A ideia de sustentável tem o significado de poder, mantendo-se as mesmas condições, de se manter ou continuar indefinidamente no tempo. No caso da divida pública significa que o povo ‘aceita’ continuar a trabalhar para pagar os juros de uma divida que os incompetentes (ou outra coisa) arranjaram junto dos grandes grupos financeiros mundiais, os quais vivem da exploração dos países da periferia económica. A este propósito vale a pena ler “O sistema mundial moderno” de Immanuel Wallerstein, onde se encontram algumas páginas referentes a Portugal, assim como “Confissões de um mercenário económico” de John Perkins, este é elucidativo da divida portuguesa.
Repare-se que os responsáveis políticos dizem sempre que a divida tem que ser sustentável, não nos dizem que tem de ser paga, isto significa que devemos continuar a pagar juros para sustentarmos o sistema financeiro mundial. Quantos hospitais, escolas, aeroportos e TGVs já estariam em funcionamento com os juros que temos pago nos últimos vinte anos? É possível ver esses valores nas contas do Estado.
Um bom exemplo da exploração macabra dos países da periferia da zona euro, diz respeito à actuação do Banco Central Europeu. Este banco foi criado com os fundos financeiros dos Estados da zona euro, mas quando esses mesmos Estados precisam de empréstimos, o BCE não lhes empresta directamente, empresta a baixos juros aos bancos internacionais e depois estes vão emprestar aos Estados ao preço do mercado, pagamos para nos emprestarem o nosso próprio dinheiro! Repare-se o que acontece com a distribuição do dinheiro da chamada “bazuca”. O BCE dá a maior parte desse dinheiro a fundo perdido, para tal vai contrair empréstimos que irão ser pagos por todas as gerações durante um século, é a “sustentabilidade” da divida que um continente inteiro vai suportar durante o tempo de vida dos empréstimos.
O Estado português dá prioridade ao endividamento externo em detrimento do endividamento interno (p. ex. poderia ter juros mais altos nos certificados de aforro) para não retirar meios financeiros à economia, mas deixa sair milhares de milhões anualmente para os paraísos fiscais. A quem interessa isso? Eu sei quem beneficia.
A divida directa do Estado em 31/01/2001 era 65.704 milhões de euros, em 31/05/2021 era 272.359 milhões. No período da troika recebemos 75.000 milhões mas a divida aumentou ‘apenas’ 60.829 milhões porque foi paga uma parte da divida anterior, isto mostra que se o governo quiser podemos diminuir a divida. Uma coisa é certa, não podemos continuar a endividar-nos face ao exterior.
Piores dias se avizinham por causa da ‘sustentabilidade’ da divida.