Diana Pereira, médica interna que denunciou alegadas irregularidades no serviço de Cirurgia do Hospital de Faro escreveu, em crónica, no Público sobre a recente suspensão. “A suspensão de quem denunciei não se trata de uma vitória pessoal. A suspensão representa uma pequena vitória, ainda que só provisória, para todos os utentes do SNS”.
Diana refere que se lembra de nos dias seguintes a apresentar queixa, antes desta ser pública, da reação dos médicos, que agora, contudo, se encontram suspensos. Estavam a “sorrir e comentar sobre a situação em jeito de gozo, quando, numa primeira fase, tiveram conhecimento da queixa. Lembro-me do dia em que fui posta de parte e impedida de trabalhar normalmente e só podia desabafar com alguns colegas dos cuidados intensivos”.
A médica interna conta que “há dois meses, quando a queixa se tornou de conhecimento público, foram várias as opiniões declamadas aos quatro ventos, vindas de todo o lado, de profissionais de saúde a pessoas de outras áreas mas que acreditam na importância dos serviços públicos de saúde. Algumas eram favoráveis à minha atitude, outras nem tanto”. Mas a maioria desconhecia os factos ao pormenor para poder julgar convenientemente. E claro que muitas delas me caíram mal e me magoaram. Mas as emoções só ganham as proporções que lhes damos”.
Errar é humano, mas há que admitir erros
“Neste processo, dei-me conta de que o problema nunca foi eles falharem. Errar é humano, estamos todos sujeitos a isso. O problema é não admitirem os erros, não falarem abertamente sobre eles e não se informarem devidamente os doentes sobre tudo o que lhes acontece. Porque eles merecem e têm direito à informação”, explica.
Para Diana “o modo como se encara os problemas, que nunca deixarão de surgir, é que faz a diferença e por esse mesmo motivo, mais do que tudo, estou contente. Contente por sentir que, de algum modo, posso ajudar, nem que seja apenas uma pessoa, a ser mais bem atendida e a ter direito a que a tratem com respeito e dignidade quando procurar serviços de saúde públicos. Se para isso foi preciso sofrer umas quantas represálias na pele, ouvir opiniões escusadas e ser olhada de lado por meia dúzia de seguidores do sistema, eu aceito. Se no fim, o meu propósito de salvar mais vidas ou tratar doentes devidamente, com brio e com ética profissional, for concretizado”.
“A suspensão de quem denunciei não é uma vitória pessoal. A suspensão representa uma pequena vitória, ainda que só provisória, para todos os utentes do SNS, que merecem ser tratados com respeito e dignidade, em qualquer serviço de qualquer cidade que procurem. A sanção é e será um abre-olhos para todos os médicos que acham que ninguém é punido e que as leges artis são sempre contornáveis ou maleáveis”, finalizou.