O presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, disse esta terça-feira à Lusa considerar “lamentável” o primeiro-ministro ter ignorado a autarquia na preparação da cerimónia de atribuição ao Aeroporto de Faro da denominação oficial Aeroporto Gago Coutinho.
A cerimónia, marcada para quarta-feira, coincide com o Dia do Município de Faro, durante o qual está previsto um vasto programa de comemorações com individualidades que agora foram convocadas para estar à mesma hora no evento com a presença de António Costa.
“Acho lamentável que o senhor primeiro-ministro promova as cerimónias da Independência do Brasil e dos seus 200 anos em Faro e que não haja ninguém do seu gabinete que entre em contacto com o presidente da Câmara […] para lhe comunicar, para lhe dar a conhecer e, neste caso, tendo em conta que é o Dia da cidade […], para articular tudo isso”, disse Rogério Bacalhau à agência Lusa.
O autarca refere que se trata de “um incómodo para toda a gente” e deu como exemplo o caso do Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, almirante Henrique Gouveia e Melo, a quem vai ser outorgado a Chave de Honra da Cidade de Faro, e ainda do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, José Apolinário, que vai receber uma distinção na sua qualidade de ex-presidente da capital algarvia.
“Eu se for a um concelho vizinho a alguma cerimónia telefono ao presidente da câmara e digo-lhe que lá vou. O primeiro-ministro, pelos vistos, não tem esse hábito, mas se calhar é bom que passe a ter, para evitar este tipo de constrangimentos”, sublinhou Rogério Bacalhau.
Num ofício enviado a 01 de setembro a António Costa, a que a Lusa teve acesso, o presidente da Câmara de Faro já tinha manifestado o seu “descontentamento e tristeza” pela forma como foi agendada a cerimónia de atribuição ao Aeroporto Internacional de Faro da nova denominação oficial.
“Não podemos, pois, deixar de lamentar a infeliz coincidência, que prejudica ambas as celebrações”, afirma Rogério Bacalhau, acrescentando que espera que haja “abertura para que se possa resolver este problema”.
Na mesma missiva, o presidente da autarquia algarvia também critica a “tendência de obliterar o nome de Faro da nomenclatura oficial [do aeroporto] do Algarve, ao arrepio da vontade dos farenses”.
Em meados de junho, a Assembleia Municipal de Faro aprovou por maioria, apenas com os votos contra do PS, um voto de protesto contra a saída do topónimo “Faro” da designação oficial desta infraestrutura.
Aeroporto de Faro recebe a nova denominação de Aeroporto Gago Coutinho
O Aeroporto de Faro recebe a nova denominação de Aeroporto Gago Coutinho numa cerimónia que tem lugar na quarta-feira às 10:30 e que conta com a presença de António Costa.
No mesmo dia, às 10:15, tem lugar no Teatro das Figuras de Faro a sessão solene no quadro das comemorações do dia do concelho, que ficará marcada por homenagens a funcionários, bem como personalidades e entidades coletivas que marcaram e marcam o percurso do município.
Na cerimónia de mudança de nome do aeroporto, o Governo pretende prestar homenagem ao almirante Gago Coutinho, natural de São Brás de Alportel, quando se assinala o centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, que é considerada uma das maiores proezas da história da navegação aérea.
A proposta, aprovada em várias assembleias municipais de autarquias do Algarve, surgiu de um movimento de cidadãos que considerava que a estrutura, inaugurada em 1965, deveria ter o nome do almirante.
Em fevereiro de 2020, a Assembleia Municipal de São Brás de Alportel, de onde a família do antigo oficial da Marinha é natural, aprovou por unanimidade uma moção na defesa da atribuição do seu nome ao Aeroporto Internacional de Faro.
A esta moção, dirigida ao primeiro-ministro, ministro das Infraestruturas e da Habitação e ao diretor do Aeroporto de Faro, seguiram-se outras de várias autarquias do Algarve.
Nascido em 1869, Carlos Viegas Gago Coutinho foi nomeado diretor honorário da Academia Naval portuguesa em 1926, e distinguido como piloto aviador, tendo-se retirado da vida militar em 1939.
Viria a morrer em 1959, tendo ficado conhecido internacionalmente pela primeira travessia aérea do Atlântico Sul, que ligou Lisboa ao Rio de Janeiro, no Brasil.