod ou no Parque do Retiro. Ficaram as 3 tentativas de ir ver neve à Sierra de Navacerrada, mas como quem persiste e não desiste, à 3ª tive direito a não só ver neve na Sierra, como descer de lá de comboio, junto às árvores salpicadas de branco e numa paisagem magnífica até Cercedilla, povoação rural da Comunidade Autónoma de Madrid. Ficaram a Azotea do Círculo de Bellas Artes, os dias de (algum) estudo no Palácio de Cibelles ou a visita ao Complexo de Comunicações do Deep Space da NASA – infraestrutura da organização norte-americana que tem apenas 3 no Mundo.
Ficaram muitas memórias e alegrias, mas, acima de tudo, ficou muito crescimento. Uma experiência completamente irrepetível e da qual todos os estudantes universitários deviam ter a oportunidade de adicionar à sua vivência académica.
Hoje, desde janeiro de 2018, quando regressei, o Mundo mudou muito. A nossa Europa enfrentou e enfrenta desafios inesperados à época. A Catalunha, no entanto, continua hoje em Espanha e na União Europeia. O projeto europeu continua em constante evolução e nós, jovens, temos a oportunidade de crescer e enriquecermos enquanto pessoas em programas como o Erasmus, um dos grandes símbolos desse mesmo projeto europeu sempre inacabado. Tal como nós.
Rasguem horizontes. Façam Erasmus.
*Biografia do autor: Chamo-me João Campos. Sou de Lagos, aos 18 anos emigrei provisoriamente para a Margem Sul para estudar Economia no ISEG. Tirei Mestrado em Economia Internacional e Estudos Europeus pelo mesmo instituto. Hoje trabalho na Banca, na área do Anti-Crime Financeiro, nomeadamente dentro da prevenção ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo. Participei em vários eventos relacionados com a UE, mas destaco a 2ª edição do Summer CEmp de 2018 que se realizou em Marvão.
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