Adriano Moreira celebrou, no passado dia 6 de Setembro, 100 anos.
Uma vida de dedicação à causa pública durante a qual conciliou a condição de cientista social e de teórico político com o espírito de missão sempre que Portugal o chamou a exercer funções.
É uma voz escutada e respeitada, é um dos portugueses que melhor conhece a comunidade lusófona.
É bem conhecido o seu percurso de professor, de político que foi ministro de Salazar e de líder do CDS.
Uma personalidade cativante com um espírito jovial e que tem procurado a convergência no espírito de fraternidade entre os povos de Língua Portuguesa.
A esperança num mundo melhor levou-o a uma profícua actividade cívica em diferentes áreas. Enquanto pensador e político abriu novos horizontes. Enquanto professor conseguiu autonomizar duas novas áreas académicas: a Ciência Política e as Relações Internacionais.
A sua vasta obra vai desde o ensaio, crónica, tratados académicos, pareceres jurídicos, intervenções parlamentares até às inúmeras conferências.
Tive oportunidade de ouvir e conversar com Adriano Moreira na Sociedade de Geografia e tive o privilégio de ter tido aulas com o professor. Há cerca de 10 anos apresentei o seu livro A espuma do tempo – Memória do Tempo de Vésperas no Auditório Municipal de Lagoa no Algarve.
É um livro extraordinário, um livro de memórias que no futuro permitirá entender melhor a segunda metade do século XX português.|
Outro livro que representa um testemunho do pensamento de Adriano Moreira, intitula-se A nossa época – Salvar a esperança.
É um retrato de um século de observações e que é recomendado pelo Plano Nacional de Leitura (PNL) para maiores de 18 anos.
Em 2016 lança mais um livro com o título Portugal e a crise global que é um conjunto de textos, comunicações em ambiente universitário ou simplesmente da sociedade civil em que destaca janelas de liberdade que Portugal tem, como a CPLP e a Plataforma Continental.
O novíssimo príncipe – Análise da revolução foi publicado em 1977 e é considerado a primeira e mais válida análise histórica sobre o fenómeno geopolítico desencadeado pelo 25 de Abril de 1974.
Publicou o manual Ciência Política e o manual Teoria das Relações Internacionais que ainda hoje são usados por muitos estudantes.
Depois de deixar a vida académica manteve a disponibilidade para aceitar inúmeras solicitações e convites de diversas instituições, das mais variadas sensibilidades, para partilhar o seu conhecimento e o seu gosto pela vida. Refere várias vezes: “Gosto de estar vivo!”
Um outro livro com um registo diferente intitulado Este é o Tempo resulta de um conjunto de conversas entre Adriano Moreira e o jornalista Vítor Gonçalves.
Adriano Moreira descreve aspectos mais íntimos da sua vida e conta as conversas que teve com Salazar e relata ainda episódios menos conhecidos, como o processo que o conduziu à cadeia onde partilhou a cela com Mário Soares.
Em Junho de 2022 foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, numa cerimónia particular.
No passado dia 6 de Setembro no Pavilhão do Conhecimento no Parque das Nações foi feita uma homenagem à qual assistiu por videoconferência.
A sua simplicidade, a modéstia intelectual e ao mesmo tempo a sua postura ética não nos podem deixar indiferentes a uma figura marcante e a um pensador de imenso relevo no panorama intelectual português.
* A autora não escreve segundo o acordo ortográfico
* Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
luisa.algarve@anapinto