A segurança dos alimentos produzidos em casa, nomeadamente os ovos de galinhas criadas em quintais, está a ser colocada em causa por novas descobertas científicas. Compostos químicos conhecidos pela sua persistência no ambiente, e pelos riscos que representam para a saúde, estão a ser detetados em níveis preocupantes nestes alimentos, levando as autoridades de saúde a emitir recomendações importantes.
Alerta oficial nos Países Baixos
As autoridades de saúde dos Países Baixos emitiram recentemente um alerta que desaconselha o consumo de ovos provenientes de galinheiros domésticos. A recomendação foi divulgada esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Pública e Ambiente (RIVM), organismo que pertence ao Ministério da Saúde, Bem-Estar e Desporto holandês.
Estudo com resultados preocupantes
Este alerta surgiu na sequência de um estudo realizado em 60 locais diferentes do país, onde foram analisados ovos não comerciais. Os resultados revelaram níveis elevados de PFAS, que são substâncias químicas consideradas perigosas para a saúde, nesses alimentos.
O que são os PFAS?
Os PFAS, sigla para substâncias per e polifluoroalquiladas, são compostos químicos usados em várias indústrias. Estão presentes, por exemplo, em materiais de contacto com alimentos, produtos têxteis, componentes eletrónicos e materiais de construção.
O principal problema destas substâncias é a sua resistência à degradação. Por persistirem durante décadas no ambiente, são frequentemente apelidadas de “químicos eternos”. A sua acumulação no organismo humano tem sido associada a várias doenças.
A exposição prolongada aos PFAS está ligada a problemas graves de saúde, como cancro, desequilíbrios hormonais, dificuldades de fertilidade e enfraquecimento do sistema imunitário.
Contaminação através da alimentação
Segundo o comunicado do RIVM, os habitantes dos Países Baixos “já ingerem quantidades consideráveis de PFAS através de outros alimentos e, em parte, da água potável”. Por esse motivo, deixar de consumir ovos de produção caseira pode ajudar a reduzir a exposição global a estas substâncias, refere a Executive Digest.
Ovos comprados continuam seguros
A recomendação aplica-se exclusivamente a ovos produzidos em quintais e galinheiros domésticos. Os ovos vendidos em lojas e mercados, por sua vez, continuam a ser considerados seguros para consumo.
A origem da contaminação
Neste momento, o RIVM está a aprofundar a investigação para perceber de que forma estas substâncias chegam aos ovos das galinhas criadas em casa.
Uma das hipóteses que está a ganhar força aponta para as minhocas como possível fonte de contaminação. Estes invertebrados, comuns na alimentação de galinhas ao ar livre, podem estar a ingerir PFAS presentes no solo, transmitindo-os depois às aves.
Como os PFAS são quase impossíveis de eliminar do organismo, a exposição contínua — ainda que em pequenas doses — representa um risco que se acumula ao longo do tempo, sobretudo para pessoas com hábitos alimentares considerados saudáveis, como o consumo de alimentos caseiros.
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Um problema europeu
Este alerta surge numa altura em que vários países europeus, incluindo os Países Baixos, estão a pressionar por uma regulamentação mais rígida sobre o uso destes compostos.
A Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) está a analisar uma proposta conjunta dos Países Baixos, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Noruega para proibir progressivamente milhares de compostos PFAS na União Europeia.
Reduzir riscos para humanos e ambiente
O objetivo da proposta é diminuir a exposição humana e ambiental a estes químicos altamente persistentes, cuja remoção do meio ambiente é extremamente difícil e dispendiosa.
Apelo a medidas concretas
A divulgação do estudo do RIVM vem reforçar os apelos à implementação de medidas regulatórias mais eficazes, que não se fiquem apenas por recomendações, mas avancem para proibições claras e mecanismos de fiscalização.
Riscos em práticas sustentáveis
Este caso vem também lançar um alerta aos cidadãos que optam por práticas consideradas sustentáveis, como a produção doméstica de alimentos. Mesmo nestes contextos, podem existir riscos inesperados.
Os especialistas sublinham que este tipo de contaminação não pode ser detetado a olho nu, nem pelo sabor ou aspeto dos alimentos, o que reforça a importância de análises regulares e do controlo rigoroso da cadeia alimentar.
Nos últimos anos, tem vindo a crescer a consciência pública sobre os impactos dos PFAS, graças a estudos científicos e a investigações jornalísticas que alertaram para a sua presença em diversos produtos do dia a dia.
A saúde pública em primeiro lugar
Perante os novos dados, o RIVM considera que a proteção da saúde pública deve prevalecer. A simples mudança de hábitos alimentares, como evitar ovos de produção caseira, pode ter um efeito significativo na redução da exposição a estas substâncias.
As autoridades de saúde continuam a insistir na necessidade de informar a população de forma clara e acessível, para que cada pessoa possa tomar decisões conscientes em relação ao seu consumo.
Enquanto se aguarda por uma decisão europeia sobre a proibição dos PFAS, os especialistas recomendam vigilância, precaução e a promoção de alternativas seguras na produção de alimentos, mesmo a nível doméstico.
A contaminação por PFAS é um problema invisível, mas que exige atenção urgente, tanto das autoridades como dos cidadãos. A segurança alimentar deve ser uma prioridade, mesmo — ou especialmente — quando se trata daquilo que produzimos em casa.
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