Fizemos apenas 5% do nosso percurso. Genuinamente acho que é esse o cenário, não sinto que sejamos um sucesso, mas tenho orgulho que estejamos a ter impacto mundial a partir de Portugal.” Virgílio Bento, 37 anos, engenheiro eletrónico e de telecomunicações, natural da Guarda, casado com uma pedopsiquiatra há uma década, com quem tem um rapaz de cinco anos e uma menina de dois, é o fundador e CEO da Sword Health, uma startup nascida no norte que, em apenas dois anos, se valorizou de 40 milhões de dólares para 2 mil milhões de dólares. Um meteorito na constelação de empresas tecnológicas que conseguem captar capital de risco no icónico Silicon Valley, em São Francisco (EUA), e o mais recente unicórnio português, depois da Farfetch, OutSystems, Talkdesk, Feedzai e Remote. A designação do animal mitológico é dada às empresas não cotadas em bolsa que foram avaliadas em pelo menos mil milhões de dólares.
Poder-se-ia dizer que esta é a história de um homem comum que está a fazer o invulgar. Filho de professores — o pai de filosofia, além de ter sido autarca pelo PS na Guarda, e a mãe do ensino especial —, Virgílio Bento confirma que foi sempre bom aluno, não porque gostasse da escola, apenas “porque me queria livrar daquilo o quanto antes”. Não perdeu o pragmatismo, nem o sentido de urgência ou não lhe faltasse fazer 95% do caminho que antecipa para a Sword Health. O discurso do empreendedor, direto e incisivo, é pautado pela “certeza de que somos muito bons” e de que “estamos a criar uma empresa de 100 mil milhões de dólares, uma das mais valiosas do mundo”. Por isso, “perder tempo no mundo circense dos eventos tipo Web Summit” não é para ele. “Ou estou na Sword ou com a família”, afirma.
Sobre o processo de trazer ao mundo uma startup é lapidar: “É tudo menos romântico. No ecossistema empreendedor em Portugal romantizam-se demasiado as primeiras rondas de investimento e os sucessos. Devia-se falar muito mais das dificuldades e dos insucessos.”
Movido por uma experiência pessoal que o marcou e pôs à prova a resiliência da família, Virgílio Bento quer libertar dois mil milhões de pessoas da dor causada por incapacidades músculo-esqueléticas. O empreendedor acredita na capacidade da Sword Health para responder a este problema global e os fundos de capital de risco norte-americanos mais reputados acompanham a startup portuguesa com os milhões de dólares necessários para vingar no mercado dos EUA. “Estamos a falar de um país onde existem 125 milhões destes doentes e de custos diretos de 400 mil milhões de dólares em opiáceos (e outros analgésicos) e em cirurgias (50% das quais são um insucesso), fora o absentismo, as reformas por incapacidade e as mortes precoces motivadas pelo flagelo da dependência de drogas cada vez mais fortes, para aliviar as dores.”
O evento
A motivação para criar a Sword tem origem num evento traumático. “Vivi os desafios, as frustrações e a dor que as famílias têm quando alguém requer cuidados terapêuticos de alta qualidade e intensidade e não têm forma de aceder a isso”, conta o empreendedor. Quando Virgílio Bento tinha oito anos de idade, o irmão, dois anos mais velho, foi atropelado, numa passadeira. “Esteve 12 meses em coma profundo no Hospital da Universidade de Coimbra e quando acordou foi para Alcoitão, onde teve um programa adequado, não só de fisioterapia mas também com terapia da fala, cognitiva e ocupacional. Evoluiu imenso”, relata. No entanto, “ao fim de um ano, as pessoas vão para casa e não há mais recuperação. Os meus pais não aceitaram esse desfecho”. Perante a ausência de resposta do Serviço Nacional de Saúde foram, durante 13 meses, para Cuba, a pagar “um valor altíssimo” para o filho fazer um programa de fisioterapia de alta qualidade e alta intensidade.
“Vi a evolução exponencial que ele teve e quando finalizei o curso na Universidade de Aveiro quis desenvolver uma tecnologia que permitisse isso às pessoas, ou seja, terem uma reabilitação com resultados como se fosse feita numa clínica”, conta. O terapeuta digital começa a ser pensado nesta fase, tendo sempre consciência que seria necessário introduzir a humanização nos cuidados. A intenção não é substituir os fisioterapeutas, vinca Virgílio Bento, mas sim dar-lhes uma ferramenta para otimizarem o seu trabalho. “Os profissionais são os primeiros a perceber o conceito e o seu potencial. Ninguém melhor do que um fisioterapeuta entende as limitações do status quo atual, da dificuldade que é alguém fazer quatro sessões de fisioterapia por semana, durante três meses”, afirma. A evidência científica mostra que uma reabilitação eficiente depende da alta intensidade. “Quem é que consegue? Já para não falar dos custos”, sublinha o CEO da Sword Health, garantindo que o recrutamento de terapeutas nos EUA e nas outras geografias onde estão presentes tem sido fácil.
Cada doente elegível para um tratamento através da tecnologia digital é acompanhado por um fisioterapeuta real, que adapta o programa de recuperação à patologia existente e analisa os dados recolhidos pela aplicação, como o número de sessões realizadas ou se a execução é correta ou tem falhas.
Parece fácil. Afinal, é uma animação que replica o corpo humano em determinadas posições e repetições. Porém, é dificílimo ter algoritmos que traduzem, sem falhas, o movimento humano e, consegui-lo, respeitando protocolos clínicos, eleva o desafio. Entre tentativas e erros, a equipa de Virgílio Bento conseguiu.
O que faz, então, a Sword Health? Presta serviços de fisioterapia digital em que o trabalho de um terapeuta real é complementado com tecnologia, auxiliada por inteligência artificial, que permite ao paciente autonomia para fazer o tratamento em casa, as vezes necessárias, à hora que mais lhe convém. Porque a reabilitação de quem sofre com estas condições depende, vinca Virgílio Bento, de ter um tratamento de alta qualidade, aliado a alta intensidade. Os resultados só surgem assim e, nos EUA, como em Portugal, também há a dificuldade das marcações horárias junto das clínicas, a que se somam os custos com cada sessão que são “cerca de 120 dólares” no outro lado Atlântico. Nos Estados Unidos, o negócio está a expandir oito vezes a cada 12 meses, nos últimos três anos, um desempenho refletido na dimensão da Sword, que emprega cerca de 340 pessoas, metade no Porto, os outros nos EUA e está a contratar mais 150 profissionais nas áreas de engenharia e produto.
Pepsi, Dell e Cisco integram a lista dos 155 clientes norte-americanos, indica Virgílio Bento, salientando que “cinco das 50 empresas mais valiosas dos EUA contrataram-nos serviços — e esse número está a crescer”. O número de pacientes a usarem os equipamentos da Sword — o kit é enviado pelos correios para casa e inclui um tablet, bem como uma espécie de cintos elásticos, com sensores que se colocam em locais específicos conforme o programa de tratamento — não é divulgado pela empresa, por razões concorrenciais, mas é dada a informação de que foram disponibilizados mais de 4,6 milhões de minutos de terapia até ao momento. “Em termos de adesão supera o método de fisioterapia convencional. Prova disso, é que 50% dos nossos doentes nos EUA fizeram a sua sessão até no dia de Natal”, revela o CEO. O equipamento, incluindo o design, a cor, dimensões, sensores, cintos, adesivos foi tudo desenvolvido pela Sword para permitir uma utilização autónoma, em particular, por clientes idosos.
A startup é parceira de quatro grupos seguradores em Portugal, incluindo os três maiores e a empresa atua, sobretudo, nos segmentos dos acidentes de trabalho e dos seguros de saúde. “Temos uma equipa dedicada ao mercado nacional de cerca de 50 profissionais, entre os quais 40 fisioterapeutas”, informa fonte oficial.
Tem também presença no Canadá e na Austrália, a que se somará o Reino Unido, num modelo de negócio em que os clientes são grandes seguradoras ou companhias que pela sua dimensão têm os seus próprios planos de saúde e contratam os serviços de fisioterapia à Sword Health.
O interior, Aveiro e o Porto
Márcio Colunas, 34 anos, é cofundador da Sword Health e faz questão de se apresentar como um empreendedor nascido, também, “no interior do país, em Chaves” e igualmente formado na Universidade de Aveiro, em engenharia de computadores e telemática. O potencial da tecnologia no sector da saúde cedo lhe despertou a atenção e foi tema da tese de mestrado, desenvolvida no mesmo laboratório onde Virgílio Bento estava a iniciar o doutoramento. “Sempre me vi a trabalhar com tecnologias que tivessem um grande impacto na vida das pessoas, à escala global”, revela Márcio Colunas. Daí a juntar-se a Virgílio Bento foi um passo, até porque os seus conhecimentos de software eram necessários ao projeto, já que o trabalho desenvolvido até então era ao nível do hardware (sensores). “Foi esta a simbiose que desenvolvemos”, recorda. Dessa época, ficou-lhe, sobretudo, a “grande caminhada” que “dois engenheiros” tiveram que fazer para a partir de um projeto científico “montarem uma empresa”. Como é que chegaram até aqui? “Com muita resiliência e a querer fazer mais e melhor”, afirma.
A validação clínica é outro alicerce em que a Sword Health se sustenta e, por isso, Fernando Correia, 37 anos, médico e atual diretor clínico, integra a equipa desde a fundação, em 2015. Conhece o Virgílio há “uns 16 anos porque a mulher dele é uma grande amiga e foi minha colega de curso”. Foi, por isso, acompanhando o percurso do engenheiro e do seu projeto. “Acabei por escolher a especialidade de neurologia e fiz o internato no Porto”, conta o médico, acrescentando que nos primeiros anos viu muitos doentes, na urgência, com AVC em fase aguda e que, após, o internamento “caíam no vazio”. “Somos muito bons a tratar patologias agudas e a tratar medicamente patologias crónicas, mas depois das pessoas terem alta para casa, mesmo tendo sido sujeitas a uma cirurgia, a uma agressão, não se olha para a necessidade de reabilitação”, considera, mostrando uma realidade que o incomodava antes de integrar a Sword. E que, hoje, ainda explica “muita da dificuldade que temos tido para entrar no SNS, onde não se medem outcomes [resultados] e apenas se entregam cuidados”.
Quando Fernando Correia terminou a especialidade, recebeu o convite de Virgílio Bento para “vir para a Sword”. “Podia ter ficado confortável no Hospital de Santo António, onde existe o serviço de neurologia mais antigo do país, e larguei tudo porque acreditei no potencial do uso da tecnologia para aumentar a capacidade humana na área da reabilitação e no que isso iria influenciar a vida de milhões de pessoas.”
Liga de Elite
“Os melhores investidores de Silicon Valley estão connosco, nenhuma outra startup portuguesa tem um conjunto de sócios como nós. A razão é simples, não tínhamos clientes, mas tínhamos a solução, validada com resultados clínicos, para um problema gigante”. Com o primeiro investidor “disparámos”, arremessando a Sword para os antípodas da “fase inicial em que andámos a morrer na Europa”.
O último levantamento de capital com um investidor europeu tinha-se arrastado durante uns traumáticos nove meses. A demora levou a equipa de gestão a congelar os próprios salários e a aprovisionar o suficiente para não deixarem de ser pagos os ordenados aos colaboradores. A dificuldade de tesouraria tornou-se de tal forma desesperada que Virgílio Bento teve de perguntar aos funcionários se tinham condições financeiras para abdicar de um salário, repto a que todos responderam que sim, à exceção de uma pessoa.
“Se dúvidas houvesse, foi a prova de que os colaboradores sentem a empresa como sua e, na verdade, é. Todas as pessoas na Sword têm stock options, uma fatia do negócio, e com a valorização recente da empresa Portugal ganhou mais 100 novos milionários.”
Virgílio Bento deseja que a Sword seja “muitíssimo bem sucedida e que os colaboradores também, o que não acontece ganhando um salário mas sim sendo acionista, o que, agora, traduz-se em muito dinheiro”. O engenheiro antecipa que muitas destas pessoas irão criar as suas próprias empresas ou vão investir noutros projetos e, com isso, mostram a importância de se investir em tecnológicas.
Para o engenheiro, é este “círculo virtuoso que está a faltar ao ecossistema empreendedor português”. Outro aspeto de que não abriu mão foi manter no Porto a sede tecnológica da startup, apesar de uma das condições impostas pelos investidores norte-americanos ser “ir viver para os EUA”. “Disse que sim mas nunca tive intenção de cumprir, porque a minha visão sempre foi: ou isto corre bem e não interessa onde estou ou corre mal e também não interessa onde estou. Nunca quis deixar de ter a Sword em Portugal, onde existe uma grande equipa junto ao CEO. É aqui que pago os meus impostos e isso não me preocupa nada.” Em Portugal não estão “apenas os engenheiros a desempenharem tarefas, as decisões são tomadas cá. Geramos valor e é importante retermos o conhecimento aqui, caso contrário existiria colonização da engenharia portuguesa mas aquele desenvolvimento de raiz ficaria nos EUA”. Silicon Valley, faz notar o empresário português, floresceu com o nascimento de novos projetos lançados pelas pessoas próximas dos CEO de startups de sucesso, porque tiveram a oportunidade de trabalhar ao lado desses líderes e de potenciarem as suas capacidades empreendedoras. Faz falta essa dinâmica a Portugal, identifica. “Hoje, as pessoas sabem que não é preciso estar nos EUA ou no Reino Unido para criar uma das empresas mais valiosas do país. Nós fizemos isso a partir de Portugal, há que quebrar o estigma de que é preciso sair daqui.”
Ciência e tecnologia são parentes pobres
O investimento em ciência e tecnologia em Portugal ronda os 1,6% do produto interno bruto, quando, na opinião do empresário, 10% seria, sim, um montante razoável. “Não se compete à escala mundial a fazer coisas banais, só temos a atenção de Silicon Valley porque fizemos algo muito difícil e altamente complexo.”
“Não esqueço que começámos com uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), no valor de 120 mil euros, e sem isso não sei se estaríamos aqui agora”, mas estes valores são demasiados curtos, alerta. Virgílio Bento licenciou-se na Universidade de Aveiro e com o doutoramento, financiado pela FCT, conseguiu pôr em marcha o projeto científico da Sword, acrónimo de Stroke Wearable Operative Rehabilitation Devices. “Quando comecei a desenvolver este projeto era focado em pacientes com AVC que precisavam de reabilitação motora. Depois, o foco mudou para as patologias músculo-esqueléticas e, eventualmente, regressaremos à ideia inicial”, explica.
Depois houve uma bolsa da Comissão Europeia de um milhão de euros “que foi significativa mas para fazer desenvolvimento tecnológico de algo que é muito complexo e acaba por não ser assim tanto dinheiro”. O terapeuta digital tem que funcionar de forma perfeita segundo padrões clínicos, enfatiza Virgílio Bento, seguindo protocolos definidos. “Os nossos aparelhos são dispositivos clínicos e a robustez de uma solução tecnológica para o mundo clínico é completamente diferente da robustez de uma aplicação normal para o dia a dia.” “É necessária toda a validação clínica junto de doentes”, com estudos científicos que a Sword tem vindo a fazer em Portugal, com pacientes do Hospital da Prelada, por exemplo, mas também junto de clientes norte-americanos.
Além dos fundos europeus, via Horizonte 2020 e Portugal 2020, tiveram investidores europeus “que apostaram em nós e estou agradecido, mas o momento de inflexão foi quando conseguimos ter financiamento dos EUA, foi isso que nos colocou no mapa e nos permitiu acelerar”. Aconteceu no final de 2019.
“Estávamos a ficar sem dinheiro, não tínhamos clientes, nem receitas, nenhuma prova de tração de mercado, mas tínhamos uma tecnologia muito poderosa, com validação clínica e vários pacientes a usarem-na. Achei que não iria ter acesso aos melhores investidores dos EUA porque esses podem escolher e as empresas de saúde digital naquele mercado estão numa liga que nós, honestamente, pensámos que não conseguíamos chegar. Pensámos pequeno.”
A Sword precisava de uma ronda num horizonte de três meses e começou pela Europa, sem qualquer sucesso. “Aqui precisam de validar que há sucesso para investirem. É uma visão conservadora para um negócio de capital de risco que tem que ser tudo menos conservador.”
A bala de prata
“Estávamos num beco sem saída e resolvo enviar um e-mail a um investidor nos EUA, a Khosla Ventures. Expliquei a tecnologia que tínhamos, coloquei os resultados clínicos, disse que precisávamos de dinheiro e perguntei se estavam interessados numa reunião.” Os dados estavam lançados, embora Virgílio Bento não tivesse grande esperança no sucesso desta abordagem. “Passado uma hora recebi a resposta de que havia muito interesse.” A Sword passou por vários escrutínios que incluíram uma reunião preliminar com a presença do bilionário e veterano Vinod Khosla. “Entre a primeira reunião e fecharmos a operação passaram quatro semanas”, faz notar o engenheiro português. “Fomos a segunda empresa com a melhor classificação nesse ano, atribuída pelos partners da Khosla, que têm acesso às melhores startups do mundo.”
Quatro rondas de investimento em 2021 junto de investidores reputados — que não só colocam montantes avultados no mercado, como têm um track record de apostas sucedidas —, alguns sempre presentes, num voto de confiança (que só acontece com algumas startups) em Virgílio Bento e na equipa. É o caso da capital de risco Khosla Ventures, a primeira a ser seduzida pelo projeto luso e que continua firme na startup, depois de um namoro em modo acelerado que deu em casamento em pouco mais de um mês. Numa vertigem, a Sword Health aterrou nos EUA e passou a ter sede legal em Delaware, onde estão, aliás, a maioria das tecnológicas, sobretudo “devido à necessidade de agilidade e rapidez nas operações de financiamento deste tipo de negócios tecnológicos”, explica ao Expresso um especialista em fiscalidade internacional, afastando questões de impostos tendo em conta que este estado norte-americano é aquilo a que se pode chamar de paraíso fiscal.
De um dia para outro, da iminente falta de dinheiro para pagar salários aos colaboradores, a equipa liderada por Virgílio Bento conseguiu angariar 10 milhões de dólares.
Investidores orgulhosos
O último levantamento de capital, no valor de 189 milhões de dólares, no final de 2021, foi liderado pela Sapphire Ventures, com a participação de novos e atuais investidores, como a General Catalyst, a Transformation Capital, a Khosla Ventures, a Founders Fund, a Bond e a portuguesa Green Innovations. Foi nesse momento que a Sword dobrou o estatuto de unicórnio, juntando-se à Farfetch, OutSystems, Talkdesk, Feedzai e Remote. Bruce Armstrong, diretor de operações da Khosla Ventures e um dos diretores na Sword, revela que a seleção dos investimentos tem “em conta se o projeto é fora da caixa, arrojado e com impacto”. “Quando observamos que existe potencial combinado com progresso, ficamos na startup e apoiamos as rondas futuras, tal como fizemos com a Sword.”
Daqui a cinco anos, Bruce Armstrong antecipa que a Sword continue em crescimento acelerado através de contratos com grandes empregadores, “dada a capacidade da empresa para entregar os melhores resultados nas patologias músculo-esqueléticas por um preço razoável”. Do lado da Green Innovations, o diretor Shenaz Daver lembra que a capital de risco nacional foi pioneira a colocar dinheiro na startup, “apoiando-os durante várias rondas quando os fundos eram mais necessários e a operação não estava definida e a estratégia ainda estava a evoluir”. Shenaz Daver sublinha que, desde o momento do primeiro investimento, que a equipa da Sword “é a mais avançada do mundo em termos de engenharia e aplicações clínicas. Nenhuma das soluções concorrentes é tão boa como a da Sword, identificámos logo isso e fizemos um investimento de sucesso”.
O responsável destaca o facto de a Sword ter um projeto dedicado à saúde feminina, que vai ao encontro do foco da Green, que é apoiar iniciativas com um impacto positivo. “Durante a pandemia, a Sword levou soluções de fisioterapia até às casas das pessoas quando estas estavam vulneráveis e não podiam sair”, conta Shenaz Daver, e, ao mesmo tempo, a companhia “criou um programa dedicado às mulheres, com especial atenção ao pavimento pélvico, que é muito importante mas frequentemente negligenciado”.
“Ser um unicórnio nunca foi um objetivo”, garante Virgílio Bento e diz que esta é apenas uma fase, haverá outras em que a curva de valor da empresa será decrescente. Há um plano maior para a Sword Health. “O CEO não o diz assim, mas sublinha que “quanto mais evoluímos, mas sentimos o peso que podemos ter na saúde mundial”. Agora, têm dinheiro, acesso facilitado a talento, mas não é por isso que fica mais fácil. “Nunca trabalhámos tanto, nem tão bem”, diz o líder, frisando que se costuma “romancear demasiado a fase inicial das startups” quando é “muito duro e difícil”. “O futuro da saúde passa por reinventar como as coisas são feitas, com tecnologia. Esse é um trabalho de fundo, muito complexo. Não é possível pegar num sistema analógico e encaixá-lo num formato digital”, sentencia.
Neste momento, a pressão sobre o CEO é “avassaladora” porque escalar uma tecnologia de precisão clínica não tem nada de simples. “Há dores de crescimento, passámos a tratar dez vezes mais doentes e temos que garantir a mesma qualidade e os mesmos resultados clínicos.”
Como lida com a pressão? “Faço desporto e separo muito bem a vida profissional da parte emocional, caso contrário com os altos e baixos deste mundo seria muito difícil manter a saúde mental.” “Escudo a minha família de tudo, não sabem nada de mau que aconteça na Sword e protejo também os meus colaboradores de coisas para as quais sei que não têm possibilidade de ajudar”, revela. A sua forma de lidar com estas situações é de “enorme pragmatismo”: se não podem “resolver o problema porquê ficarem com o peso da preocupação?” Para se aconselhar conta com “várias pessoas seniores fora da Sword, com os investidores e tenho um coach, há um ano, que trabalha para os CEO de empresas que hoje estão no topo e que passaram pelos mesmos problemas com que eu lido. E resolveram.”
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL