
Capa: Hawkins “ A-Rapariga-no-Comboio”
Prosseguimos a publicação sobre a análise dos livros mais procurados pelos leitores das bibliotecas algarvias que se iniciou no artigo acessível neste link.
ENTREMOS AGORA PELA FICÇÃO ADENTRO
Se “a literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida”, como diz Bernardo Soares no seu “Livro do Desassossego”, que tipo de evasão representará o TOP de preferências literárias dos leitores que frequentaram as Bibliotecas Públicas do Algarve em 2018?
O TOP de Leituras é claro quanto ao gosto literário dos leitores: o romance é dominante, e os romances de amor têm reinado absoluto.
OS AUTORES ESTRANGEIROS são largamente preferidos em relação aos autores de língua portuguesa, e dentro daqueles as grandes ficcionistas inglesas e norte-americanas do “romance cor-de-rosa” são as verdadeiras líderes de preferência, como é o caso de Nora Roberts, Leasley Pearse, Danielle Steel, Jojo Moyes, Jodi Picoult, e Kristin Hannah, a que se junta o “golden boy” da ficção comercial norte-americana, Nicholas Sparks.

A opção peloromance de grande fôlego, de coordenadas históricas, mistério e movimento, com personagens envolventes que mergulham em segredos guardados nos tempos, vem em 2.º lugar na opção dos leitores, com dois autores de referência mundial, o britânico Ken Follett e o norte-americano Dan Brown.
A escritora Paula Hawkins, apesar de não ter a robustez e o fôlego literário destes dois autores, mereceu um destaque especial nas preferências de alguns leitores com os seus dois romances “A rapariga no comboio” e “Escrito na água”, duas histórias complexas de sentimentos, crime e mistério, estruturadas e desenvolvidas na senda dos grandes clássicos policiais de investigação.
Quanto às preferências no campo da LITERATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA, o romance é igualmente dominante, e os autores mais lidos em 2018 foram José Rodrigues dos Santos e José Saramago, dois nomes de peso no universo literário português.
José Rodrigues dos Santos, um mestre da grande narrativa de ficção histórica, criador da já célebre personagem do professor Tomás Noronha, é um dos escritores preferidos dos leitores portugueses, e os seus romances “Sinal de Vida”, mais uma aventura de Tomás Noronha, e “Anjo Branco”, que evoca Moçambique e a Guerra Colonial nos anos 60, foram os mais lidos em 2018. José Saramago, Nobel da Literatura em 1998, foi o segundo autor português mais lido com o romance “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, um livro que junta Ricardo Reis, Fernando Pessoa, Saramago em Lisboa, nos anos 1935-36.
Ainda no campo do romance, referência para “Antes que seja tarde”, de Margarida Rebelo Pinto, centrado nas relações sentimentais detrês gerações de mulheres, e “Dei o teu nome às estrelas”, o segundo romance de Rui Conceição Silva, passado na ruralidade de Figueiró dos Vinhos, no final de Oitocentos, e que conta a história de encantamento pelo mundo e pela vida de um professor tristonho, depois da chegada à terra de dois “semeadores de maravilhas”.
Um único nome para a poesia – João Lúcio, talvez devido ao destaque que o autor olhanense obteve um pouco por todo o Algarve, no ano em que Olhão se empenhou em comemorar o centenário do seu falecimento (1918-2018), divulgando a sua vida e obra pública e literária.

Capa: José Rodrigues dos Santos “ Sinal de vida”
Estas foram as escolhas literárias maioritárias nas Bibliotecas Públicas Algarvias em 2018. Através delas percebemos que as estantes das Artes, das Ciências Sociais e Humanas, e das Ciências da Vida são zonas escuras; que Mark Twain continua a ter razão na afirmação de que “um clássico é algo que toda a gente queria ter lido mas que ninguém quer ler”; que somos um país de poetas que lê muito pouco poesia editada, e que para além de irmos tão pouco ao teatro, também não nos faz falta ler a vida em textos dramáticos.
Sobre a literatura em Língua Portuguesa, e a literatura dos Países da Lusofonia, um Salvé! aos editores que vão remando contra ventos e marés, e com “fúria e raiva” teimam em oferecer-nos em folhas de papel-de-cheiro de tinta negra, a escrita e a mundividência dos nossos autores, os antigos e os novos, os clássicos e os modernos, todos, e todos os textos que for possível. Haja leitores!
(Luísa Cardoso / Biblioteca Municipal de Lagos)
(CM)