Fomos recentemente alertados pelas autoridades britânicas de Saúde para a existência de uma “pandemia oculta” de infeções resistentes a antibióticos, caso as pessoas deixem de lado cuidados e responsabilidades pós-COVID. Os especialistas mais uma vez avisam que tomar antibióticos quando há sintomas de gripe não é a resposta. Muitos tratamentos foram alterados por razões da pandemia, devemos estar cientes de que pode surgir uma pandemia escondida de infeções resistentes a estes fármacos, dentro de pouco tempo.
A resistência a antibióticos é inegavelmente um dos principais problemas de Saúde Pública em todo o mundo, devido à sua banalização utilizam-se hoje antibióticos para toda e qualquer situação, mesmo que não se trate de uma infeção. Acresce que as infeções comuns podem ser provocadas por vírus ou bactérias, sendo que o efeito do antibiótico só se verifica sobre as bactérias. Ora, as gripes, as constipações, o sarampo, a varicela ou a papeira, isto só para citar alguns exemplos, são provocados por vírus, pelo que a toma de um antibiótico não traz qualquer benefício. E gerou-se esta mentalidade de que à mais pequena probabilidade de infeção passarmos a exigir antibióticos. E assim nasce a resistência bacteriana: quando há uma verdadeira infeção bacteriana, o seu controlo é dificultado, porque existe uma grande probabilidade de a bactéria sobreviver ao contato com o antibiótico escolhido para o tratamento. Estes casos são tão mais preocupantes quanto mais grave for a infeção do doente, podendo causar uma doença mais prolongada com risco de complicações. Pense-se agora nos quadros patológicos que foram mal vigiados durante o período agudo da pandemia, não é mero alarmismo dizermos que se pode sair da COVID-19 e entrar noutra crise com o surto de infeções graves resistentes a antibióticos.
Há sinais positivos, não os devemos desvalorizar. As prescrições de antibióticos têm vindo a cair há vários anos principalmente para crianças menores de 9 anos. Esta diminuição foi impulsionada pela redução no pedido de antibióticos para infeções respiratórias no ano passado. As penicilinas sofreram a maior queda nas prescrições. Em contraste, registou-se um aumento dos antibióticos prescritos a nível da Estomatologia, talvez devido ao facto de muitas pessoas não poderem comparecer às consultas presenciais.
Bom seria que todas as nossas instâncias de saúde, incluindo as ordens profissionais, neste período conturbado em que vivemos na montanha-russa do COVID-19, que apelassem ao uso prudente dos antibióticos, é um assunto de todos nós, todos têm um papel a desempenhar:
– Compete aos médicos avaliar convenientemente as queixas do doente para distinguir entre uma infeção bacteriana e uma infeção viral, explicando ao doente que é completamente inútil tratar com antibióticos as tais gripes e constipações;
– Compete aos farmacêuticos recusar a dispensa de antibióticos sem receita médica;
– Compete aos doentes só iniciar um tratamento com antibiótico após a decisão do médico, não insistir junto do farmacêutico para que este dispense o antibiótico sem receita médica.
Cada um de nós pode contribuir a título individual para evitar a resistência aos antibióticos, só os tomando quando eles são prescritos e prevenindo as infeções pela prática de uma boa higiene. Acima de tudo, compete-nos nunca esquecer que só se devem usar antibióticos após uma avaliação médica que determine a sua necessidade.