“Eu penso que estamos a querer ir muito depressa e, do meu ponto de vista, não se justifica”, disse à agência Lusa Fernando Maltez na véspera de mais uma reunião entre especialistas e responsáveis políticos, convocada pelo primeiro-ministro, para avaliar a situação epidemiológica do país, num momento em que estão a descer o número de infeções e o índice de transmissibilidade (Rt) da covid-19, que já está abaixo de 1.
Apesar da situação epidemiológica estar a melhorar, o diretor do serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, considerou “demasiado prematuro” aliviar as medidas de controlo da infeção, enquanto uma parte da população ainda não tem o esquema vacinal com reforço completo.
“Enquanto tivermos uma parte significativa da população mais jovem, nomeadamente as crianças dos 5 aos 11 anos, por vacinar penso que não deveremos ir muito depressa”, acrescentou, defendendo que a preocupação deve ser “acelerar o processo de vacinação”.
Fernando Maltez disse, contudo, que se pode aliviar algumas medidas, nomeadamente a exigência de mostrar os certificados de vacinação e recuperação em determinadas circunstâncias e o uso de máscara em ambientes ao ar livre.
“Mas acho que devemos ir com prudência, com cautela, sempre acompanhando aquilo que está a verificar na redução dos números”, na percentagem de positividade da testagem realizada e na pressão nos internamentos em enfermaria e nos cuidados intensivos.
Na sua perspetiva, seria “mais adequado” esperar “mais 10 ou 14 dias” para intensificar essas medidas de alívio.
Para o especialista, foi “demasiadamente precoce” ter-se acabado com a exigência dos passageiros que chegam a Portugal por via aérea apresentarem um teste negativo ao vírus SARS-CoV-2, advertindo que, enquanto o SARS-CoV-2 estiver a circular, há sempre o risco de novas variantes, provenientes de regiões, onde o vírus circula com mais intensidade.
Fernando Maltez alertou que existe uma probabilidade de entrarem em Portugal novas variantes, que podem “trazer com elas maior gravidade de doença, maior mortalidade, maior capacidade de transmissão”.
Portugal registou nas últimas 24 horas, 55 óbitos por covid-19, totalizando 20.620 desde o início da pandemia no país, em março de 2020.
Sobre se todos estes óbitos tiveram como principal causa a infeção por SARS-CoV-2, Fernando Maltez admitiu que haja mortes que não tenham sido causadas diretamente por este vírus, “apesar de estar presente”, mas na sequência de insuficiência cardíaca, de enfarte do miocárdio, de acidente vascular-cerebral ou de outras comorbilidades.
“Em muitas circunstâncias, em muitos doentes, é muito difícil” saber se a causa da morte é exclusivamente resultante da comorbilidade, disse, explicando que o SARS-CoV-2 é um vírus que infeta diversos órgãos”, desde o trato gastrointestinal, o trato renal, o sistema nervoso central, o sistema cardíaco.
Portanto, sublinhou, “tentar perceber se a morte foi exclusivamente devido a um enfarte do miocárdio ou se o SARS-CoV-2 que lá estava contribuiu, ajudou, acelerou, predispôs essa morte é muitas vezes difícil do ponto de vista clínico fazê-lo”.