Os empresários do comércio algarvio estão apreensivos com o rumo que vão tomar os seus negócios devido à pandemia de covid-19, sobretudo pela incerteza numa data para a retoma da economia, disse hoje à Lusa um responsável do setor.
“Vamos parar agora e daqui a dois meses vai-se recomeçar de que ponto? Não é só ligar o botão e tudo começa a trabalhar. Para além das sobrecargas da segurança social”, questiona o presidente da Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL).
Segundo Paulo Alentejano, os empresários “estão com dificuldade em perceber o caminho que lhes estão a indicar”, porque já estão numa situação complicada e “aponta-se para atrasarem pagamentos à segurança social e fazerem mais uma linha de crédito, sem saberem como vão estar daqui a seis meses”.
O dirigente realçou a preocupação dos empresários com a possibilidade de “mais um encargo acumulado”, relembrando que o comércio no Algarve “vive direta ou indiretamente do turismo” e até “havia boas perspetivas, quer para a Páscoa quer para o verão.
O setor do comércio e dos serviços são, a par do turismo, aqueles que mais emprego geram na região, sendo que a maioria das empresas de comércio no Algarve têm uma dimensão pequena, até aos 10 empregados.
Embora notando que muitos dos comerciantes “pensam que o caminho mais fácil é o ‘lay-off’”, aquele responsável não consegue quantificar o número de associados – ao todo são 3.000 – que já optaram por colocar trabalhadores neste regime, desde o início do surto.
No entanto, ao aconselhamento jurídico da associação têm chegado muitas dúvidas das empresas, “acima de tudo em questões de ‘lay-off’”, nomeadamente, “como podem aceder, quais as consequências e se podem ir a 100 ou 50%, o que revela que “a grande maioria” está a equacionar a medida.
Sugerindo que se poderia “premiar as empresas” que façam o esforço para “se manterem em funcionamento a todo o custo”, o dirigente questionou: “se tudo aponta que o ‘lay-off’ é o caminho, qual é a vantagem de se fazer um outro caminho?”
Paulo Alentejano criticou, ainda, o facto de algumas medidas anunciadas pelo Governo “saírem avulso”, criando “incerteza e grande desconhecimento nos empresários” e destacou que “as primeiras nem contemplavam bem o comércio local”.
À associação têm, também, chegado relatos de empresários com dificuldades “em receber o que foi faturado em março”, um vez que “quem ainda tem algum liquidez de tesouraria está a atrasar pagamentos”.
A ACRAL enviou um inquérito aos associados para aferir o impacto das medidas e outras que possam vir a ser propostas, tendo obtido “duas centenas de respostas”, que servirão de base às diligências que a associação está a articular com a Confederação do Comércio de Portugal, para apresentarem ao Governo.
Para o futuro, o dirigente considerou importante “apostar no mercado interno”, até porque a atividade deve “abrir relativamente devagar”, com os turistas a levarem “algum tempo a retomar a confiança em sair do seu país”.
Também o presidente da maior associação empresarial do Algarve (NERA), Vítor Neto, afirmou à Lusa que a situação é “muito grave”, pelo que as empresas “têm de procurar encontrar soluções para encarar a crise”, procurando utilizar os mecanismos disponibilizados pelo Governo.
“Podemos considerar que deveriam ser mais rápidos, mas ainda assim as empresas têm de usar esses mecanismos”, considerou, sublinhando que a situação do Algarve, apesar de similar ao resto do país, tem agravantes.
Nomeadamente, o facto de haver “uma constelação de serviços agregados de diversos setores que convergem no turismo, o que lhe dá um risco muito forte”, referiu, temendo que a atividade turística fique “totalmente paralisada”.
“Neste mês de abril deveriam chegar ao Aeroporto de Faro cerca de 450 mil pessoas, valor que deve passar a um valor residual, tendo em conta que em março teve 30 a 40% de quebra”, concluiu.