Milhares de turistas rumam todos os anos na Semana Santa a Tavira, a cidade com mais igrejas no Algarve, na sua maioria espanhóis, que aproveitam para visitar os vários templos desta antiga povoação situada nas margens do rio Gilão.
Ao todo, a cidade de Tavira tem 21 igrejas, número que se explica pelas diversas ordens religiosas que ali se foram instalando, sendo que 14 são da responsabilidade da Paróquia de Tavira, havendo ainda outras património da Santa Casa da Misericórdia, da autarquia e ainda de irmandades e ordens terceiras.
Na pequena Igreja da Misericórdia, conhecida pelos seus painéis de azulejos, um casal escandinavo conta à Lusa como se sente impressionado com a fé dos povos do sul da Europa, em nada comparável ao que acontece nos países nórdicos, e como se têm sentido tocados pelas manifestações religiosas a que têm assistido.
Nascida e criada na Islândia, mas a viver na Suécia, Sigrún Proppé relata que apesar de os rituais católicos no seu país de origem serem os mesmos, lá é tudo muito mais simples, descrevendo as procissões a que assistiu no sul de Espanha e no Algarve como algo incrível.
“Isso é algo que realmente gosto aqui, porque a religião é ter alguma coisa em que acreditar, é para ter fé em algo. E eu consigo ver a fé das pessoas, quando elas andam nas procissões. É um teatro, é um cenário, mas as pessoas dão a sua alma neste cenário e isso é algo que eu realmente adoro”, relatou.
Recém-chegado de Málaga, no sul de Espanha, com a mulher, onde assistiram a procissões antes de visitar Tavira, também o sueco Ronnie Klingberg se confessou extasiado: “Dos mais jovens aos mais velhos, veem-se gerações completas, famílias inteiras a participar. É incrível, muito interessante”.
Frente à Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo, atualmente a beneficiar de obras de restauro, um casal de Tarragona, em Espanha, conta como está impressionado com a beleza de Tavira, uma cidade “muito bonita, muito limpa e ordenada”, onde planeiam visitar várias igrejas.
“Ontem estivemos em Faro e há muito menos espanhóis do que aqui”, refere a mulher, enquanto não param de chegar grupos de dezenas de turistas, acompanhados por guias, sobretudo espanhóis, que descem de autocarros para visitar a cidade, embora também se oiça falar francês e inglês.
Vinda de Barcelona, num desses grupos, Solé Andiñach conta, também em frente à igreja matriz, estar a “gostar muitíssimo” de Tavira, tendo já estado em Portugal duas vezes, mas, pela primeira vez nesta cidade algarvia: “Tinham-me dito que era muito bonita e viemos visitá-la”.
Segundo Diogo Sousa, técnico de Património da Artgilão, empresa criada pelas igrejas de Tavira para recuperar, salvaguardar e dinamizar o património religioso, os principais visitantes são mesmo os espanhóis, seguidos dos ingleses, franceses, embora haja também italianos, alemães e até alguns canadianos.
Para promover as visitas às principais igrejas da cidade, foi criado o cartão das igrejas de Tavira, que permite visitar cinco igrejas e que está agora a ser modernizado com a disponibilização de um código QR que direcionará o visitante para um ‘site’ onde acede a toda a informação de cada templo, em várias línguas.
“Os cartões das igrejas de Tavira são uma mais-valia para as nossas igrejas, porque são um chamariz para que as pessoas as venham visitar, não só os turistas, os estrangeiros, mas também os próprios tavirenses, que não pagam, mas que podem adquirir o cartão e ter acesso às igrejas”, referiu o técnico.
Diogo Sousa ressalvou que os residentes não pagam as entradas nas igrejas, a não ser que pretendam fazer visitas de caráter cultural, assim como qualquer pessoa que pretenda rezar ou acender uma vela num dos templos da cidade.
A ideia de criar o cartão partiu da responsável pelo gabinete de Património e Cultura da Misericórdia de Tavira, Alexandra Rufino, que, em conjunto com Miguel Lopes Neto, pároco de Tavira, avançou com o projeto no terreno em 2019, apesar de logo no ano seguinte a pandemia de covid-19 ter obrigado à suspensão das visitas.
Existem dois cartões, ambos válidos por 48 horas: o da zona histórica tem um custo de sete euros, abrangendo a Igreja de Santa Maria, a Igreja da Misericórdia e a Igreja de Santiago, e outro de 10 euros que abrange estas igrejas e ainda a de São José e a de São Paulo, que ficam noutra zona da cidade, explicou.
De acordo com o padre Miguel Lopes Neto, a verba proveniente das entradas nas igrejas reverte para a beneficiação dos templos e restauro de peças de arte sacra, verba que garante obras de beneficiação numa cidade em que o património das paróquias é tão vasto, assim como para os salários dos funcionários.
“Nós neste momento temos uma técnica de restauro que nos assegura que todos os restauros e todas as obras feitas nas igrejas são de acordo com a preservação do património, para termos a garantia de que estamos a fazer tudo bem”, concluiu o pároco de Tavira.