A Enfermagem está de luto. A saúde perdeu mais um para a doença. Bem 0 – 1 Mal. O céu ganhou mais uma estrela.
Desta vez o anjo não é anónimo. Desta vez chama-se Célia Paulo e era minha colega de profissão. Estava a lutar contra uma depressão terrível que se agravou com a pandemia. Estava há meses a tentar manter-se à tona, por ela, pelos filhos adolescentes, e por todos os que estavam ao seu encargo (no hospital e fora dele).
A saúde mental tem que deixar de ser tabu. Temos que mostrar que mata. Temos que ter noção que é tão importante como a saúde física. Mais importante até.
Temos que perder o medo de falar em depressão.
Temos que saber procurar ajuda.
Temos que ter noção que não nos torna mais fracos por ter alguém que nos guie. Não somos mais fracos por precisar daquele ansiolítico à noite. Não somos mais fracos por admitir que temos um problema.
Às vezes a terapia é café com um amigo. Às vezes é um abraço apertado, sem nada dizer. Às vezes é uma mensagem de força e um carinho virtual.
Às vezes só isso não chega. E quando não chegar, por favor, não tenham medo de procurar ajuda.
Vamos desmistificar a saúde mental. Vamos juntos dar um passo em frente.
Hoje estou triste. E não consigo escrever mais sobre o assunto.
Descansa em paz, querida Célia. Hoje penduras a tua farda. Hoje vestes as tuas asas. Hoje, por fim, descansas.
Texto publicado originalmente em Pedaços da minha vida
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