
Nos 45 anos da “Revolução dos Cravos”, o “POSTAL do ALGARVE” associa-se às comemorações e irá publicar todos os dias, durante o mês de Abril, um texto ou poema alusivos ao 25 de Abril.
Uma iniciativa organizada por Rui Cabrita e que irá decorrer em simultâneo no jornal “Terra Ruiva”, do concelho de Silves.
A escolha da Junta de Salvação Nacional
“Quanto à Armada, fechou-se completamente em copas até ao último momento. Pelo menos no que a mim próprio diz respeito, pois nem sequer no Posto de Comando, em pleno desenrolar da acção, Vítor Crespo acedeu a responder-me à pergunta que lhe fiz nesse sentido. E a minha surpresa (e satisfação) seria grande ao ver, na noite de 25 de Abril, no Quartel da Pontinha, um capitão-de mar-e guerra de aspecto façanhudo e resoluto e um sorridente e calvo capitão-de-fragata prepararem-se para a assunção das pesadas responsabilidades que a Junta de Salvação Nacional lhes ia carregar em cima dos ombros. Ao menos a Armada, sabidona, não se tinha deixado enlear na habitual conversa mole da preservação da hierarquia apesar de tudo, jogando forte na personalidade dos seus dois representantes!
Ao alinhar nomes para a Junta, o grupo político da Armada manifestara um certo consenso a respeito de Pinheiro de Azevedo e de Rosa Coutinho, este comandante de um navio, a fragata Almirante Pereira da Silva, aquele comandante do Corpo de Fuzileiros.
…Só a caminho do Posto de Comando, onde se me foi juntar pelas 22h30 do dia 24, é que Vítor Crespo, com base no consenso anterior se decide a passar por casa de Rosa Coutinho. Este de nada sabe, Crespo passa-lhe para as mãos os três documentos que leva na pasta: a proclamação do MFA, o protocolo secreto entre o MFA e a Junta e o programa político, que o comandante lê atentamente. Quando termina, sacode os papéis e diz a Vítor Crespo:
– Com isto, ponho o meu navio à vossa disposição!
– Muito obrigado, senhor comandante, mas isso não é preciso porque já está desconcerta-o Vítor Crespo.
– O que lhe venho propor é que faça parte da Junta.
Rosa Coutinho abre a boca de espanto. Estava-se a uma hora apenas do primeiro sinal de rádio através dos Emissores Associados!”
Otelo Saraiva de Carvalho, in “Os Anos de Abril, vol. III, edição Correio da Manhã”