O Serviço Nacional de Saúde (SNS) conseguiu voltar, em 2021, aos níveis pré-pandemia, com mais de 613 mil cirurgias e 12,4 milhões de consultas hospitalares, mas faltou recuperar o que a pandemia de covid-19 suspendeu em 2020.
Os dados da atividade assistencial disponíveis no portal da transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) colocam o ano de 2021 ao mesmo nível de 2019, antes da pandemia, mas mostram que não se compensou as mais de um milhão de consultas hospitalares a menos imposta pela suspensão da atividade não urgente.
Nas consultas hospitalares a realidade não foi toda igual: comparando o ano passado com o de 2019, houve menos primeiras consultas (-48.223) e só se conseguiu fazer chegar o valor total ao nível da pré-pandemia com as consultas subsequentes (8.898.576 em 2021, mais 53 mil).
Nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) a quebra também foi abrupta no primeiro ano de pandemia. Em 2021 os serviços já conseguiram fazer mais, mas, por exemplo, nas consultas presenciais os números ainda estão longe dos valores pré-pandémicos: em 2019 os dados oficiais apontam para mais de 20,7 milhões de consultas presenciais, enquanto em 2021 este valor se ficou pelos 14,5 milhões.
Contudo, esta diferença foi compensada pelas consultas não presenciais, que mais do que duplicaram em dois anos de pandemia: em 2019 fizeram-se 9,2 milhões e em 2021 foram mais de 20,1 milhões.
Um estudo apresentado em novembro pelo Movimento Saúde em Dia, constituído pela Ordem dos Médicos, a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) e a Roche, indicava que nos dois últimos anos tinham ficado por fazer 14 milhões de consultas médicas presenciais nos centros de saúde.
Nas cirurgias, os números conseguidos no ano passado também já atingiram os valores pré-pandémicos, mas falta compensar as 100 mil que, segundo a APAH, ficaram por realizar no primeiro ano da pandemia (2020).
Além de compensar a atividade assistencial que não foi prestada, a APAH tem igualmente chamado a atenção para a necessidade de se recuperar em áreas que são consideradas prioritárias.
Mas uma consulta pode ser mais fácil de recuperar do que um diagnóstico, que se feito tardiamente pode condicionar as hipóteses de tratamento do doente.
Aliás, muitos são os profissionais de saúde que têm dado conta de que os doentes estão a chegar às consultas em estados mais graves, resultado do atraso nos rastreios e nas consultas.
Os dados divulgados pelo Movimento Saúde em Dia apontavam para mais de 4.400 cancros por diagnosticar por causa da redução dos rastreios imposta pela pandemia.
A informação relativa aos rastreios oncológicos disponível no portal da transparência do SNS indica que apenas nos rastreios do cancro de cólon e reto os números de 2021 (mais de 1,6 milhões) se aproximam dos pré-pandemia (mais de 1,7 milhões em 2019). Falta recuperar da quebra abrupta de 2020, quando houve menos 116.000.
Nas mulheres com mamografia feita nos últimos dois anos os valores ainda não regressaram aos do período pré-pandemia, o mesmo acontecendo no caso das mulheres com colpocitologia atualizada. No primeiro caso, em dezembro de 2021 eram 627 mil (818 mil em 2019) e no segundo cerca de um milhão (1,2 milhões em 2019).
No início do mês de fevereiro, o diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas estimou ser necessário realizar anualmente mais 1,2 milhões de rastreios ao cancro da mama, colo do útero e colorretal para abranger mais de 90% da população elegível até 2025.