Gonçalo Ramos, obreiro de um ‘hat-trick’ na goleada de Portugal à Suíça (6-1), nos oitavos de final do Mundial2022, “tem grande futuro”, diz o ex-futebolista luso-marroquino Hassan Nader, que jogou com o pai do dianteiro no Farense.
“O filho dele [Manuel Ramos] está muito bem e é um goleador. Acho que dificilmente vai ficar no Benfica esta época, pois é um miúdo com grande talento e futuro. Fazer um ‘hat-trick’ num Mundial não é para qualquer um. Gonçalo Ramos está pronto para continuar a fazer uma boa carreira. Só não lhe desejo sorte contra Marrocos [risos]”, notou à agência Lusa o melhor marcador africano de sempre da I Liga portuguesa, com 94 golos em 219 desafios repartidos entre Farense (1992-1995 e 1997-2004) e ‘encarnados’ (1995-1997).
Hassan Nader dividiu balneário com Manuel Ramos nas épocas 1997/98 e 1998/99, em plena ‘era’ do espanhol Paco Fortes no comando técnico dos algarvios, quando Gonçalo Ramos, neto de Matias, antigo atleta e dirigente do Olhanense, ainda não tinha nascido.
O avançado, de 21 anos, chegou ao Mundial2022 com o estatuto de melhor ‘artilheiro’ do Benfica em 2022/23, ao somar 14 golos em 21 jogos nas diversas provas ao serviço do líder da I Liga, prova na qual lidera a tabela dos melhores marcadores, com nove tentos.
“Já me tinham falado dele e vi que o ‘puto’ era bom jogador. Faz parte de um Benfica que está em grande. Acho que esta época é do Benfica, que esteve muitíssimo bem na Liga dos Campeões. O miúdo tem marcado golos e gostei muito. Fizeram bem em convocá-lo para o Mundial2022 com essa idade. O ‘hat-trick’ é bom para a carreira dele”, assinalou.
Na terça-feira, Gonçalo Ramos protagonizou o primeiro ‘hat-trick’ do Mundial2022 (17, 51 e 67 minutos), com Pepe (33), Raphaël Guerreiro (55) e Rafael Leão (90+2) a selarem os restantes golos de Portugal, enquanto Manuel Akanji anotou o único tento da Suíça (58).
Quarto luso a marcar, pelo menos, por três vezes num desafio da equipa das ‘quinas’ em Mundiais, após Eusébio (1966), Pauleta (2002) e Cristiano Ronaldo (2018), o dianteiro natural de Olhão já tinha coroado a sua estreia absoluta com golo no êxito face à Nigéria (4-0), em 17 de novembro, em Alvalade, no único duelo de preparação para a fase final.
Gonçalo Ramos tornou-se ainda o segundo mais jovem de sempre a lograr um ‘hat-trick’ nas eliminatórias do maior torneio de seleções, logo atrás de Pelé, que fez o mesmo aos 17 anos, quando contribuiu na vitória do Brasil sobre a França (5-2) nas ‘meias’ de 1958, antes de ter vencido o primeiro de três títulos mundiais numa final com a anfitriã Suécia.
“Vi o primeiro jogo contra o Gana e tiveram sorte em ganhar 3-2. Não gostei de Portugal, que melhorou um pouco nos outros jogos. Agora, neste último fiquei surpreendido. Como é que é possível a Suíça ter perdido por 6-1? É um adversário complicado, mas isto não quer dizer nada, pois estamos nos ‘quartos’ e todos são favoritos”, frisou Hassan Nader.
Gonçalo Ramos estreou-se a titular na equipa das ‘quinas’, ao surgir no habitual lugar de Cristiano Ronaldo, que substituiu João Félix apenas aos 74 minutos, um dia depois de o selecionador Fernando Santos ter admitido que não gostou “mesmo nada” da atitude do capitão aquando da sua substituição na derrota com a Coreia do Sul (1-2), do Grupo H.
“Cristiano Ronaldo já vai para os 38 anos. Não sendo fácil, pois era um jogador rápido e explosivo, tem de aceitar isso e gerir o fim da carreira. A idade não perdoa. Por isso, tem de pensar mais no grupo do que em si próprio, porque ficará para sempre na história do futebol mundial e não só do futebol português. Ele fez muito por Portugal, pela bandeira nacional e pela ilha da Madeira. Era um galáctico que veio de outro planeta e foi batendo os recordes todos, mas tem de acabar bem aquele que é o seu último Mundial”, apelou.
Titular nas três partidas anteriores realizadas por Portugal no Qatar, nas quais foi sempre substituído durante a segunda parte, Cristiano Ronaldo já não falhava um jogo a ‘contar’ de uma grande competição internacional de seleções desde o Euro2004, numa altura em que está sem clube, após ter rescindido contrato com os ingleses do Manchester United.
“É pena, porque sou fã e muita gente em Marrocos gosta dele. Pessoalmente, não gostei quando ele deixou o Real Madrid [no verão de 2018], porque queria que tivesse ficado lá até acabar a sua carreira. Nestes últimos anos, penso que Cristiano Ronaldo entrou em conflitos perante aquelas mudanças de clube, mais do que pensar no futebol e em jogar”, lamentou o melhor marcador da então I Divisão em 1994/95, com 21 golos pelo Farense.
Hassan Nader, de 57 anos, refere que o recordista de golos (118) e internacionalizações (195) por Portugal “tem de respeitar” a decisão de Fernando Santos, apesar de recordar que “muitas vezes” o selecionador luso “não teve coragem” de o tirar do relvado “quando merecia ser substituído”, fosse “por respeito ou simplesmente por se tratar de Ronaldo”.
“Mudanças no ‘onze’ inicial ante Marrocos? Depende de Fernando Santos. De qualquer forma, Portugal tem um plantel riquíssimo e jogadores de grande qualidade. Com ou sem Cristiano Ronaldo, Portugal não terá problemas. Aspirações no Mundial2022? Pegue na seleção e veja onde é que aqueles jogadores atuam. Todos, sem exceção, representam grandes emblemas europeus. Por isso, Portugal é um dos favoritos a ganhar”, afiançou.
Portugal defronta Marrocos no sábado, às 18:00 locais (15:00 em Lisboa), no Estádio Al Thumama, em Doha, no Qatar, no terceiro confronto dos quartos de final da edição de 2022 do principal torneio de seleções, que será arbitrado pelo argentino Facundo Tello.
Se os lusos golearam a Suíça (6-1) nos ‘oitavos’, garantindo, pelo menos, o seu terceiro melhor desempenho em oito participações, os africanos deixaram pelo caminho também na terça-feira a Espanha (3-0 no desempate por penáltis, após 0-0 no prolongamento).