O projecto da nova centralidade para Faro (ver notícia) assenta em algumas pedras fundamentais, desde logo o pólo universitário e a zona turística a criar na zona do cais comercial, mas de todas elas a mais importante por ser absolutamente central ao projecto visto como um todo é a construção de uma marina .
Trata-se de uma infra-estrutura desenvolvida em duas bacias situadas a Sul do actual cais comercial de Faro (frente do cais, virada para o canal de Faro) e a Norte do mesmo (na zona interior do cais, virada para a cidade).
Como serão estruturadas as duas bacias da nova marina
De acordo com o projecto apresentado hoje em Faro, a bacia Sul da marina terá um área de espelho de água de 8,1 hectares (81 mil metros quadrados), destinada a embarcações de médio e grande porte.
Esta bacia é limitada a Sul por um quebra-mar flutuante em forma de meia oval, acompanhando o perfil da actual estrada de acesso ao porto, e a Norte pelo tronco central da área urbana do projecto que inclui entre outras infra-estruturas o centro de congressos, zona comercial, o centro náutico e um hotel.
A bacia Norte, limitada a Sul pelo referido tronco central do projecto, desenvolve-se em forma de meia-lua sendo limitada a Norte pela área destinada às incubadoras de empresas associadas ao CCMAR e às instalações da Universidade do Algarve reservadas aos cursos de especialização na área do mar.
Os extremos nascente e poente desta bacia – que soma 1,3 hectares (13 mil metros quadrados) e se destina a embarcações de pequeno porte, a actividades marítimo turísticas e de aprendizagem ligadas aos desportos náuticos – são ocupados por hotéis.
440 novas amarrações para barcos na única marina entre Vilamoura e Espanha
As duas bacias juntas pretendem criar uma marina com 440 novas amarrações para barcos, um equipamento que dotaria a cidade de Faro de uma oferta excepcional para a náutica e para o turismo que lhe está associado.
A infra-estrutura teria em termos de lugares de acostagem cerca de metade da capacidade da Marina de Vilamoura e passaria a ser a única marina, a partir de Vilamoura e até Espanha, com características capazes de assegurar o atraque de embarcações de todos os tipos de envergadura no que respeita a barcos de recreio.
“Esta é uma oferta de que a região carece”, disse Desidério Silva em declarações ao POSTAL, acrescentando que “quando sabemos que as marinas do Algarve têm taxas de ocupação elevadas mesmo em época baixa, há que criar condições que permitam a criação de novas ofertas neste âmbito”
O presidente da Região de Turismo do Algarves não deixa, no entanto, de salvaguardar que “a criação deste equipamento nos termos deste projecto terá sempre de passar pela sua viabilidade do ponto de vista ambiental”.
Mega iates vão poder atracar em Faro
De acordo com Lucília Luís, da empresa Consulmar, dedicada a projectos de engenharia e com uma vasta experiência na área das marinas e portos, o quebra-mar exterior da marina desempenhará a dupla função de além abrigar as embarcações de menor porte dos efeitos das correntes e da agitação marítima, servir de ancoradouro para os chamados mega iates.
Os mega iates são embarcações cujo comprimento – de fora a fora – pode facilmente atingir e ultrapassar os 70 metros de comprimento. Para que se perceba a dimensão destes navios, a Marina de Vilamoura – que é uma referência a nível nacional e internacional – tem capacidade para acolher barcos até 40 metros.
CCMAR vai contar com um porto de atraque exclusivo
Ainda no âmbito das infra-estruturas marítimas o projecto cria uma zona de atraque privativa para o Centro das Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, destinada aos barcos de investigação científica.
A localização deste equipamento fica em torno do edifício destinado ao CCMAR e ao aquário e terá uma área de meio hectar (cinco mil metros quadrados).
Zona de reparação para embarcações
Para apoio às embarcações e “pequenas reparações” nas mesmas, o arquitecto Pedro Vaz que desenhou o projecto, previu no extremo poente do projecto, junto à zona de entrada da marina, uma área de reparação naval.
Este é provavelmente um dos ‘defeitos’ que ressalta à primeira vista no projecto da infra-estrutura turístico-marítima. Ao reduzir as intervenções da área de reparação naval a “pequenas intervenções”, o que afasta desde logo a possibilidade de existência de um estaleiro com, nomeadamente, condições de acolhimento para embarcações em seco, a marina ficaria ‘coxa’ já que não poderia oferecer um dos equipamentos fundamentais deste tipo de infra-estruturas.
Acresce que a área reservada no projecto para as reparações não parece ser suficiente para colher um equipamento de recolha em seco e de reparação condizente com o tamanho da infra-estrutura marítima que lhe está associada.
A construção da marina
A marina contaria, sem necessidade de trabalhos de dragagem, segundo Lucília Luís, de um canal de acesso (canal de Faro) de “generosas proporções”.
“O actual canal de acesso à zona a intervencionar dispõe de capacidade para acolher navios até 120 metros de comprimento e com calados entre os 6,4 e os 6,5 metros”, refere a especialista.
Por outro lado, continua, “as bacias de manobra existentes são mais do que suficientes para responder às necessidades da marina, quer em termos de extensão, quer em termos de profundidade”.
Razões que estão na base, diz Lucília Luís, da desnecessidade de dragagens para a construção da bacia Sul e de uma muito baixa necessidade de dragagens para manutenção da acessibilidade (canal) da infra-estrutura no futuro.
Já no que toca à bacia Norte terão de ser realizadas escavações e dragagens no aterro que hoje existe como base do cais comercial para que nasça esta parte da marina.
Ainda no que respeita a movimentação de terras e sedimentos, a criação do porto destinado ao CCMAR a zona terá de sofrer dragagens que, são consideradas pela especialista como “pouco relevantes”, para que a obra possa ser executada.
Já a construção física da marina não será uma obra de grande envergadura quanto a estruturas fixas e pesadas, optando-se antes por estruturas flutuantes, quer no quebra-mar flutuante, quer nos fingers (ilhas de amarração das embarcações) também eles flutuantes e sustentados em estacas.
Esta opção, termina a especialista, “torna o projecto da marina mais económico, de mais fácil execução e de menor impacto ambiental”, uma pedra angular para que todo o projecto possa ser uma realidade.
Sobre este projecto ver ainda: