“O que vamos também observando é que cada vez mais há dificuldades por parte das culturas de sequeiro, por via dessa diminuição dos volumes de precipitação anual e daquilo que o solo tem capacidade para reter”, afirmou Pedro Monteiro à Lusa.
O diretor regional de Agricultura indicou que as culturas “tradicionais, que sempre foram feitas em modo de sequeiro, no qual se incluem as fruteiras como por exemplo a alfarrobeira, a amendoeira, a figueira a oliveira”, estão já a ser afetadas pela falta de humidade no solo, sendo os concelhos de Olhão, Faro, São Brás de Alportel e Loulé os mais afetados.
Estas culturas têm, assim como “as pastagens naturais e alguns cereais” de cevada ou trigo, “um comportamento exatamente igual ao da vegetação natural” a acabam por “viver apenas daquilo que naturalmente cai na forma de precipitação e fica armazenado no solo”, ao contrário das culturas de regadio.
“Nós, se formos hoje ao barrocal [entre a serra e o mar], nomeadamente nesta zona a norte de Faro e nestes concelhos do Algarve central, começamos a ver também já algumas situações complicadas nessas espécies mais rústicas”, disse Pedro Monteiro, em declarações à Lusa.
A mesma fonte explicou que a falta de chuva e as temperaturas elevadas provocaram uma “floração precoce da amendoeira”, criando “alguns problemas em termos da queima do candeio da alfarrobeira”, que trará consequências depois na produção.
“E tudo resulta desta conjugação desses parâmetros climatéricos que são complicados, porque temos temperaturas anormalmente elevadas durante o dia, à noite temperaturas mais baixas, pouca humidade do solo e isto leva à dissecação dos tecidos e as plantas ficam mais suscetíveis, por exemplo, a serem queimadas pela geada”, precisou.
Além das culturas de sequeiro, a falta de chuva está também a afetar o regadio, o outro grande grupo de culturas do Algarve, que deveria estar a subsistir até março apenas com a água da chuva, mas cujos campos tiveram de ser regados em função da falta de água e de humidade no solo.
“Por norma, a campanha de rega no Algarve, o mais cedo que começa é aí por volta de março. Nos anos mais chuvosos conseguimos protelar o início da rega para maio. E, hoje em dia, em algumas zonas, já estamos a regar”, notou.
Devido à seca em Portugal continental, no passado dia 01 de fevereiro, o Governo decretou limites à produção de energia em várias barragens: Alto Lindoso/Touvedo, Vilar de Tabuaço, Alto Rabagão, Cabril e Castelo de Bode.
A água da barragem de Bravura, no barlavento algarvio, deixou de poder ser usada para rega.
Pedro Monteiro manifestou a “esperança que venha ainda alguma precipitação para atenuar os efeitos da seca”, apontando como possíveis soluções a diversificação de fontes de água.
Com mais fontes, será possível reservar mais água para épocas de escassez e recuperar aquíferos, sublinhou, dando como exemplos a dessalinização ou a utilização de águas tratadas para rega de pomares próximos de estações de tratamento.
“Por outro lado, também, no estudo do Regadio 2030, que recentemente terminou o processo de consulta pública, a Direção Regional propôs a construção de dois açudes móveis, insufláveis, em duas ribeiras que têm caudais instantâneos muito elevados quando chove, mas também rapidamente secam, a sotavento [leste] na ribeira da Foupana e a barlavento [oeste] na ribeira de Monchique”, sublinhou.
O objetivo é, adiantou, “fazer uma retenção temporária dessa água e depois bombeá-la quer para a barragem de Odelouca, no barlavento, quer para a de Odeleite, no sotavento”.
“Se juntarmos esse reforço adicional às poupanças que os aproveitamentos hidroagrícolas estão a ter na mitigação das perdas, nomeadamente, através da conversão dos sistemas gravíticos em pressurizados, a intenção é podermos, na áreas de regadios já instaladas – mas que são regadios privados, abastecidos a partir de furos -, desligar esses furos, porque não nos podemos esquecer que há hoje em dia uma grande pressão sobre os aquíferos”, concluiu.
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