Uma recente investigação das universidades de Surrey e Aberdeen revelou como uma mudança de apenas cinco horas no ciclo de sono pode perturbar o relógio biológico e o metabolismo. O estudo, publicado no The Conversation, aprofunda os efeitos da dessincronização circadiana – uma condição em que o ritmo interno do corpo entra em descompasso com os ciclos naturais, como o dia e a noite.
O que é a dessincronização circadiana?
O corpo humano é regulado por relógios biológicos circadianos, responsáveis por funções como o sono e o metabolismo. O relógio central, localizado no cérebro, gere os ciclos diários, enquanto outros relógios periféricos, presentes no fígado, músculos e tecidos adiposos, desempenham papéis essenciais na regulação metabólica.
Quando há um desalinhamento entre os ritmos internos e os estímulos externos – como ocorre em situações de trabalho por turnos ou jet lag –, surge a dessincronização circadiana. Esta condição pode ter efeitos negativos no metabolismo, particularmente no controlo do açúcar no sangue. Contudo, os impactos de desfasamentos mais moderados ainda eram pouco compreendidos.
A experiência: cinco horas de atraso no sono
Para estudar os efeitos de uma dessincronização circadiana moderada, investigadores alteraram o horário de sono de um grupo de participantes, atrasando-o cinco horas. Durante cinco dias, mediram-se níveis de melatonina, marcadores metabólicos no sangue e níveis de alerta e sonolência.
Os participantes – homens e mulheres com cerca de 45 anos, ligeiramente acima do peso médio, mas sem problemas de saúde diagnosticados – tiveram as refeições controladas para eliminar variáveis externas. Os resultados foram esclarecedores.
Impactos no sono e no relógio biológico
De acordo com a Executive Digest, imediatamente após a alteração, os participantes relataram maior sonolência e menor alerta durante a noite, acompanhados por alterações nos níveis de melatonina, sinalizando uma perturbação no relógio biológico central. Apesar de alguma adaptação ao longo dos cinco dias, os ritmos circadianos e a sensação de alerta não recuperaram completamente nesse período.
Efeitos metabólicos: uma recuperação mais rápida
No entanto, os impactos metabólicos mostraram uma recuperação mais célere. Os principais efeitos incluíram:
- Diminuição do gasto energético diário: os participantes queimaram menos calorias ao longo de 24 horas.
- Digestão mais lenta: o esvaziamento do estômago após o pequeno-almoço foi retardado.
- Alterações na regulação do açúcar e das gorduras no sangue.
Curiosamente, os marcadores metabólicos voltaram aos níveis iniciais em apenas três a cinco dias, uma recuperação mais rápida do que a observada no relógio biológico central e na sensação de alerta.
Implicações práticas para trabalhadores por turnos e viajantes
Os resultados deste estudo são particularmente relevantes para pessoas que enfrentam mudanças frequentes no ciclo de sono, como trabalhadores por turnos e viajantes entre fusos horários. Apesar de os efeitos metabólicos parecerem menos severos e mais rápidos de corrigir, a perturbação do sono e do relógio biológico pode ter consequências a longo prazo na saúde.
Recomendações dos especialistas
Os investigadores destacam algumas estratégias eficazes para mitigar os impactos da dessincronização circadiana:
- Exposição à luz no momento adequado: a luz natural é essencial para reajustar o relógio biológico.
- Uso de suplementos de melatonina: pode ajudar, quando tomado em horários alinhados ao novo ciclo.
- Evitar refeições tarde da noite: uma alimentação equilibrada e dentro de horários consistentes minimiza os efeitos no metabolismo.
“Em indivíduos saudáveis, as perturbações metabólicas causadas pela dessincronização circadiana tendem a adaptar-se rapidamente”, afirmaram os autores. Contudo, adotar uma alimentação de qualidade e limitar os horários das refeições são práticas fundamentais para preservar a saúde metabólica.
Este estudo destaca como mudanças aparentemente pequenas, como um atraso de cinco horas no sono, podem ter impactos significativos no corpo humano. A compreensão da interação entre ritmos biológicos e hábitos diários é essencial, especialmente numa sociedade onde o trabalho por turnos e as viagens internacionais se tornaram frequentes. Abordagens personalizadas e informadas são o caminho para minimizar os riscos associados ao desfasamento circadiano.
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