A atriz Maria João Abreu, que sofreu um aneurisma cerebral a 30 de abril, morreu esta quinta-feira, avança a SIC. A artista, de 57 anos, estava internada no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Maria João Abreu foi submetida a intervenções cirúrgicas e esteve em coma induzido.
A televisão foi o meio em que mais trabalhou e que lhe deu maior visibilidade, tendo participado em mais de 60 programas, entre telefilmes, séries e telenovelas.
A atriz foi casada durante vários anos com José Raposo, com quem fundou a produtora Toca dos Raposo em 1998. Nesse mesmo ano nasce uma das personagens mais icónicas: Lucinda, uma empregada doméstica com sotaque nortenho, na série televisiva “Médico de Família”, série que teve três temporadas e 118 episódios. Esteve no ar quase três anos, contando no elenco com atores como Fernando Luís, Henrique Mendes, Ricardo Carriço, Rita Blanco e São José Lapa.
O arranque da sua carreira como atriz profissional remonta, no entanto, a 1983, quando aos 19 anos se estreou no Teatro Maria Matos, no musical “Annie”, de Thomas Meehan, dirigido por Armando Cortez. A este sucederam-se vários outros espetáculos de revista no Parque Mayer, até participar, na Casa da Comédia, em “O Último dos Marialvas”, de Neil Simon, peça estreada em 1991, que lhe daria visibilidade e reconhecimento como atriz de comédia.
No cinema estreou-se em 1999 com o filme “António um rapaz de Lisboa”, de Jorge Silva Melo, seguindo-se depois participações em obras como “Amo-te Teresa”, de Ricardo Espírito Santo e Cristina Boavida, “Telefona-me”, de Frederico Corado, e “A Falha”, de João Mário Grilo. Mais recentemente, participou em filmes como “Call Girl”, de António-Pedro Vasconcelos, “Florbela” de Vicente Alves do Ó, “A Mãe é que Sabe”, de Nuno Rocha, e “Submissão”, de Leonardo António.
A última participação no teatro aconteceu em 2019, quando protagonizou “Sonho de uma noite de verão”, no Tivoli, contracenando com José Raposo, de quem estava já divorciada, e com Miguel Raposo, um dos dois filhos do casal. Era também com o ex-marido que contracenava na série “Patrões fora”, em exibição na SIC. Maria João Abreu desempenhava também o papel da padeira Sãozinha, uma das personagens mais carismáticas da telenovela A Serra, também exibida pela SIC, e em cujas gravações a atriz se sentiu mal antes de ser hospitalizada.
Após 23 anos de casamento com José Raposo (teve dois filhos, Miguel e Ricardo Raposo), o casal separou-se. A atriz casou-se em 2012 com o músico João Soares.
“A MINHA JOÃO PARTIU”: AS REAÇÕES
João Soares, o marido da atriz, escreveu nas redes sociais a seguinte mensagem: “A minha João partiu. Infelizmente, todo o meu amor por ela, todo o amor da família e todo o amor dos amigos não foi suficiente para impedir que esta viagem se iniciasse. Algo ou alguém lá em cima, com muita força… com muita, muita, muita mais força levou-a para junto de si. Acredito que tenha sido porque ela é precisa, é necessária, faz falta lá, ainda mais do que faz falta aqui… e porque não tomaram em conta o que me faz falta a mim”, pode ler-se.
E conclui: “Para onde vai, vai fazer aquilo que sempre fez: cuidar! Agora pode fazê-lo sempre. A todos. O meu Anjo ganhou asas. A minha João partiu. Até já, meu amor. Cuidarei dos nossos. Estaremos juntos quando assim acontecer. Espera-me.
Teu. Sempre teu”.
Daniel Oliveira, diretor de programas da SIC, esteve hoje no Primeiro Jornal da SIC e definiu Maria João Abreu como “uma artista completa”, afirmando que esta deixa um “legado de talento e boa energia”. E acrescentou: “Tinha a capacidade de contagiar os outros à sua volta com uma energia muito positiva, em qualquer dos trabalhos que tivesse”.
O cineasta Antonio-Pedro Vasconcelos falou sobre a atriz, esta tarde, num jornal da SIC: “Vou recordá-la para sempre. Ela fez um filme comigo, portanto posso sempre que quiser ver o filme e lembrar-me dela. Infelizmente não tive oportunidade de fazer mais filmes com ela. É uma notícia terrível, qualquer pessoa que morre é uma injustiça, mas no caso dela é maior ainda porque tinha muitos anos para dar”.
E continuou: “É verdade que estávamos, nos últimos dias, preparados para o pior, mas é sempre um choque terrível. Tive oportunidade de trabalhar diretamente com ela no filme ‘Call Girl’ e foi uma experiência absolutamente fantástica. Era uma atriz que podia fazer tudo. A meu ver, tem a ver com uma coisa que sempre defendi e que sempre comprovei nos meus filmes: a revista é a maior escola de atores que há. Um ator que faz revista e comédia pode fazer tudo”.
Também em declarações à SIC, o ator Carlos Avilez lembrou Maria João Abreu: “Era uma grande colega, uma mulher preocupada com as pessoas, era adorável. É uma perda incrível, uma coisa absolutamente absurda”, começou por dizer. E acrescentou: “Quero dizer que morreu uma grande atriz, era uma mulher maravilhosa. Era muito querida dos atores, os colegas gostavam muito dela. Merece o nosso maior respeito. Fiquei muito impressionado. Morreu uma mulher extraordinária”.
A atriz São José Lapa participou igualmente neste movimento de memória coletiva sobre uma mulher que “era uma menina queridíssima, sempre bem disposta, com boa onda para os mais velhos”. E acrescentou: “Trabalhei com ela no ‘Médico de Família’. Acho que nunca mais nos encontrámos. É tristíssimo, é tristíssimo. Um abraço aos filhos, um abraço ao [José] Raposo”.
Em declarações à Rádio Renascença, Ruy de Carvalho desfez-se em elogios a Maria João Abreu: “É com profunda tristeza que soube agora a notícia. Perde-se mais uma grande atriz, uma grande mulher e uma grandessíssima colega”. É uma notícia que se traduz numa “grande perda para o teatro e para o espetáculo em Portugal”, garante. E reforçou: “Contracenei com ela e adorava contracenar com ela, porque era uma grande profissional. É com muita tristeza que me despeço”.
Fernanda Serrano, atriz e apresentador de televisão, escreveu o seguinte as redes sociais: “Há coisas que não se entendem. Esta é uma delas! Que continues a ser uma luz bonita como sempre foste. Nunca tive o privilégio de trabalharmos juntas… assim não aconteceu! Paz no teu descanso”.
“A talentosa e multifacetada Maria João Abreu partiu”, escreveu o ator Diogo Infante no Instagram. “Nada nos prepara para uma perda destas, súbita, injusta e precoce. A toda a família um forte abraço de coragem. À Maria João, o nosso eterno obrigado por tudo o que nos deu!”
Na mesma rede social, a apresentadora Teresa Guilherme deixou algumas palavras para a atriz: “Que tristeza a partida da Maria João Abreu. Uma atriz fantástica, uma mãe maravilhosa, uma grande mulher. Descansa em paz. Todos já sentimos muitas saudades tuas. Beijo grande para toda a família. Grande tristeza”.
Felipe La Féria, encenador, recordou na SIC uma mulher “temperamental” e que queria sempre aprender e melhorar. “Ela tocava todos os géneros. Era uma comediante e, para além disso, uma atriz dramática. Tinha um enorme talento e era uma enorme profissional. Recordo-a com muita saudade. A Maria João estará sempre comigo, obrigado…”
E prosseguiu: “Era uma mulher temperamental, mas com um desejo sempre de ser cada vez melhor, de beber mais, de aperfeiçoar o seu trabalho. Admirava-a muito por isso. Não só no teatro como na televisão, ela pretendia sempre ser cada vez melhor. Teve uma carreira brilhante que deixa muita saudade a todos os colegas, a todos os que trabalharam com ela e sobretudo aos familiares”.
Jessica Athayde, numa publicação igualmente no Instagram, foi mais sintética: Não há palavras… O meu amor todo para a família”.
AS PALAVRAS DO PRESIDENTE MARCELO LEMBRANDO A ATRIZ MARIA JOÃO ABREU
O humor, a emoção e a empatia ligam-nos aos outros, até aos outros que não conhecemos, como é o caso dos atores e das atrizes.
Maria João Abreu, que nos deixou precocemente, escolheu essa abordagem, talvez por ser a abordagem que lhe era mais natural: a comédia, a projeção dos nossos afetos e dos nossos problemas, a proximidade humana.
A sua carreira como atriz de revista e como produtora, ao lado de José Raposo, bem como outras participações teatrais (com Filipe La Féria, João Lourenço e José Fonseca e Costa), mas sobretudo o seu intenso currículo em televisão (novelas, séries, programas de entretenimento e de comédia) tornaram-na uma figura que representava para muitos portugueses a familiaridade de quem está connosco porque se parece connosco.
À sua Família apresento, comovido, as minhas sentidas condolências.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso