Estamos no início de um Novo Ano, paira no ar um indisfarçável pessimismo sobre o futuro da União Europeia, é, por isso, tempo de refletir sobre os cenários que, tendo em conta a informação disponível, possam revestir-se de alguma verosimilhança. Trago aqui à reflexão quatro cenários possíveis para 2025, apenas alguns dias antes da tomada de posse do presidente eleito Donald Trump.
Cenário I: O Ano Horribilis, uma economia de guerra na União Europeia
2025 é o ano das três guerras. A terceira guerra pode eclodir a qualquer momento na região do Indo-Pacífico, seja entre as duas Coreias, a Coreia do Norte e o Japão, a China e Taiwan, a China e os seus vizinhos no que diz respeito à soberania dos mares do sul da China. Mas outras guerras podem, igualmente, eclodir no Médio Oriente e na margem sul do Mediterrâneo. Entretanto, aumenta a pressão da China sobre Taiwan, como manifestação de retaliação e poder territorial face à política norte-americana de protecionismo comercial e tecnológico, uma vez que Taiwan é um fornecedor importante de microchips e semicondutores para a economia americana e ocidental.
O Presidente do Conselho Europeu convoca de emergência o Conselho para debater os próximos passos da política de segurança e defesa e as medidas de urgência aplicáveis. As divisões políticas e o número de Estados relutantes aumentam na União Europeia. Um cenário com probabilidade média-baixa.
Cenário 2: O Ano da Paz Congelada Ucraniana
2025 é um ano de esperança política congelada. Anunciam-se as negociações de cessar-fogo na Ucrânia e no Médio Oriente. Não é, ainda, um acordo de paz, mas mais um primeiro passo para uma trégua ou cessar-fogo. Para condicionar e impedir a convergência geoestratégica entre a Rússia e a China, há sinais de que a presidência americana vai promover uma paz à custa da Ucrânia e com encargos acrescidos para a União Europeia no que diz respeito à interposição de forças de paz e segurança na Ucrânia e à reconstrução do território ucraniano. Em cima da mesa de negociações estão os pacotes de sanções à Federação Russa, as condições de adesão da Ucrânia à Nato e União Europeia, o estatuto político transitório dos territórios ocupados, as garantias de segurança territorial oferecidas à Ucrânia, um pacote de ajudas de pré-adesão à reconstrução da Ucrânia, uma nova política de vizinhança entre a Federação Russa e a União Europeia. Um cenário com probabilidade média-alta.
Cenário 3: O Ano da balcanização europeia e do retrocesso intergovernamental
As guerras continuam na Ucrânia e no Médio Oriente. A política transatlântica entre a EU e os EUA já conheceu melhores dias, assim como a relação multilateral com a China. A tensão geoestratégica e geopolítica é elevada. Não há acordo quanto à política de segurança e defesa europeia e as tensões internas agravam a balcanização europeia. A instabilidade governativa e a crise no diretório franco-alemão não facilitam as transações políticas no seio da União. A economia europeia marca passo. O multilateralismo global e o institucionalismo europeu cedem lugar às diligências intergovernamentais e bilaterais. Um cenário com probabilidade média-alta.
Cenário 4: O Ano do Plano Draghi, uma nova política europeia para 2030
O Ano do Plano Draghi só será uma realidade se estiverem reunidas duas condições, a saber, um acordo político suficiente entre os Estados membros para mobilizar e emitir sob a forma de dívida conjunta uma parte substancial dos 750/800 mil milhões propostos no Relatório Draghi e, por outro lado, um acordo político com a Federação Russa para um cessar-fogo que permita iniciar um período de negociações e, ao mesmo tempo, lançar um programa de reconstrução para a Ucrânia. A guerra fica congelada durante algum tempo, as negociações com a Federação Russa começam, todos precisam de um compasso de espera para resolver problemas internos. Um acordo político mínimo obtido pelo Conselho Europeu permite lançar, ainda em 2025, uma versão reduzida do Plano Draghi. Um cenário com probabilidade média-baixa.
Em qualquer dos cenários, a União Europeia deve evitar que a sua relação bilateral e multilateral com a China seja descontinuada e que a Rússia e a China formem uma frente comum antiocidental. Ora, esta descontinuação sino-europeia é indissociável do que acontecer nos próximos meses na fronteira leste europeia. Um acordo de cessar-fogo na Ucrânia é, portanto, fundamental para serenar os ânimos. No mesmo sentido, é essencial impedir que a guerra não regresse ao Indo-Pacífico e que os proxies dos EUA e da China não sejam as próximas vítimas de uma nova guerra global.
Nota Final
Este início de 2025 (escrevo no dia 9 de janeiro) é deveras inquietante. Voltámos, em força, ao tempo da propaganda ofensiva. A maioria dos sinais indica-nos que a força da lei cede território à lei da força. As regras, as instituições, o multilateralismo, a integridade territorial, os direitos humanos, vivem tempos conturbados. Aos problemas com a saúde do planeta, junta-se, agora, a saúde mental dos humanos, a crise das instituições (em ano de Prémio Nobel da Economia às instituições) e agora, também, a ingerência dos tecnoplutocratas na vida político-institucional. Entretanto, a União Europeia parece viver uma crise existencial, tempos de melancolia e entorpecimento, em compasso de espera, enquanto aguarda que o institucionalismo europeu tire da cartola um passe de mágica, talvez, quem sabe, imaginado pelo Presidente do Conselho Europeu.
Artigo publicado no Observador.
Leia também: O trumpismo e a constelação europeia | Por António Covas
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