Esta localidade em Portugal sempre exalou glamour, mas a sua história mais fascinante remonta à época da Segunda Guerra Mundial. Num período marcado pelo caos e pela destruição, esta região portuguesa tornou-se uma espécie de playground para a espionagem internacional, atraindo uma miríade de personagens intrigantes e clandestinas a cada uma das suas esquinas.
Durante os anos sombrios do conflito mundial, o Estoril viu-se inundado por uma onda de turismo incomum, impulsionado pela chegada de refugiados abastados e fugitivos políticos procurados. Entre eles, estavam espiões de ambos os lados do conflito, camuflados sob o manto de diplomatas de alto escalão, movendo-se discretamente pelos luxuosos recantos da Costa do Sol.
Neste cenário surreal, o Estoril transformou-se numa espécie de playground para a espionagem internacional, com intrigas, segredos e alianças ocultas em cada esquina. Os seus elegantes hotéis tornaram-se centros de encontro para as mais variadas figuras, enquanto que os casinos se tornaram palcos de planos secretos e negociações obscuras.
O Estoril abrigava um conjunto interminável de hotéis que se tornaram palcos de encontros secretos durante a Segunda Guerra Mundial. O Hotel Atlântico, o Grande Hotel do Monte Estoril e o Hotel do Parque abriram as suas portas a espiões do lado nazista, enquanto os aliados se refugiaram no Grande Hotel de Itália e no emblemático Hotel Palácio, situado no coração do Estoril. Estes estabelecimentos testemunharam dos capítulos mais misteriosos da história, onde espiões se moviam entre os corredores e conspirações se tramavam quando caía a noite, conta-nos o NCultura.
Ian Fleming, escritor e produtor britânico, criador do icónico James Bond, encontrou inspiração e refúgio nas sombras do Estoril enquanto servia no Naval Intelligence Department. Como podemos ver, esta localidade portuguesa não era só palco para espiões, mas também para outras importantes figuras.
Ao lado de Fleming, outra figura enigmática, conhecida pelo pseudónimo “Garbo”, circulava pelos corredores do Estoril, mantendo a sua verdadeira identidade em segredo até 1984, quando foi revelado como Juan Pujol Garcia, agente duplo espanhol da 2ª guerra, que era conhecido como “Garbo” do lado dos aliados, mas do lado nazista era conhecido como “Alaric”. Este habilidoso agente convenceu tanto os serviços secretos alemães quanto os aliados de que estava do seu lado, transmitindo informações falsas para ambos os lados.
Enquanto trabalhava para os britânicos, “Garbo” enganava os alemães com relatos de recrutamento e desembarques de tropas aliadas na Europa. Mas não estava sozinho nas suas artimanhas; outros agentes duplos também percorriam os salões do Estoril. Alguns foram capturados pela Gestapo e levados para campos de concentração, onde enfrentaram o destino que já todos conhecemos.
O histórico Hotel Palácio, no Estoril, teve como hóspede Leslie Howard, conhecido pela sua colaboração com os Aliados. Howard, famoso ator britânico, foi alvo de caças alemães enquanto viajava num avião da BOAC (British Overseas Airways Corporation). Especula-se que a sua atividade como colaborador dos serviços secretos britânicos tenha sido descoberta. Nesse mesmo voo estava Tyrell Shervington, diretor da Shell em Lisboa e também ligado aos serviços secretos britânicos.
Em 1943, Salazar, através de canais britânicos, foi alertado para a presença de redes de espionagem alemãs a operar em solo português, mais concretamente no Estoril. Essas redes representavam ameaça direta à neutralidade do país e à segurança da população. Mas não era apenas o Estoril que servia como cenário de espionagem em Portugal. Outros locais estratégicos, como Lisboa, Madeira e a cidade da Horta nos Açores, também foram palco das operações da chamada “organização Bremen”.
Tal descoberta colocou Portugal em estado de alerta e desencadeou rápidos esforços para desmantelar as operações de espionagem inimiga, de modo a manter essa mesma neutralidade face aos conflitos. Vários agentes da organização Bremen foram identificados, presos e expulsos do país, demonstrando o compromisso de Portugal em manter sua posição de neutralidade durante esse período conturbado da história.
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