Da quase extinção ao florescimento da espécie em Portugal e Espanha, o lince ibérico é hoje uma das espécies que beneficiou de projetos de conservação bem sucedidos. Por isso, no dia em que o mundo celebra a Vida Selvagem, a ONU escolheu o lince ibérico como um dos protagonistas de projetos de conservação bem sucedidos e do lema “Recuperar espécies-chave para restaurar os ecossistemas”.
A comunicação desta distinção foi feita esta quinta-feira pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, orgulhoso do trabalho que desenvolveu na última década pela recuperação desta espécie emblemática. “A imagem do lince ibérico está presente num dos posters oficiais preparados pela ONU para promover a defesa da vida selvagem, servindo como um exemplo concreto de uma ação de sucesso”, indica o ICNF em comunicado, recordando que “há 20 anos só existiam 94 linces ibéricos”, mas “um programa de recuperação permitiu que o número de linces ibéricos subisse para mais de 1.100, mostrando assim o poder da conservação” na natureza.
No início deste século, o lince ibérico chegou a ser considerado a espécie de felino mais ameaçada do mundo, mas vários projetos LIFE (entre os quais Iberlince e o Lynxconnect”) desenvolvidos em parceria entre Portugal e Espanha permitiram que a população ibérica chegasse aos mais de mil indivíduos, dos quais 209 vivem em território português.
Por cá o processo de reintrodução de linces em meio selvagem iniciou-se em 2014, cinco anos após ter começado o projeto de reprodução em cativeiro no Centro Nacional de Reprodução (CNRLI), em Silves. Jacarandá e Katmandu foram o primeiro casal a ser solto numa propriedade em Mértola, no Vale do Guadiana (Alentejo). Desde então, entre exemplares reintroduzidos e nascimentos, somam-se duas centenas de exemplares em liberdade entre Serpa e Tavira.
A última solta aconteceu há uma semana (24 de fevereiro) em Alcoutim. Sismo e Senegal, um macho e uma fêmea, nascidos no Centro de Reprodução em Cativeiro de El Acebuche (Andaluzia) são os novos habitantes da serra algarvia, que já contava com cerca de 20 exemplares.
Só no ano passado nasceram em Portugal 70 novas crias, mais 10 do que em 2020, e nove no Algarve. Para o ICNF, “a consolidação da população em território algarvio é um dos aspetos mais relevantes de 2021”. Os próximos passos do projeto de conservação passam por “reforçar a ligação entre as várias populações de linces e valorizar o ecossistema mediterrânico, melhorando a qualidade do habitat e a abundância de presas”.
Celebrar as maravilhas da natureza
Sublinhado “a oportunidade de celebrar as maravilhas do mundo selvagem”, o secretário-geral da ONU António Guterres, aproveitou no seu discurso para “chamar a atenção para a multitude de benefícios da conservação da natureza para as pessoas”, uma vez que a humanidade depende dos produtos e serviços que a natureza nos dá, como alimentos, água ou sequestro de carbono. E frisou: “Ao danificarmos a natureza, ameaçamos o nosso bem estar”.
Cerca de um quarto das espécies selvagens encontram-se em risco de extinção, em parte porque a espécie humana já destruiu metade dos seus habitats. Só a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza, identifica 8400 as espécies da fauna e flora como “Criticamente em Perigo” e perto de 30.000 “Em Perigo ou Vulnerável”. Partindo destes números, lembra o ICNF, “estima-se que mais de um milhão de espécies estejam ameaçadas de extinção”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL