“Todos os leitores carregam dentro de si íntimas bibliotecas
clandestinas de palavras que os marcaram”.
Irene Vallejo in O Infinito num Junco
Este mês começa precisamente com a comemoração do Dia Mundial das Bibliotecas (1 de Julho), por isso estas palavras são dedicadas a todas as bibliotecas e não a uma em particular, como acontece a cada mês nesta rubrica.
Em Portugal existem 303 Bibliotecas Públicas Municipais, das quais 237 integram a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP). A construção destas bibliotecas contou com o apoio dado aos Municípios pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) através do Programa da RNBP iniciado em 1987.
Segundo o Manifesto da UNESCO “a biblioteca pública – porta de acesso local ao conhecimento – fornece as condições básicas para uma aprendizagem contínua, para uma tomada de decisão independente e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais.”
Cada vez mais se multiplicam as fontes de informação, o que tem vantagens, mas também envolve riscos. Sentimo-nos simultaneamente consumidores e produtores de informação. A complexidade exige habilidades acrescidas e múltiplas literacias, o que torna a biblioteca cada vez mais importante.
“As bibliotecas públicas são lugares de refúgio em todos os sentidos, espaços onde radica a riqueza literalmente humana”. Elena Cotarelo Álvarez
A era que estamos a viver é marcada pelo digital e pelo avanço da Inteligência Artificial (IA). Nem sempre nos apercebemos, mas usamos a Inteligência Artificial todos os dias. Por exemplo, quando pesquisamos no Google, estamos a fornecer dados a um sistema de Inteligência Artificial que ajuda a classificar os resultados da pesquisa.
Pedir respostas a uma máquina está a tornar-se uma prática quotidiana normal e essas máquinas estão a aprender, sabem tudo o que pesquisamos e estão a reconhecer padrões e a tomar decisões. À medida que a IA percebe as nossas necessidades de informação e nos fornece respostas úteis, vamos, provavelmente, passar a confiar mais nela.
A Inteligência Artificial usa informações para a solução de problemas, mas também tem mecanismos que se podem tornar viciantes e, sem darmos conta, vamos dependendo dessa inteligência e provavelmente vamos enfraquecendo a nossa.
A integração de IA nas bibliotecas está a começar a reformular o modo como acedemos, gerimos e interagimos com a informação, proporcionando novos desafios tanto para os utilizadores como para os profissionais da área.
Os sistemas da IA podem transformar a experiência do utilizador nas bibliotecas, por exemplo ao ajudar na localização de materiais ou até recomendar livros com base nas preferências individuais dos utilizadores.
Tudo isto é interessante e está na ordem do dia, mas implica uma maior exigência, responsabilidade e consciência crítica e ética no acesso e no uso da IA.
Mais do que nunca, as bibliotecas são desafiadas a se tornarem espaços essenciais na promoção da liberdade, da equidade e da justiça, como pilares fundamentais da democracia e da construção de uma comunidade informada, crítica e participativa.
Apesar dos avanços tecnológicos e da crescente presença da Inteligência Artificial nas bibliotecas, os bibliotecários continuam a desempenhar um papel insubstituível. São profissionais com um importante conhecimento especializado e uma compreensão empática das necessidades dos utilizadores, e isso a IA ainda não consegue replicar!
Os bibliotecários e as suas equipas são essenciais para contextualizar informações e dar um toque humano indispensável no atendimento ao público. A capacidade de integrarem novas tecnologias para proporcionar o acesso ao conhecimento, de forma mais eficiente e inclusiva, mostra a importância do seu contributo para a evolução das bibliotecas.
Neste mês que começa com a celebração do Dia Mundial das Bibliotecas fica o desafio para visitar uma biblioteca, apreciar a sua magia, o seu silêncio e a sua envolvência. E por que não requisitar um livro? Partilhar uma leitura que tenha gostado com outras pessoas proporciona novos temas de conversa. Redescubra as vantagens de ler, esqueça a IA e viaje através dos livros. Descobrir novos livros é descobrir novas ideias e como referia Einstein “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” A leitura abre o nosso olhar, a nossa mente e expande o nosso conhecimento. Uma mente que lê viaja no tempo!
Se desejar poderá partilhar a experiência escrevendo nos comentários a este artigo no Instagram @bibliotecofilia
*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia
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