O Algarve afirmou-se no panorama europeu e mundial como um destino turístico, cuja motivação principal assenta sobretudo no clima ameno e no sol e praia. Importa agora canalizar mais recursos para componentes de investimento não directamente produtivos, mas complementares e indispensáveis ao aumento da competitividade da actividade turística.
E isto porque a maior internacionalização e interdependência das relações entre países originaram modificações profundas nas preferências, hábitos e comportamentos das correntes turísticas e na hierarquia das respectivas motivações, especialmente ao nível da sua complementaridade com os produtos ditos tradicionais, como o sol e praia, por exemplo.
Neste sentido, um dos maiores desafios que se coloca ao turismo regional, na actualidade, é procurar responder às exigências da competitividade do futuro, uma consequência directa do fenómeno da globalização e mundialização das economias. E Isto porque é a procura que determina a oferta, mas é a oferta que suscita a procura.
“Os organismos oficiais (…) centram a sua intervenção em torno de assuntos mais mediáticos e facilitadores do protagonismo, promoção e afirmação dos interesses pessoais e particulares dos seus dirigentes“
Neste contexto, assume relevância especial e particular a necessidade de recuperar, preservar, desenvolver e aproveitar economicamente os recursos naturais, históricos, artesanais, culturais, ambientais e arquitectónicos existentes, enquanto vertentes inequívocas de complementaridade dos produtos turísticos mais tradicionais.
E isto porque as questões culturais, históricas e ambientais vêm-se manifestando, de forma crescente e continuada, como uma necessidade premente dos destinos turísticos a nível mundial na orientação e estímulo do seu turismo, uma vez que constituem a essência da autenticidade das suas ofertas e produtos turísticos.
A afirmação e consolidação do turismo do Algarve passa, não só, mas também, por uma estratégia de caracterização assente naquilo que nos identifica e, simultaneamente, nos diferencia de outros destinos concorrentes. Trata-se, no fundo, de potenciar as capacidades específicas do património nas suas várias vertentes, através do aumento dos parâmetros de qualidade e de atracção e promoção daquilo que nos caracteriza, identifica e diferencia face à concorrência.
É preciso termos bem presente que o turismo sustentável não é sustentável por ser feito para minorias. É sustentável porque assegura uma produção, cuja natureza evolui no respeito do capital natural sem, contudo, o consumir. Não há sustentabilidade sem rentabilidade económica.
Torna-se, portanto, necessário, por isso mesmo, implementar uma lógica comercial e económica, devidamente estruturada, que permita que estes recursos sejam consumidos pelo turismo numa escala desejável e rentável, criando regras de gestão que evitem a sua degradação e requalificando-os quando for caso disso.
O Algarve precisa interiorizar que o aproveitamento equilibrado e racional dos recursos patrimoniais, constituem contributos essenciais na obtenção de vectores visíveis de qualidade da nossa oferta turística face a outros destinos concorrentes.
Acresce que o relacionamento do turismo com o ambiente e o ordenamento do território é, presentemente, um dos mais importantes factores da competitividade do nosso turismo nos mercados internacionais, não havendo dúvidas que o turismo é, de facto, a actividade económica nacional mais competitiva em termos de sustentabilidade.
É por estes motivos que somos defensores da criação de mecanismos simples e eficazes de apoio às actividades tradicionais, sejam elas económicas, culturais, ambientais, arquitectónicas, artesanais, sociais ou históricas, numa perspectiva de complementaridade com o turismo da região. Neste sentido, o Algarve deve construir uma narrativa histórica, coerente e credível, respeitadora do seu passado e destinada a ser consumida pelo turismo.
O facto destes valores se encontrarem desinseridos da nossa oferta turística não tem permitido uma utilização racional e económica destas valências competitivas, apesar de se tratar de actividades turísticas de nicho de elevado valor acrescentado e qualificadoras da nossa imagem internacional.
Os organismos oficiais com competências atribuídas para a estruturação do produto turístico, não só continuam a ignorar estas realidades como centram a sua intervenção em torno de assuntos mais mediáticos e facilitadores do protagonismo, promoção e afirmação dos interesses pessoais e particulares dos seus dirigentes.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico