A um (pequeno) passo de fazer História, com apenas 17 anos, Guilherme Oliveira ficou a escassos 11 minutos de se sagrar campeão da categoria LPM3 da European Le Mans Series (ELMS), no final de uma corrida de quatro horas, disputada este domingo, no Autódromo Internacional do Algarve. Um toque de um dos companheiros de equipa danificou o Ligier da Inter Europool, levando Guilherme de Oliveira a uma desistência inglória e ao segundo lugar final do ‘Campeonato da Europa’ de Resistência.
Do céu ao inferno. O desporto automóvel e as corridas de Resistência são um universo fascinante, que apaixona milhões de adeptos em todo o mundo pela simbiose entre tecnologia e capacidade de superação humana, exemplificados nas míticas 24 Horas de Le Mans. Mas este é também um desporto implacável, onde o elemento humano está sempre dependente de uma máquina ou de circunstâncias que não consegue controlar. Foi o que aconteceu a Guilherme Oliveira, que parecia a caminho de um histórico título na categoria LMP3 da European Le Mans Series, até uma série de acontecimentos fora do seu controlo o levarem a perder a vitória, a 11 minutos da bandeira de xadrez. Os últimos 11 minutos de um campeonato com 24 horas de corridas (seis provas de quatro horas cada).
O cenário parecia perfeito. Depois de uma brilhante carreira no karting, onde acumulou 15 títulos nacionais e ibéricos, Guilherme Oliveira iria culminar a segunda segunda época nas corridas de automóveis em ‘casa’, em Portugal, e logo com a possibilidade de conquistar o título da ELMS, o ‘Campeonato da Europa’ de corridas de Resistência, considerado a antecâmara das 24 Horas de Le Mans. O feito seria ainda mais impressionante atendendo à idade do piloto de Vila Nova de Gaia (17 anos), que em 2021 já se tinha tornado o mais jovem piloto de sempre a estrear-se na ELMS, com apenas 16 anos.
O sonho ali tão perto
Guilherme Oliveira e os seus dois companheiros na equipa Inter Europool, o norte-americano Charles Crews e o chileno Nicolás Pino, chegavam ao Algarve na liderança destacada do campeonato e precisavam apenas de um sexto lugar para garantirem o título, mesmo em caso de vitória dos adversários diretos, a equipa suíça Cool Racing, com Mike Benham, Malthe Jakobsen e Maurice Smith. O segundo lugar na qualificação, no sábado, era um bom indício para a corrida deste domingo, uma prova onde o Ligier com o número 13 da Inter Europool chegou a passar pelo comando.
Contudo, já no último terço da corrida, Nicolás Pino não conseguiu evitar um toque noutro concorrente, danificando a suspensão e a direção do carro da equipa polaca. Quando Guilherme Oliveira entrou para o Ligier, para realizar o último turno de condução, a equipa estava no terceiro lugar da corrida, mas a Inter Europool decidiu manter os mesmos pneus, já com uma hora de utilização. Com um carro praticamente inguiável, o jovem português fez um enorme esforço, até ser obrigado a entrar novamente nas boxes, quando os pneus acabaram por ceder. No regresso à pista, com a direção afetada, Guilherme Oliveira não pôde virar normalmente na primeira curva e foi em frente, colidindo com outro carro no regresso ao circuito. O sonho acabava na escapatória de Portimão, com as imagens de TV a mostrarem um jovem de 17 anos prostrado na gravilha, a tentar processar todo o azar daquele momento.
“Perdemos o campeonato da Europa e não havia nada que eu pudesse fazer”, comentou Guilherme Oliveira no final, visivelmente desalentado. “A equipa optou por uma estratégia arriscada de manter os pneus usados para o meu turno de condução e os pneus acabaram por não resistir. Fui obrigado a entrar nas boxes, mas alguma coisa se passou de anormal, pois a direção não obedeceu normalmente na primeira curva. Quando tentei regressar à pista, à pista tive um toque com outro piloto e a desistência foi inevitável. É muito complicado descrever o que estou a sentir. Não consigo acreditar que isto aconteceu. Acho que a única forma de processar isto é pensar que fomos vice-campeões da Europa e começar a trabalhar já para a próxima época”, afirmou o jovem piloto português.
Guilherme Oliveira e a Inter Europool terminaram a época como a equipa com mais vitórias na categoria LMP3, triunfando nas pistas de Monza (Itália), Barcelona (Espanha) e Spa-Francorchamps (Bélgica).