As taxas de vacinação anti-covid-19 nos países africanos de língua portuguesa estão todas acima da média africana, para o que têm contribuído as doações feitas por Portugal, disse o diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
“Neste momento, e se olharmos para a média a nível da África, os nossos países estão acima da média (…) e aqui temos de realçar que Portugal teve alguma responsabilidade nestes dados, porque Portugal doou vacinas aos PALOP e isso tem estado a ajudar alguns países a melhorarem as suas coberturas”, disse Filomeno Fortes.
Portugal já doou cerca de sete milhões de vacinas contra a covid-19, das quais metade foi entregue aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste, segundo disse esta semana à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Para o governante, o programa português de doação de vacinas aos PALOP “foi e tem sido um sucesso muito reconhecido em todos esses países”. Em entrevista telefónica à Lusa a propósito do segundo aniversário do primeiro caso de covid-19 em África, Filomeno Fortes lembrou que o continente tem neste momento uma cobertura vacinal de cerca de 11%.
Já entre os PALOP, Cabo Verde tem neste momento 52% da população vacinada, Moçambique tem 30%, Angola está a chegar aos 16%, São Tomé e Príncipe tem 31% e a Guiné-Bissau está com cerca de 15% de cobertura.
Instado a identificar as oportunidades que a pandemia trouxe a África, o especialista defendeu que contribuiu para a melhoria dos sistemas de saúde africanos.
“Um fator positivo em África foi que os nossos países melhoraram os seus sistemas de cuidados intensivos. Aí sim, verificámos que houve um investimento muito forte a nível do continente africano de uma forma geral, mas particularmente em Angola e em Moçambique”, disse Filomeno Fortes.
Outra área em que houve progressos foi na testagem, lembrou o médico angolano, exemplificando com o caso da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe, que não tinham capacidade para fazer o diagnóstico biomolecular da covid-19 e neste momento já têm.
Também Angola, em colaboração com o IHMT, passou a contar com um laboratório de referência em biologia molecular. “Capacitação técnica, capacitação dos recursos humanos, melhoria da capacidade de cuidados intensivos foram os fenómenos mais notáveis em relação à resposta à pandemia”, disse o especialista em saúde pública e epidemiologia.
Sobre a resposta dos países lusófonos à pandemia, Filomeno Fortes destacou o caso de Cabo Verde, que “integra o grupo de meia dúzia de países africanos com melhor nível de testagem”, “organizou-se do ponto de vista de cuidados intensivos” e, juntamente com a Guiné-Bissau, foi dos países que não tiveram diminuição da cobertura das outras vacinas. “Tiveram uma ação bastante organizada, quer em relação à testagem, quer em relação ao acompanhamento de casos, controle de fronteiras e cuidados intensivos. Portanto, Cabo Verde foi um grande exemplo”, disse.
Moçambique, que inicialmente sofreu as consequências da sua posição geopolítica – de fronteira com a África do Sul e com o Zimbabué –, conseguiu depois “melhorar a sua capacidade, até a nível dos cuidados de saúde primários”; enquanto Angola foi mantendo o controle regular da situação, tendo um número de casos por milhão de habitantes muito baixo. “Eu penso que os nossos países, de uma forma ou de outra, foram gerindo bem a situação”, disse o diretor do IHMT.
Num apanhado da situação da covid-19 nos PALOP, Filomeno Fortes disse que Moçambique é o que ocupa a primeira posição em termos de morbilidade e mortalidade e já ultrapassou os 200 mil casos. É o décimo quarto país a nível da África em termos de morbilidade e tem neste momento um pouco mais de 2.000 óbitos.
“Angola está na 20.ª posição a nível da África e em segundo lugar em relação à gravidade da doença nos PALOP, com cerca de 100 mil casos e cerca de 1.900 óbitos.
Cabo Verde tem cerca de 56 mil casos notificados e está com 400 óbitos, o que pode parecer pouco, mas representa 700 mortes por milhão de habitantes, uma taxa que “acaba por ser um pouco elevada”.
A Guiné-Bissau vem a seguir a Cabo Verde, com 36.000 casos – “está na 52.ª posição do ‘ranking africano’, mas tem 432 óbitos. São poucos óbitos de uma forma geral, mas em termos de mortalidade por milhão de habitantes é bastante acentuada”.
São Tomé e Príncipe é o país que tem menos casos: 6.000 infeções e 71 óbitos. “A tendência atual é para a redução do número de casos internados em praticamente todos os países lusófonos, concluiu o diretor do IHMT.