O tema continua a merecer a atenção dos tavirenses preocupados com o seu destino.
Lemos com interesse a detalhada biografia do Quartel da Atalaia (QA) elaborada por Jorge Queiroz (Postal do Algarve de 11.09.2015), evidenciando o elevado valor histórico e patrimonial daquele edifício.
Manifestando as suas preocupações com a transferência do Regimento de Infantaria nº 1 para Beja e os perigos que se colocam com o vazio criado, Jorge Queiroz (JQ) reconhece no seu artigo a premência em assegurar o futuro de tão valioso monumento.
Consciente da perda da utilidade deste equipamento procura sensibilizar os Altos decisores, alertando para os perigos da saída dos militares de Tavira, defendendo a sua presença para garantir a defesa estratégica do País das ameaças vindas do exterior. Porém, consciente de que o espaço é excessivo para a Defesa sugere o seu aproveitamento para fins museológicos de natureza militar.
Estranhamente, ou talvez não, JQ homem da cultura com profundo conhecimento das carências de Tavira e da nossa Região de equipamentos culturais, não admite em qualquer passo do seu interessante escrito a recuperação do QA para outros fins.
Tem sido encorajador constatar que, até ao momento, das numerosas adesões ao propósito da reconversão do QA em Centro de Cultura de excelência com valências várias (ensino e formação para jovens, residências artísticas, espaço museológico, área comercial), nenhuma outra, para além da compreensível posição do capitão Arnaldo Anica, se manifestou em favor da sua ocupação militar.
Sabemos que os conventos religiosos e as casernas militares foram durante séculos instituições necessárias, geradoras de riqueza, fixando gente. Porém, o futuro de uma Cidade em declínio demográfico, com a população local envelhecida e apostando na monocultura do turismo não se compadece com visões passadistas e exige lucidez, iniciativa e coragem.
Que seria hoje Tavira sem a recuperação do Palácio da Galeria e a transformação da cadeia comarcã na Biblioteca Álvaro de Campos?
E quando recentemente vimos Rogério Bacalhau anunciar que irá apresentar até 2019 a candidatura nacional de Faro a Capital da Cultura, contando com o envolvimento de outras autarquias, mais se torna evidente o poderoso veículo de desenvolvimento que a Cultura representa para a Região e que o QA poderá ter um papel importante neste quadro.
A carência de meios e a crise não podem ser obstáculos à implementação dum projecto estruturante desta natureza. Acreditamos que poderão ser alocados fundos europeus, em breve a chegar, bem como investimento público e privado necessário.
Menos optimistas estamos no entanto no que respeita ao capital humano disponível para assumir este trabalhoso mas gratificante plano.
Acreditamos, contudo, que no decurso deste movimento tais protagonistas surgirão naturalmente, assumindo as suas responsabilidades em defesa da coisa pública.
* Presidente da Direcção da Casa das Artes de Tavira