Mais tarde ou mais cedo, o actual aeroporto de Lisboa não só terá esgotado a sua capacidade, como irá ser encerrado. É a lei da vida e as exigências do futuro.
As regras da economia e da modernidade obrigam à deslocalização destes equipamentos para as periferias dos grandes centros habitacionais.
Assim, os aeroportos de cariz urbano estão condenados, na medida em que, por falta de espaço, não só não podem crescer ao sabor do desenvolvimento, como enfrentam um conjunto de constrangimentos ambientais, segurança e outros, sem soluções técnicas aceitáveis.
Neste sentido, um dos factores críticos de sucesso dos grandes aeroportos internacionais reside, precisamente, na sua capacidade de expansão.
Nos idos anos de sessenta, a problemática sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa foi objecto de debate político intenso ao mais alto nível da governação.
Assisti, nessa altura, enquanto técnico da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, a conversas sobre as diferentes opções para a sua localização. A Herdade de Rio Frio, na Margem Sul, embora fosse uma zona propícia a nevoeiros frequentes, liderava as preferências de então. Nessa época ainda não havia sistemas automáticos de aterragem ILS (Instrument Landing Service).
Em 2008, após caloroso debate público, o governo de José Sócrates anuncia Alcochete como a localização definitiva do novo aeroporto em detrimento da Ota. Esta decisão, porém, cai por terra, emergindo a possibilidade Poceirão, não muito distante de Rio Frio, diga-se, como um dos locais ideais para a construção do novo aeroporto de Lisboa, assim como a potencial ligação ferroviária à rede europeia de alta velocidade.
Mais recentemente, no seguimento da privatização da ANA em 2012/2013, surgiu a opção Montijo, entendida como um complemento ao actual aeroporto, dando assim satisfação às pretensões daqueles que defendem a solução designada por Portela+1.
Alcochete voltou agora a ganhar força junto de alguns meios, atendendo a que o espaço aí existente permite expansões futuras, enquanto o Montijo tem sido objecto de bloqueios de vária ordem, políticos e outros, na medida em que não oferece possibilidades de crescimento.
A fundamentação dos defensores do Montijo, incluindo alguns agentes económicos do turismo, reside na rapidez de execução das obras e no facto de Lisboa ser muito mais competitiva com um aeroporto dentro da cidade, concentrando os chamados voos regulares “low cost” no aeroporto complementar do Montijo – uma visão que só podemos classificar, no actual contexto, de transitória, redutora e sem horizontes de futuro, o que designamos por empurrar o problema com a barriga.
A questão de fundo resulta do facto da empresa concessionária, a VINCI / ANA, estar obrigada a suportar os custos das obras de construção do aeroporto do Montijo, enquanto os investimentos a efectuar em Alcochete correm por conta do Estado português, bem como as infraestruturas envolventes, designadamente as ligações rodoviárias e ferroviárias a Lisboa.
As privatizações resultaram de uma exigência imposta pela troika, o que, salvo melhor opinião, não acautelaram, suficientemente, o interesse público, especialmente no que se refere aos conglomerados que funcionam em regime de monopólio, como é o caso dos aeroportos nacionais.
A decisão de construir o novo aeroporto de Lisboa na Margem Sul merece o nosso acordo, atendendo ao seu cariz nacional, indo contribuir para uma maior coesão económica e social e para um desenvolvimento mais equilibrado, harmonioso e competitivo do nosso País.
É preciso termos bem presente, por outro lado, que a Oferta Turística e o Transporte Aéreo são duas faces da mesma moeda, não podendo ser tratados separadamente como sempre aconteceu em Portugal.
Os ciclos políticos, infelizmente, são inimigos de projectos estruturantes de grande envergadura, uma vez que se prolongam no tempo, gerando poucas contrapartidas eleitorais no curto prazo. O novo aeroporto de Lisboa é disso um bom exemplo há mais de 50 anos.
Apetece dizer, tal como aconteceu em 1994, aquando da construção da barragem do Alqueva – “construam-me, porra!”.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico