A Ordem dos Médicos afirmou hoje que os hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo estão a chegar ao “final da linha”, uma vez que já não conseguem ampliar o número de internamentos nos cuidados intensivos.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, explicou que os hospitais estão a trabalhar para além do planeamento de contingência feito no início da pandemia.
“Estamos a chegar ao final da linha, porque os hospitais que tinham no seu plano inicial de contingência 100/120 camas para covid estão a chegar às 200/300, o que significa que já ultrapassaram aquilo que era o seu plano inicial de contingência feita há uns meses”, salientou, acrescentando que os hospitais passaram a dedicar-se em cerca de 60% à covid-19.
Revelando preocupação sobre a falta de resposta das outras especialidades, o dirigente precisou que os hospitais – centrais e periféricos – não estão a conseguir internar “doentes de média gravidade” ou a dar atenção a outros doentes que precisam de cuidados hospitalares.
“A nossa grande preocupação é não só a mortalidade e o impacto da doença covid, mas também que estes hospitais periféricos e os centrais estão a ter menor resposta para as outras doenças que têm igual ou maior gravidade e que também matam com frequência”, ressalvou.
De acordo com Alexandre Valentim Lourenço, os hospitais deixaram de conseguir dar resposta a especialidades como a urologia, a cirurgia plástica ou a dermatologia, que tinham camas de internamento, e a patologias não urgentes.
“Neste momento, estamos a ter pediatras a ver adultos, estamos a ter outras especialidades a tratar de doentes de pneumonia covid, quando isso não é o habitual, mas o necessário. […] Nós não estamos a fazer o melhor, estamos a fazer o que necessário para resolver estes problemas”, indicou.
Para o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, não existe uma coordenação efetiva das medidas tomar por cada hospital.
“O planeamento neste momento não é possível. Já não era bom e já não existia. Agora torna-se difícil de resolver e por isso cada hospital tem de resolver os seus problemas, e contar com a boa vontade e colaboração dos outros”, explicou.
Questionado sobre o problema na rede de oxigénio do Hospital Amadora-Sintra, que obrigou a transferir mais de quatro dezenas de doentes para outras unidades, na terça-feira, Alexandre Valentim Lourenço considerou que “todos os meios estão em falta”.
“No momento em que nós já temos de transferir, numa noite, por sobrecarga do sistema, [algumas dezenas de] doentes de um hospital para outros, que ainda os conseguem receber, significa que esse hospital já não tinha capacidades e os meios técnicos, logísticos, e os recursos humanos já não são os adequados”, disse, notando que “os sistemas não são elásticos”.
Alexandre Valentim Lourenço perspetivou que as próximas semanas servirão para perceber a evolução do problema, recordando que está a haver uma “sobrecarga de trabalho brutal de equipas, que estão exaustas” e têm dificuldade em fazer o seu trabalho normal.
O secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou hoje que o Governo está atento às diferentes taxas de esforço dos hospitais da Área Metropolitana de Lisboa, por forma a haver um maior equilíbrio.
“Estamos atentos às taxas de esforço de forma a equilibrarmos essas taxas de esforço, para que não haja hospitais com 50%, 60% ou 70% e outros com 25% e 30%”, disse António Lacerda Sales, que falava aos jornalistas após uma visita a uma estrutura de retaguarda de combate à covid-19, instalada no Hospital Militar de Coimbra.
O secretário de Estado respondia a questões dos jornalistas sobre um documento conjunto das administrações de sete hospitais da Área Metropolitana de Lisboa, que criticaram a distribuição de doentes entre os hospitais da região, referindo que as unidades periféricas têm uma maior taxa de esforço do que as centrais.