A ausência de público “muda radicalmente o sentimento” do Grande Prémio de Portugal de motociclismo de velocidade MotoGP, sem “interferir” no rendimento de Miguel Oliveira (KTM), defendeu hoje o treinador Miguel Praia.
“Não terá o carinho e o afeto dos adeptos, mas as transmissões televisivas e as redes sociais farão essa ponte à distância. Ao correr em casa, num circuito que conhece muito bem e do qual é parceiro, o Miguel vê aqui uma oportunidade excelente de garantir o segundo triunfo. Ele não esconde esse objetivo”, frisou à Lusa o ex-piloto português.
Portugal acolhe a 14.ª e última corrida do campeonato do mundo de MotoGP de 2020 entre sexta-feira e domingo, no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), em Portimão, oito anos após a última passagem da categoria rainha pelo Estoril, estando inserido num calendário reformulado devido à pandemia de covid-19, ainda que sem assistência.
“O rendimento dos pilotos de todo é influenciado pela presença do público. O Miguel iria sentir nas primeiras voltas o calor e o ruído dos adeptos a puxarem por ele, mas, como atleta de alta competição, tem obviamente uma enorme capacidade de se abstrair de qualquer distração externa quando está totalmente focado na condução”, considerou.
Adeptos à parte, Miguel Praia, que evoluiu sete épocas nos Mundiais de Supersport e Superbikes, nota que “a motivação continuará a existir” para Miguel Oliveira impor-se num “traçado único, difícil e desafiante”, cuja experiência obtida por alguns pilotos noutras provas e nos testes oficiais de MotoGP em outubro “pode fazer toda a diferença”.
“Tirando Bradley Smith e Aleix Espargaró, da Aprilia, nenhum outro piloto titular de MotoGP rodou com as suas motos de competição, apenas com motos de produção normal. Miguel Oliveira, Cal Crutchlow, Danilo Petrucci, Fabio Quartararo e Franco Morbidelli já correram aqui em diferentes categorias e podem capitalizar isso”, lembrou.
A “pouquíssima informação” sobre uma pista que “demora muito tempo para aprender, enquadrar e afinar” favorece surpresas, no encalço de quatro meses marcados pela desistência do hexacampeão Marc Márquez (Honda), que “abriu uma janela” para nove vencedores distintos em 13 etapas, culminando no título inédito de Joan Mir (Suzuki).
“Independentemente das condições atípicas que vivemos, não há campeões injustos. O Joan teve todo o mérito pela consistência na segunda fase da época e aproveitou um campeonato completamente revisto. Isso fez com que não fossem visitados alguns circuitos, que poderiam não ser tão favoráveis à Suzuki e a outras motos”, analisou.
No balanço de uma época convertida numa “total caixinha de surpresas”, Miguel Praia recorda as “dificuldades técnicas” e a “inconsistência em diferentes circuitos” reveladas pelo pneu traseiro da fabricante Michelin, bem como a variação climatérica decorrente da visita a alguns países em “meses totalmente diferentes do inicialmente previsto”.
“A Honda passou de marca com mais triunfos para a única, a par da Aprilia, que não deverá vencer este ano. Haver quatro fabricantes a ganharem corridas prova que o regulamento está muito bem feito e equilibrado. O MotoGP é um campeonato completamente em aberto e contrasta com a Fórmula 1 neste sentido”, comparou.
O ex-piloto enaltece o “trabalho meritório” da promotora Dorna com os 11 construtores, visando um “produto competitivo e aliciante do ponto de vista televisivo”, assente numa “distribuição equilibrada de receitas” e num “grande salto qualitativo”, como expressa a decisão dos títulos dos campeonatos de Moto2 e Moto3 no Grande Prémio de Portugal.
“Neste momento, temos pilotos das mais diferentes nacionalidades como protagonistas. O campeonato é muito global, com três categorias muito bem feitas e, enquanto produto em si, corresponde àquilo que as pessoas querem: sentar-se ao domingo em frente à televisão e não saberem quem vai vencer”, valorizou.
À frente do Departamento de Eventos e da Racing School do AIA, Miguel Praia antecipa um “momento histórico” para todo o país e o próprio Algarve, repleto de “emoções fortes” numa das “regiões mais assoladas pelas dificuldades do turismo em ano pandémico”, sob o “sabor amargo” da ausência de público, que “entristece toda uma organização”.
“Qualquer circuito do mundo sonha e trabalha para receber o MotoGP. A hipótese de ter um piloto português a vencer é um extra enorme. Apesar do contexto, estamos focados em realizar um excelente Grande Prémio, para que o calendário inclua o nosso recinto já em 2021 e possamos incluir todos os portugueses nesta tremenda festa”, afiançou.