Mais de duas dezenas de elementos das forças de segurança iniciaram esta terça-feira uma vigília de protesto por melhores condições salariais, no Algarve, junto ao Centro de Cooperação Policial e Aduaneira de Castro Marim.
O grupo tem previsto passar a noite ao lado do centro policial transfronteiriço luso-espanhol, localizado na margem portuguesa do rio Guadiana, junto à ponte internacional que liga o Algarve à Andaluzia (Espanha), onde prepararam um fogareiro para cozinharem e alimentarem-se durante a noite, apesar do vento e da chuva incessante que se fazia sentir no local ao final da tarde, constatou a Lusa.
Entre os elementos presentes estava Luís Matos, da Associação dos Profissionais da Guarda (APG-GNR), que disse à Lusa estar prevista a participação de um número indeterminado de militares da GNR, agentes da PSP e integrantes da Guarda Prisional, uma vez que alguns deixarão o protesto para ir trabalhar e outros tomarão parte do mesmo quando terminarem os turnos.
“Temos previsto juntar o máximo de militares, agentes e elementos da Guarda Prisional para que o Governo e população em geral possam ver que estamos desmotivados e estamos fartos de ser desconsiderados”, afirmou o representante da APG-GNR.
A mesma fonte frisou que os integrantes do protesto, um dos que se têm realizado no país nos últimos dias, “não estão contra a Polícia Judiciária [PJ] receber o suplemento” remuneratório por risco, “querem é ser tratados de forma igual”.
“Somos a primeira linha, a primeira força de intervenção num dos pilares basilares que é a Segurança e não vamos arredar pé dos protestos, não vamos dar parte fraco e vamos manter os protestos até sermos ouvidos”, assegurou.
Luís Matos deu o exemplo de um militar da GNR em início de carreira, assegurando que “a motivação é pouca” porque recebe “um ordenado de 998 ou 1.050 euros por mês” e pode ser colocado numa zona fora da sua área de residência.
“Muitos de nós temos famílias, estamos deslocados e ao estarmos deslocados temos contas para pagar em dois lados e o que recebemos não chega”, afirmou, sublinhando que, quem está longe de casa, “gasta metade do ordenado numa casa ou um terço num quarto” e fica numa situação complicada para chegar ao final do mês.
Um dos militares presentes, que pediu anonimato, disse à Lusa que os elementos da PSP, da GNR e da Guarda Prisional não estão contra as melhorias retributivas concedidas à Polícia Judiciária, apenas “querem ser tratados de forma igual”.
“Quando entrei na corporação, um GNR em início de carreira recebia 600 euros, que era mais ou menos o dobro do ordenado mínimo. Hoje, o ordenado mínimo está nos 820 euros e o vencimento de um colega em início de carreira não chega ao dobro disso”, disse, lamentando que haja “uma perda real do poder de compra”.
Outro dos participantes no protesto, que também não quis ser identificado, disse à Lusa que tem um salário na ordem dos 1.400 euros, com cerca de 30 anos de serviço, e só de casa paga 800, o que “torna complicado chegar ao final do mês” com o salário atual.
“Com um descendente a cargo, com água, luz e gás, telefone, internet para pagar, é difícil chegar ao final do mês”, acrescentou, considerando que as condições dos profissionais das forças de segurança têm piorado e a atribuição do suplemento atribuído à PJ foi “a gota de água” que levou os elementos das outras forças de segurança para os protestos.
Há também “veículos sem condições para circular, deslocações que são feitas para longe consoante as necessidades de serviço, serviços gratificados que são pagos tarde”, assinalou outro dos presentes, também pedindo anonimato, esclarecendo que os “serviços gratificados são pagos a 38 euros por período de quatro horas”, ajudam os profissionais a chegar mais desafogados ao fim do mês, mas “retiram horas de descanso” a quem os faz.
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