O Município de Tavira promove, no próximo fim de semana, mais uma iniciativa no âmbito do programa “Os Dias Abertos de Cachopo”, que consiste na realização de atividades de pesquisa e divulgação científica dirigidas ao público geral.
Estas inserem-se, igualmente, no âmbito da comemoração do Dia Internacional dos Museus (18 de maio), cujo tema, este ano, é “Museus, Sustentabilidade e Bem-estar”. Decorre, em simultâneo, a Feira de Cachopo na aldeia.
No sábado, pelas 19:00, terá lugar, na Igreja de Santo Estêvão de Cachopo, o passeio “A paroquial de Santo Estêvão de Cachopo: memória e identidade”, por Marco Sousa Santos (historiador de arte) e Albino Martins (diácono).
Fundada na 1ª metade do século XVI, a igreja de Santo Estêvão de Cachopo guarda as memórias de quase cinco séculos de história desta freguesia e das suas gentes. Espaço de reunião, palco de cerimónias, sede de confrarias e ponto de partida e chegada de procissões, este edifício foi sempre o centro religioso e social do território envolvente.
Apesar das obras que alteraram profundamente a estética do edifício, na arquitetura reconhecem-se ainda os traços da sua antiguidade. No interior, alfaias e imagens de culto (algumas ainda do século XVIII) dão conta do número e tipo de devoções que se fixaram na freguesia, contribuindo para um melhor entendimento da sua história e das crenças e tradições acarinhadas pela sua população.
Esta visita é antecedida, pelas 18:00, por um concerto da Orquestra do Algarve, numa organização da Junta de Freguesia de Cachopo, do Centro Paroquial de Cachopo e da Associação de Festas da Freguesia de Cachopo.
O concerto tem um programa que combina duas obras de mestres do século XIX e XX, ambas pouco ouvidas e que partilham, na sua génese, o princípio do método por detrás do ato compositivo.
Penderecki, católico devoto, escreve em memória do Papa João Paulo II uma “chacona”. Esta forma musical caracteriza-se pela repetição dos mesmos padrões harmónicos, desenrolando-se como um exercício de método e mestria na condução da música.
Já o sexteto de Rimsky-Korsakov, única obra que o compositor russo escreveu para esta formação, configura um exercício raro vindo deste compositor, que aqui se dedica às formas mais clássicas da história da música, inclusivamente submetendo a composição a um concurso, onde apenas veio a ganhar o segundo prémio.
No domingo, pelas 09:30, realiza-se o passeio “Os trajetos da serra entre montes de Cachopo para a interpretação da arquitetura e da paisagem”, por Miguel Reimão Costa (arquiteto).
A paisagem de Cachopo é caracterizada, como outras subunidades da serra, pela presença de montes de seareiros, de caseiros e de lavradores, com aspetos particulares a nível da construção e da organização da casa tradicional.
Grande parte dos montes de seareiros da freguesia concentra-se na sua parte central, correspondente à antiga herdade de Cachopo, deixada como terras comuns às populações locais. Partindo destas terras, o percurso procurará interpretar os modos de habitar da região, revelando alguns dos temas que marcam a diversidade da sua arquitetura. Um dos locais a visitar é a Valeira, um dos exemplos de monte de lavrador.
As atividades são gratuitas, estando a partida de Tavira prevista, no sábado pelas 17:00 e no domingo pelas 08:30.
As ações têm um número limitado de pessoas e o transporte é da responsabilidade da autarquia. O programa prevê tempo livre para visita à feira. Mais informações: [email protected]
Inscrições até dia 11 de maio
Passeio “A paroquial de Santo Estêvão de Cachopo: memória e identidade”
https://forms.gle/kivD9MjTPUWD7vTS9
Passeio “Os trajetos da serra entre montes de Cachopo para a interpretação da arquitetura e da paisagem”
https://forms.gle/XwxHje9Zc7unUYbc9
O programa “Os Dias Abertos de Cachopo”, coordenado pelo Museu Municipal de Tavira, visa a proteção e salvaguarda do património cultural e natural (uma das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável “Cidades e Comunidades Resilientes” da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável). Neste inclui-se a relação entre património imaterial e sustentabilidade, centrada na Dieta Mediterrânica, valorizando, desta forma, os recursos territoriais e o conhecimento.
Este programa integra o projeto “Dieta Mediterrânica nos Territórios de Baixa Densidade”, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional ao abrigo do Programa Operacional CRESC Algarve 2020. “Os Dias Abertos de Cachopo” contam com o apoio da Junta de Freguesia de Cachopo, do Centro Paroquial de Cachopo e da Associação In Loco.
Os interessados em explorar Cachopo, durante o fim de semana, têm à disposição os Centros de Descoberta do Mundo Rural, localizados nos montes da Feiteira, Casas Baixas e Mealha.
Mais informações e reservas aqui.
Albino Martins foi ordenado Diácono em 2012. Desenvolve missão na Paróquia de Santo Estêvão de Cachopo e no seu Centro Paroquial, desde 1990. Exerce atividade pastoral em Alcoutim, Giões e Pereiro, Martim Longo, Vaqueiros e Cachopo. Colaborou na constituição de acervo museológico sobre Cachopo e na organização do Núcleo Museológico de Cachopo (2000).
Marco Sousa Santos é licenciado em Património Cultural e Mestre em História da Arte, pela Universidade do Algarve, e atualmente doutorando pela Universidade de Coimbra. Vencedor de alguns prémios na área da historiografia, é também autor de livros e artigos que versam, sobretudo, temas relacionados com a arquitetura religiosa portuguesa da época Moderna e com a história e património da região algarvia.
Miguel Reimão Costa é arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e doutorado em arquitetura pela mesma faculdade. É Professor Auxiliar na Universidade do Algarve, onde ensina nos diferentes ciclos dos cursos de Arquitetura Paisagista e Estudos de Património.
É membro da Direção do Campo Arqueológico de Mértola e investigador do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património. Integra o Conselho Editorial da coleção “Cidade Participada: Arquitetura e Democracia”. É membro perito da Comissão Científica Internacional para a Arquitetura Vernácula, Icomos-Ciav.
Miguel Reimão Costa publica, frequentemente, sobre o património construído em Portugal e no Mediterrâneo, compreendendo diversas linhas de investigação para a interpretação da arquitetura a partir da colaboração com colegas da arqueologia e da história, da antropologia e da paisagem.
Destacam-se, ainda, as funções de coordenação do Gabinete Técnico de Apoio às Aldeias do Algarve – Sotavento, entre 2001 e 2004, no qual um dos territórios de intervenção foi Cachopo. Sublinham-se a publicação de sua autoria, “Casas e montes da Serra entre as estremas do Alentejo e do Algarve – Forma, processo e escala no estudo da arquitectura vernacular” em 2015, onde são abordados exemplos em Cachopo.