A Rússia reagiu com indignação à inclusão pela UNESCO da sopa ‘borscht’, típica da Ucrânia, na lista de património cultural imaterial em perigo, uma nova ‘frente’ no conflito bilateral.
No seguimento do anúncio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o ministro da cultura ucraniano, Oleksandr Tkatchenko, comentou na rede social Telegram que “a Ucrânia ganhará a guerra do ‘borscht’, bem como esta guerra”, referindo-se ao conflito armado com a Rússia.
Do lado russo, os diplomatas de Moscovo denunciaram quase de imediato a decisão da UNESCO, acusando os ucranianos de se apropriarem do prato como forma de “nacionalismo contemporâneo”.
“Poderia ser algo comum, em que cada cidade, cada região, cada dona de cada preparasse à sua maneira, mas eles [ucranianos] não se quiseram comprometer, e isso é xenofobia, nazismo, extremismo em todas as suas formas”, criticou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russa, Maria Zakharova.
“Húmus e arroz de pilaf são reconhecidos como pratos nacionais de vários países”, continuou Zakharova, “mas a ‘ucranização’ aplica-se a tudo. O que será a seguir? Os porcos serão reconhecidos como produto nacional ucraniano?”, ironizou Zakharova na rede social Telegram.
A SOPA BORSCHT
Feita de beterraba e carne, ‘borscht’ é uma sopa tradicional normalmente servida com pão simples ou de alho, amplamente consumida na Ucrânia, mas também na Rússia.
Justificando a decisão da UNESCO, o representante da comissão de avaliação do dossier ucraniano, Pier Luigi Petrillo, disse que “não é a existência em si desta sopa que está em perigo, mas é o património humano e vivo associado ao ‘borscht’ que está em perigo imediato, dado que a capacidade das populações de praticar e transmitir o seu património cultural intangível está seriamente perturbada devido ao conflito armado, em particular com a deslocação forçada de comunidades”.
A Ucrânia apresentou em meados de abril o pedido para a inclusão da sopa na lista de património cultural imaterial em perigo, argumentando que a invasão russa no país, a 24 de fevereiro, e os meses de bombardeamentos que se seguiram, ameaçaram a “viabilidade” da tradição do prato.
“A população já não é capaz de preparar ou mesmo cultivar os vegetais locais que são necessários para preparar o ‘borscht’”, comentou Petrillo.
“Nem sequer se podem reunir para praticar a preparação do ‘borscht’, o que põe em causa os aspetos sociais e culturais. Como tal, a transmissão deste elemento está em risco”, continuou ele.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL