Visitar Amigos e outros contos é uma nova antologia de breves narrativas assinada por Luísa Costa Gomes, um dos nomes maiores da nossa literatura, publicada pela Dom Quixote. Depois de Afastar-se – Treze Contos sobre Água, que reunia ficções breves, escritas ao longo de mais de cinco anos e assinalava 40 anos de vida literária, vencedor do Prémio Literário Correntes d’Escritas em 2022 (que distinguiu um livro de contos, na área da ficção, pela primeira vez), a autora presenteia-nos com um novo volume onde mais uma vez reúne 13 contos, desta vez manifestamente desirmanados. Cabe ao leitor encontrar afinidades ou temas em comum que perpassem estas pequenas histórias.
No primeiro conto, urbano e contemporâneo (referem-se nómadas digitais), acompanhamos uma mulher que nos narra uma renovação da sua casa que mais se afigura uma destruição total, numa série de peripécias entre o divertido e o alarmante. Um conto que parece tomar uma casa em obras como um caminho que se aponta para o futuro, ou uma mudança de vida, um golpe do destino, embora logo surja a tentação, ou o bom senso, de recuar e querer deixar tudo como estava – um pouco como na vida, em que se quer tudo arrumado e cristalizado. Um conto aliás eivado de perplexidades que levam a reflexões e analogias metafísicas – pode a narradora arrogar-se ser Deus, para querer dispor o seu universo numa nova ordem?

Doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)
A autora presenteia-nos com um novo volume onde mais uma vez reúne 13 contos, desta vez manifestamente desirmanados
“Quem julgo que sou para me meter a fazer obras em casa? Mas o presente já não quer ouvir mais nada, clama pelo futuro, pela próxima fase. Nesta, conclui-se que não há o material que queríamos, nem a cor, nem a quantidade, nem entregam em casa, e são seis semanas para deitar a mão à encomenda. É o mesmo que perceber que a ideia que tínhamos não dá para romance, mas é capaz de fazer um conto largo simpático. Que talvez não seja sobre o que quisemos, nem como quisemos, mas alguma coisa há-de ser.” (p. 15)

Já o segundo conto conduz o leitor num sentido diferente, remontando-nos a um tempo e a um espaço menos urbano, e nada contemporâneo, onde uma mulher toma curiosas decisões quando sabe da outra família que o marido mantém numa aldeia vizinha.
Luísa Costa Gomes nasceu em Lisboa, em 1954. Licenciou-se em Filosofia, foi professora do Ensino Secundário e dirigiu a FICÇÕES (revista de contos). É autora de romances, contos, crónicas e peças de teatro, entre as quais Nunca Nada de Ninguém, o libreto da ópera Corvo Branco, O Último a Rir, Actor Imperfeito, etc.
O seu primeiro romance, O Pequeno Mundo, ganhou o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus e Olhos Verdes o Prémio Máxima de Literatura.

A obra Contos Outra Vez ganhou o Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores.
Publicou ainda, na Dom Quixote, os livros infantis A Galinha Que Cantava Ópera (2005), com ilustrações de Pierre Pratt, e Trava-Línguas (2006), com ilustrações de Jorge Nesbitt, A Pirata (2006), romance sobre a aventurosa vida da pirata Mary Read, e o livro Setembro e Outros Contos (2007).
O seu romance Ilusão (ou o que quiserem) [2009] recebeu, em 2010, o Prémio Literário Fernando Namora/Estoril Sol, «pela inovação e ágil registo estilístico», como referiu em acta o júri, e o Prémio de Ficção do PEN Clube, ex aequo com Dulce Maria Cardoso. Cláudio e Constantino (2014) venceu o Grande Prémio de Literatura dst e Florinhas de Soror Nada, a Vida de Uma Não-Santa (2018), o Prémio de Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues. Afastar-se (Treze Contos sobre Água) (2021) foi distinguido com o Prémio Literário Casino da Póvoa/Correntes d’Escritas 2022.
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