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A Aldeia das Almas Desaparecidas: A Floresta do Avesso, Parte I, de Richard Zimler | Por Paulo Serra

LETRAS & LEITURAS: Artigo de Paulo Serra publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul de dezembro

08:00 2 Dezembro, 2022 08:30 1 Dezembro, 2022 | POSTAL
Paulo Serra, doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do CLEPUL

A Aldeia das Almas Desaparecidas, com o subtítulo A Floresta do Avesso, constitui o primeiro volume de uma saga histórica de Richard Zimler, publicada pela Porto Editora. Com tradução de Daniela Carvalhal Garcia, esta é a primeira parte de um díptico que narra novas aventuras e desventuras da família Zarco. A publicação do segundo volume desta saga, intitulado Aquilo que Procuramos Está sempre à Nossa Procura, já está anunciada para o primeiro trimestre de 2023. 

Retomando a família Zarco, cujos membros têm sido protagonistas de alguns dos seus romances, em épocas e lugares distintos, Richard Zimler centra agora a ação em 1662, em Castelo Rodrigo – com saltos pontuais a povoações vizinhas, como Figueira de Castelo Rodrigo e Escalhão. Subtilmente um leitor informado pode ainda encontrar neste romance referências a outras das personagens dos romances anteriores do autor, como é o caso de Berequias Zarco.

A narrativa, contada na primeira pessoa, conta-nos a história de Isaaque Zarco, justamente a partir do momento do seu nascimento. Até porque parece pouco provável Isaaque ter memórias tão nítidas, ele próprio alerta o leitor que “tudo o que aconteceu naquela manhã desfila perante os meus olhos como uma série de imagens e diálogos vívidos” porque a avó Flor, que assiste ao seu parto, lhas recontou muitas vezes.

No romance A Aldeia das Almas Desaparecidas, Richard Zimler inspira-se em factos históricos – Foto Lara Jacinto / D.R.
 

Ao longo das primeiras 100 páginas de uma obra de peso, com cerca de 650 páginas, Isaaque revive assim em pormenor a sua infância desde o nascimento. Acompanhamos, num ritmo pausado, numa belíssima prosa, a história da infância e da família deste menino puro. Talvez por isso mesmo a avó Flor apregoe, logo quando assiste ao parto e o ajuda a vir ao mundo, que Isaaque é um menino curioso e tão teimoso quanto especial. Partilhamos os seus constantes momentos de descoberta e maravilhamento perante a beleza do mundo e a bondade das pessoas que naturalmente o acolhem, num cenário idílico como é Castelo Rodrigo, com casas assentes no dorso de penedos que mais parecem o dorso de um dragão adormecido. Redescobrimos o universo pelos seus olhos de criança, ainda que por vezes haja prolepses que nos despertam para o facto de estarmos a ler as palavras de um eu adulto, que coloca os acontecimentos em retrospetiva e indicia que tudo irá mudar. Essa nota de melancolia ominosa torna-se mais forte à medida que se adensa a intriga. O paraíso dessa infância fica fortemente ameaçado quando, de modo misterioso, uma série de pessoas começam a desaparecer, a começar por Lena, a melhor amiga de Isaaque.

O ambiente narrativo criado por Zimler é de tal forma mágico que por vezes se lê este romance histórico como se fosse uma saga de fantasia. Tal acontece nomeadamente nos primeiros capítulos, que giram em torno da avó Flor, velha parteira e curandeira castelhana, uma força da natureza pronta a desafiar o mundo com o seu conhecimento provavelmente ancestral e as suas tradições, com mezinhas, curas e passes de magia.

Contudo, assim nos alerta o autor numa Nota Histórica no início de A Aldeia das Almas Desaparecidas, Richard Zimler inspira-se em factos históricos. Este romance explora os efeitos devastadores da intolerância religiosa na aldeia de Castelo Rodrigo e nas povoações adjacentes durante o período aqui abordado – a segunda metade do século XVII. Com recurso a nomes reais, datas de prisão e outros detalhes sobre os aldeãos levados pela Inquisição, Zimler apresenta um trabalho exaustivo de pesquisa que torna este romance uma obra magistral e um testemunho inigualável. 

Obra explora os efeitos devastadores da intolerância religiosa na aldeia de Castelo Rodrigo na segunda metade do século XVI

O desconcerto da situação desta aldeia onde começam a desaparecer almas é reforçado pela incompreensão espelhada na perspetiva de uma criança inocente que nem compreende bem até que ponto a sua família segue práticas religiosas distintas do resto da comunidade, que devem ser mantidas em segredo. É também dessa forma que o autor nos introduz num fascinante novo mundo, o do judaísmo praticado em segredo, com as suas práticas e mitologia. O perigoso mundo dos cristãos-novos, obrigados a manter as suas práticas em segredo, desde o reinado de D. Manuel I, e que vivem no fio da navalha, sujeitos a denúncias pelos vizinhos e aprisionamentos.

Richard Zimler nasceu em 1956 em Roslyn Heights, um subúrbio de Nova Iorque. Fez um bacharelato em Religião Comparada na Duke University e um mestrado em Jornalismo na Stanford University. Trabalhou como jornalista durante oito anos, principalmente na região de São Francisco. Em 1990 foi viver para o Porto, onde lecionou Jornalismo, primeiro na Escola Superior de Jornalismo e depois na Universidade do Porto. Tem atualmente dupla nacionalidade, americana e portuguesa. Desde 1996, publicou doze romances, uma coletânea de contos e seis livros para crianças. A sua obra encontra-se traduzida para 23 línguas.

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