No plano conjuntural aponta-se, entre outros aspectos, a crise pandémica, a guerra na Ucrânia, a desvalorização do euro, a instabilidade derivada das ameaças e ataques terroristas, a subida do preço do petróleo, a fiscalidade elevada, a inflação e o aumento dos preços.
E se tudo isto é verdade, com reflexos negativos evidentes nas procuras turísticas mundiais, quem poderá afirmar, convicta e objectivamente, que estes problemas são apenas conjunturais e, por conseguinte, transitórios, ou se pela sua natureza, não poderão ser considerados duradouros, logo estruturais.
Será que a recessão económica mundial tem um fim à vista, ou tem raízes mais profundas? O comunismo, considerado uma heresia do capitalismo, não seria antes uma das suas vitaminas? Não terá a queda do comunismo provocado uma alteração substancial no sistema capitalista tradicional? Rússia e China aí estão para confirmar esta dura realidade.
Este período de transição está a ser e vai continuar a ser, muito doloroso para os todos os algarvios em geral
A retoma económica está longe daquilo que todos ambicionamos. Dir-me-ão que as forças de mercado e a própria economia acabarão por resolver o problema. É verdade. Mas quando? E como? E a que preço?
As guerras, por outro lado, têm prazo marcado? Quem nos garante que o preço do petróleo e outros combustíveis vai baixar? Quando e quanto? Tantas perguntas para tão poucas respostas e, todas elas, com impactes directos na indústria das viagens e turismo em todo o mundo.
O discurso da retoma, designadamente no que se refere à gestão das expectativas, consubstanciadas na difusão de uma mensagem positiva, segundo a qual tudo se resolverá no curto prazo e que a partir daí teremos novamente um mar de rosas no turismo do Algarve e na economia em geral, não só não colhe como não preenche os anseios e preocupações da malta cá do burgo.
Para além destas, existem outras razões mais complexas, essas sim de ordem estrutural, quer do lado da procura, quer do lado da oferta, que explicam o que mudou, está a mudar ou vai mudar no Turismo do Algarve, bem como o que, em devido tempo, não foi e deveria ter sido feito.
As crises de 2004 e 2008, a pandemia e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia, vieram colocar em evidência alguns destes factores estruturantes.
Em primeiro lugar, a transformação do modelo de negócio turístico, traduzido no sistema de empacotamento e distribuição de férias que vem sendo assegurado por grandes organizações consolidadas horizontal e verticalmente – os Operadores Turísticos.
Em segundo lugar, uma procura crescente, aparentemente estruturada, mas hoje altamente informada, capaz de escolher e que aprendeu a tirar partido de novos sistemas de distribuição, como o recurso às novas tecnologias, transporte aéreo, etc.
E o que dizer da afirmação plena do turismo residencial, caracterizado pela compra de casa de férias, uma invariante do turismo do Algarve e que vem assumindo, progressivamente, um cariz cada vez mais estruturante na nossa oferta turística.
Este processo iniciou-se nos anos sessenta, a partir do turismo de estrutura rudimentar, traduzido na trilogia “operador turístico/charter/hoteleiro”, dando origem na actualidade a um sistema económico, social e cultural complexo, variado e multifacetado, sem alternativas credíveis à vista e do qual estamos irremediavelmente prisioneiros.
O Algarve confronta-se com uma série de problemas associados a uma perda de competitividade estrutural, entre os quais a fragilidade derivada dos chamados factores dinâmicos, como a educação e os recursos humanos, por exemplo.
Não investimos o suficiente nos chamados factores de aceleração do crescimento, estando, portanto, manifestamente atrasados a nível organizativo, tecnológico e de gestão. Daí que, a competitividade do nosso turismo dependa, essencialmente, de uma aposta séria, realista e empenhada na economia do conhecimento.
O que vai mudar no Turismo do Algarve? Neste contexto, a adaptação à mudança passa, inevitavelmente, por um período de transição mais ou menos prolongado. Este período de transição, por mais dura que a afirmação possa parecer, e quer se queira quer não, está a ser e, vai continuar a ser, muito doloroso para os todos os algarvios em geral.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia