Em declarações à Lusa, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, disse que a saída de médicos dos hospitais algarvios para a reforma, nas últimas semanas, e a diminuição da capacidade de contratação de prestadores, levaram a que no passado fim de semana não houvesse condições “para que o serviço de urgência estivesse aberto” e recebesse mulheres grávidas.
“Foi avisado o INEM [Instituto Nacional de Emergência Médica] e os bombeiros para não encaminharem as situações de grávidas” para o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), onde esta “não é uma situação pontual nem circunstancial”, afirmou, frisando que as escalas do próximo mês, “mesmo dependendo de prestadores, estão claramente com insuficiências”.
O secretário-geral do SIM explicou que, com o encerramento das maternidades, é acionado o plano de contingência, fazendo com que as grávidas sejam transferidas para outras unidades fora do distrito de Faro, como por exemplo Setúbal, onde há dois meses havia 13 obstetras, tendo saído quatro e sido contratado um, o que reduziu o total para 10, sinalizou.
Segundo o dirigente sindical, a transferência de grávidas do Algarve para hospitais a norte da região acaba por “sobrecarregar serviços” de outras unidades que já estão, por si só, a sofrer as consequências da falta de profissionais.
“Não queremos criar alarmismo, queremos é que sejam criadas condições de segurança para o nascimento de crianças no Algarve, porque o facto de o Ministério da Saúde nem sequer reconhecer o problema e de o Conselho de Administração ter incapacidade para atrair e fixar profissionais, leva as pessoas que podem a resolver os seus problemas no privado”, afirmou.
Segundo Jorge Roque da Cunha, as famílias que não têm meios financeiros para recorrer ao setor privado acabam por enfrentar “uma incapacidade crescente para recorrer a esses serviços” no setor público, lamentou.
Aquele responsável argumentou que, “nos últimos três anos, agravou-se a carência de médicos no Algarve, em particular nos médicos de Pediatria em Portimão e nos médicos de Ginecologia e Obstetrícia em Faro”.
“A verdade é que, neste momento, mais de metade do serviço de urgência do hospital de Faro é feito por médicos prestadores de serviços. Além disso, dos restantes 50%, cerca de dois terços são médicos com mais de 55 anos e médicos que poderiam já não fazer urgência, nem noites, e muitos deles, no ano passado, ultrapassaram as 400 horas extraordinárias”, acrescentou.
A mesma fonte exemplificou o esforço que este número de horas extraordinárias representa em dias úteis de trabalho para os médicos que as realizam, afirmando que cada clínico nestas condições trabalha “entre 50 a 60 dias úteis, quase três meses a mais que o comum dos mortais”.
“Não é possível pedir-lhes mais trabalho”, concluiu, apelando ao conselho de administração do CHUA para, “em vez de ocultar o problema, ser proativo e exigir ao Ministério da Saúde meios para o resolver”.
A Lusa pediu ao CHUA uma reação à posição do sindicato, mas até ao momento não obteve resposta.