Chegou a ter mais de 2.000 artefactos, mas atualmente o acervo do Museu Regional do Reino do Kongo tem pouco mais de 100 peças, que o Governo angolano espera aumentar com espólio recuperado noutros países.
O museu, instalado no antigo palácio real construído em 1901, distribui-se por seis pequenas salas, destacando-se na entrada os retratos de figuras reais e de Henrique, filho do rei do Congo, o primeiro bispo negro africano, sagrado em 1520.
Há também aspetos da vida socioeconómica, incluindo artefactos ligados à caça e à pesca, bem como moedas que serviam para o comércio – pequenas conchas a que davam o nome de zimbos – objetos de uso pessoal, símbolos do poder real, vestuário, instrumentos musicais e outros de uso ritual ou usadas em tratamentos tradicionais, como vai explicando a Lusa o conhecedor guia Kediamosiko Toko.
E há também uma réplica da Pedra de Yalala, com inscrições de Diogo Cão, o navegador português que chegou à costa angolana em 1482, e que se encontra atualmente numa aldeia ao pé de Matadi (República Democrática do Congo)
O reino do Congo expandia-se nessa altura por três países – a República Democrática do Congo, o Congo Brazzaville e uma parte do Gabão – além das atuais seis províncias angolanas do norte, o que levou o executivo angolano a alterar o estatuto do museu, explica o diretor, Avelino Manzueto.
A 08 de novembro de 2023, o antigo Museu dos Reis do Congo converteu-se em Museu Regional do Reino do Kongo, para que a sua dimensão “abranja um nível internacional”, explicou o responsável, adiantando que há também um projeto de cooperação para resgatar “alguns acervos que estão em outros países”.
Segundo Manzueto, o museu, que ficou fechado entre 1982 e foi reaberto em 2007, “perdeu muitas peças devido à guerra, tendo ficado em estado de abandono”, contando atualmente com 105 peças.
“Já identificamos alguns países, não só em termos de acervos, mas também as obras literárias e a arte, nomeadamente o Brasil. Nós sabemos a relação do Brasil com Angola, a questão do comércio triangular (de escravos), o papel do reino do Congo, dos Estados Unidos da América, a Bélgica, e do próprio Portugal, porque Angola foi uma província ultramarina de Portugal”, salientou.
Avelino Manzueto afirmou que o trabalho está a ser desenvolvido com especialistas e investigadores, “numa perspetiva da cooperação” para que se tenha “a oportunidade de resgatar os acervos museológicos”.
“Nós temos conhecimento de que alguns museus têm lá algumas peças expostas sobre o reino do Kongo. E não somente peças, também as obras literárias e a arte”, reforçou.
Deu como exemplo o Museu Real da África Central, na Bélgica, onde se encontra uma vasta coleção de artefactos, nomeadamente esculturas, máscaras e outros objetos culturais, estando a ser desenvolvida uma estratégia através dos representantes culturais nestes países, para celebrar acordos para que possam ser identificados os acervos e ser feito um historial de cada peça.
“Podemos, por exemplo, receber a nossa peça originária ou ficar exposta naquele museu e recebermos uma réplica”, sugeriu.
Avelino Manzueta salienta que além da importância para a identidade cultural, o aumento do acervo iria atrair mais turistas.
No ano passado, o museu acolheu 7.420 visitantes de vários países do mundo, com destaque para Portugal, Brasil, Alemanha, os dois Congos, África do Sul e a Zâmbia.
Para o responsável do museu, o desafio passa também por reforçar os recursos humanos, renovar as exposições e criar estratégias para que seja possível construir um novo museu, de dimensão internacional, “assente nos pilares dos três Congos, com Angola, RDCongo e Brazzaville”, um projeto conjunto que se pretende que envolva especialistas dos vários países.
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