É muito subtil o impacto do confinamento na redução da transmissão da covid-19 em Portugal, mas os especialistas já veem alguns sinais de desaceleração de novos casos. Ainda assim, são unânimes em afirmar que o país continua a manter-se numa tendência crescente de infeções, internamentos e óbitos. Com alguma incerteza, há modelos que apontam para um pico de casos na próxima semana, o que significa que só na segunda metade de fevereiro é que o alívio deverá chegar aos hospitais. Até lá, estimam os peritos, a pressão irá subir.
EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE TRANSMISSIBILIDADE (RT)
TAXA DE POSITIVIDADE DOS TESTES
NOVOS CASOS
INTERNAMENTOS HOSPITALARES E EM UCI
% DE PESSOAS EM UCI NO TOTAL DOS INTERNAMENTOS
ÓBITOS DIÁRIOS
PAÍSES COM MAIS NOVOS CASOS E MAIS MORTES
TOTAL DE CASOS
TOTAL DE MORTES
“O número de doentes a precisar de cuidados intensivos deverá continuar a aumentar até à primeira metade de fevereiro, atingindo um valor máximo de cerca de 1100, altura a partir da qual começará a decrescer”, aponta Maria Luísa Morgado, matemática da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e uma das responsáveis pelo modelo desenvolvido com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. “O modelo indica que, em cenários de confinamento de duas semanas, um mês ou dois meses, o número de internados em cuidados intensivos no final de março será, respetivamente, de 1000, 500 e 260.”
O atual confinamento entrou em vigor há duas semanas, no dia 14 de janeiro. As regras foram apertadas cinco dias depois, e as escolas fecharam no dia 22. Os especialistas dizem que ainda é cedo para ver um impacto do fecho das escolas, mas o número médio de pessoas que cada infetado contagia (Rt) já começou a descer, embora continue acima de 1. Segundo o INSA, o Rt passou de 1,23 nos primeiros dias do ano para 1,13 a 22 de janeiro. “Mantém-se uma tendência de descida, embora lenta para o que seria necessário”, resume Carlos Antunes, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Segundo os dados de mobilidade da Google, analisados pelo INSA, no primeiro dia sem aulas o confinamento foi de 69% do máximo registado em março e abril, já mais ‘apertado’ do que na semana anterior (46%). A TomTom, empresa de tecnologia de localização, também conclui que esta semana os portugueses usaram menos o automóvel do que na anterior, ainda que o nível de tráfego seja superior a março. Entre o atual confinamento e o de março existem “muitas diferenças”, sublinha Milton Severo, investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP). “O anterior ocorreu na primavera e agora é inverno, a disponibilidade das pessoas era maior, o número de casos é bastante superior e temos as novas variantes que provocam mais contágios.”
“AS SEMANAS MAIS CRÍTICAS”
Segundo o investigador do ISPUP, nos últimos dias já houve uma “desaceleração” das infeções no Norte, Centro e Alentejo. “Ainda antes do confinamento, a 14 de janeiro, existiu uma redução da velocidade de crescimento de casos. Passou-se de uma duplicação de 9 para 23 dias, provavelmente devido à diminuição natural de contactos após o período de festas.”
Também Carlos Antunes, coautor das projeções apresentadas no Infarmed, aponta a mesma tendência: “Os indícios do efeito do confinamento são muito subtis, dado o curto período desde o fecho das escolas, mas verifica-se uma desaceleração da incidência global. O pico está a ficar cada vez mais definido e é apontado algures entre 5 e 9 de fevereiro, com uma incidência que poderá situar-se entre os 17 e os 18 mil casos diários.” Para o fim deste mês, o modelo aponta para uma média de 16.400 novas infeções, mais de 7 mil internamentos, 860 em cuidados intensivos e acima de 300 óbitos diários.
“A proporção de internados em cuidados intensivos baixou de 18% para 12%”, revela Óscar Felgueiras
Portugal continua a ser o país do mundo com mais novos casos e mortes por milhão de habitantes (ver gráficos). Batem-se recordes de óbitos, as infeções diárias superam as 15 mil, e a percentagem de testes positivos está acima de 19%, quando não deveria ir além de 5%, o que continua a ser sinal de que há muitos casos por detetar. “O país está no limite da sua capacidade, quer seja na testagem, rastreio ou cuidados hospitalares”, avisa Óscar Felgueiras, matemático especializado em epidemiologia. “Estamos prestes a chegar às semanas mais críticas, e o confinamento pós-fecho das escolas irá dar um contributo decisivo para controlar a subida de casos.”
Só desde o início do ano já morreram mais de 4 mil pessoas com covid-19. A letalidade está a subir, sobretudo nos mais idosos (ver pág. 5), e com maior intensidade em Lisboa do que no Porto. Uma das explicações para as projeções subestimadas de óbitos é a “diminuição da capacidade de resposta perante a saturação dos serviços hospitalares”, refere Óscar Felgueiras. “Um indicador sintomático disso é a proporção de internados em cuidados intensivos, que baixou de 18% no Natal para os atuais 12%, conjugado com um aumento da positividade.”
Também Maria Luísa Morgado aponta essa hipótese, além do possível impacto das variantes britânica e sul-africana, “num risco acrescido no desenvolvimento de sintomas graves”, explica. “As incertezas associadas a estas hipóteses são difíceis de incorporar em modelos matemáticos.”
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