Os “Diálogos (in)esperados” deste mês resultam de uma conversa, através do Zoom, com o poeta e diplomata Luís Castro Mendes, que foi Ministro da Cultura de Abril de 2016 a Outubro de 2018.
Nasceu em 1950 e, ainda muito jovem, foi colaborador do jornal Diário de Lisboa no suplemento Juvenil entre 1965 e 1967. Embora tivesse vocação para as Letras, a sua família convenceu-o a ir para Direito e em 1974 concluiu a licenciatura em Direito pela Universidade de Lisboa.
A partir de 1975 iniciou uma longa carreira diplomática. Exerceu funções em Luanda, Madrid e foi Cônsul Geral no Rio de Janeiro e depois Embaixador em Budapeste e Nova Deli. Foi também Embaixador junto da UNESCO, em Paris e junto do Conselho da Europa, em Estrasburgo.
Conversámos principalmente sobre a sua ligação ao Algarve e sobre a sua obra literária.
Falou com orgulho do seu avô materno, José Rosa Madeira (1890-1941), que foi relojoeiro em Loulé e um homem da cultura. Interessava-se por arqueologia e a descoberta da escrita do Sudoeste da Península Ibérica está associada a ele.
Contribuiu para o reconhecimento do poeta António Aleixo e juntamente com Joaquim Magalhães, então reitor do Liceu de Faro, recolheu e registou os poemas ditos por António Aleixo. Referiu que ainda tem em casa alguns rascunhos escritos pelo avô.
Em 2018 a Câmara de Loulé inaugurou uma estátua de homenagem ao seu avô, natural da Freguesia do Ameixial no interior do concelho.
A sua mãe era de Santa Bárbara de Nexe. Após se reformarem, os pais passaram a viver em Faro até ao fim da vida. A ligação ao Algarve também estava presente pela via paterna, na medida em que o seu bisavô paterno era de Lagos.
“Toda a minha vida foi de mudanças: em criança pelas comarcas do meu pai; em adulto pelos postos da minha carreira. (…) A infância e adolescência foram passadas em Idanha-a-Nova, Angra do Heroísmo, Lisboa, Ilha de S. Jorge, Redondo, Chaves e Leiria.”
Desde criança que passa as férias no Algarve, região à qual sempre manteve ligação. A partir daqui falámos sobre Manuel Teixeira Gomes e de alguns trechos da sua escrita. Para Luís Castro Mendes enquanto poeta e escritor, “Teixeira Gomes é uma referência incontornável que escreveu das mais bonitas páginas sobre o Algarve”.
Falámos sobre o poeta João Lúcio e sobre Sophia de Mello Breyner e a forma como, na sua poesia, geria a evocação de um espaço mítico e de um espaço quotidiano da vida real, como acontece no Livro Sexto, exemplificado no poema “Caminho da manhã” onde é referido o Mercado de Lagos.
O antigo ministro lembrou os Cadernos do Meio-Dia. Antologia de poesia, crítica e ensaio lançada em 1958, em Faro, com a coordenação de António Ramos Rosa e que teve grande importância na evolução da poesia no Algarve.
Falámos também da poesia de Nuno Júdice, que escreveu no jornal Diário de Lisboa no suplemento Juvenil. Outras figuras que na juventude escreveram nesse suplemento foram Luís Miguel Cintra, José Mariano Gago, José Pacheco Pereira, Nuno Reboucho, Jorge Silva Melo, entre outros.
Daqui fizemos a analogia com o suplemento Jovem do Diário de Notícias (DN Jovem) por onde, anos mais tarde passaram alguns jovens que hoje são escritores como José Luís Peixoto, Pedro Mexia, Luís Palma Gomes, José Mário Silva, José Carlos Barros, entre outros.
Por fim, surpreendi o meu ilustre interlocutor com uma frase sua, referida há já muitos anos: “Eu respondo à vida com poemas!”. A partir daí foram partilhados alguns detalhes por detrás dos seus livros e sobre os enriquecedores contextos culturais em que foram escritos, que daria para outro artigo!
Luís Castro Mendes rematou dizendo que também usou a poesia como resposta à própria vida política e que a poesia sempre o acompanhou.
Publicou mais de uma dezena de livros. A sua obra é considerada pela crítica como “enquadrável numa estética pós-modernista e revela um universo enigmático onde o fingimento e a sinceridade, o romântico e o clássico, a regra e o jogo conduzem às realizações mais lapidares e expressivas.”
Foi vencedor do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE / Câmara Municipal de Amarante 2019 com a sua obra Poemas Reunidos.
Bibliografia de Luís Castro Mendes:
Poesia
- 1983 – Recados
- 1985 – Seis elegias e outros poemas
- 1991 – A Ilha dos Mortos
- 1993 – Viagem de Inverno
- 1994 – O Jogo de fazer versos
- 1996 – Modos de música
- 1997 – Quadras ao gosto pessoano
- 1998 – Outras canções
- 1999 – Poesia reunida: 1985-1999
- 2001 – Os Dias inventados
- 2007 – Os amantes obscuros: poemas escolhidos (1985-2001) – Ed. bilingue, em português e dinamarquês
- 2011 – Lendas da Índia – Prémio António Quadros
- 2014 – A Misericórdia dos Mercados
- 2016 – Outro Ulisses regressa a casa
Ficção
- 1984 – Areias escuras
- 1995 – Correspondência secreta
* A autora não escreve segundo o acordo ortográfico
* Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
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