O abandono de animais em Portugal agravou-se durante a pandemia da covid-19 e representa “uma situação muito problemática”, alerta a provedora do Animal que afirma que os seus custos são muito superiores aos de medidas de resposta.
É difícil fazer o retrato do problema do abandono animal, uma vez que só são conhecidos os números dos centros de recolha oficiais, mas daí Laurentina Pedroso, provedora do animal há cerca de um ano, já retira uma conclusão: “É realmente uma situação muito problemática”.
De acordo com dados oficiais, no ano passado os centros de recolha receberam cerca de 43.400 animais. Comparativamente a 2020, foram mais cerca de 12 mil, um aumento de 28%.
Nas contas faltam as associações zoófilas, que deverão ter acolhido tantos ou mais animais, disse em entrevista à agência Lusa Laurentina Pedroso, em vésperas do Dia Internacional do Animal Abandonado, que se assinala na segunda-feira.
“Durante o confinamento houve mais adoções e depois, logo a seguir, começou a haver mais devoluções dos animais. Pode ter tido alguma influência, mas existem bastantes outros fatores”, explicou a provedora.
Por outro lado, o problema não se extingue no sofrimento animal, com custos em termos de saúde pública, acidentes causados por animais errantes e as despesas das associações e centros de recolha oficiais onde, muitas vezes, os animais ficam durante vários anos.
Segundo estimativas da provedora do Animal, dos cerca de 43 mil animais que no ano passado chegaram aos canis e gatis, só 25 mil foram adotados e cerca de dois mil foram eutanasiados. Os restantes ficaram.
“Aquilo que estamos a começar a enfrentar é esta realidade de que há animais que vão viver, provavelmente, a sua vida toda nestes locais”, lamentou a também médica veterinária.
No seu conjunto, o custo para o Estado do abandono animal deverá ultrapassar os mil milhões de euros, estima Laurentina Pedroso, sublinhando que “custa muito mais manter estes animais ao longo de décadas do que as verbas que nós precisaremos para fazer campanhas de esterilização”.
Essas campanhas de esterilização são, precisamente, uma das principais medidas que a provedor defender para combater o problema logo na sua origem, evitando a reprodução de cães e gatos, em particular, de forma indesejada.
“Se não, andamos sempre a deixar que nasçam animais para os deixarmos abandonados, termos que os recolher e ficarem ao cuidado do Estado e das associações durante muito tempo da sua vida”, justificou.
Considerando os últimos executivos têm tomado decisões no sentido certo, Laurentina Pedroso defende também que é preciso fazer “mais e melhor”, sobretudo ao nível autárquico, mas não só, e incluindo a promoção da identificação dos animais e o levantamento dos dados sobre o abandono junto das associações zoófilas.
Outra das medidas que defende é a criação de uma rede de apoio à saúde animal, assente maioritariamente em estruturas que já existem, com destaque para as instituições de ensino superior na área da medicina veterinária, mas integrando também a rede de hospitais veterinários e infraestruturas municipais e das associações.
“Temos estas entidades espalhadas pelo país e onde mais necessidade há”, acrescentou, defendendo também que seja criada uma rede de emergência e socorro a animais, constituída por unidades de saúde veterinária móveis.
O objetivo é assegurar uma primeira resposta no local aos animais, por exemplo em situações de incêndios, mas as estruturas móveis também permitiriam a realização das tais campanhas de esterilização em locais remotos e com poucos meios.