A fibromialgia é considerada uma doença crónica do foro reumatológico onde as dores neuromusculares dolorosas, podendo ser generalizadas ou localizadas, ao longo do dia representam o sintoma mais marcante.
A fibromialgia apresenta ainda como sintomas a fadiga, a rigidez muscular, as perturbações do sono, as parestesias, os distúrbios emocionais, os edemas, a alteração do padrão gastrointestinal, o colón irritável e a alteração da capacidade de memória, atenção e concentração.
Fibromialgia pode desencadear ansiedade e depressão
Para além dos sintomas apresentados anteriormente, a fibromialgia, pela dor constante e permanente pode desencadear ansiedade e depressão, muitas vezes no contexto da incompreensão proveniente de quem rodeia a vida quotidiana destes doentes, assim como pela condição de viver constantemente com dor contínua, a qual compromete a qualidade de vida.
Assim, poderei afirmar, que a fibromialgia para além de representar dor física (aspeto biológico), ela também patenteia sofrimento psicológico. Vários estudos mencionam que a qualidade de vida dos portadores de fibromialgia é inferior comparativamente a indivíduos saudáveis, pela presença incessante da dor, pelo comprometimento do domínio físico e da capacidade funcional, assim como, pela presença de outros diagnósticos como a depressão e sentimentos de desamparo, incompreensão e vulnerabilidade. Acresce ainda realçar que para além das limitações das capacidades funcionais, os distúrbios psiquiátricos acarretam consigo limitações emocionais e intelectuais, dificultando a capacidade dos doentes face às responsabilidades familiares, sociais e laborais.
Doentes com fibromialgia apresentam múltiplos pontos dolorosos
Os doentes que sofrem de fibromialgia apresentam múltiplos pontos dolorosos, denominados de pontos de gatilho (no mínimo 11 de 18 pontos de gatilho num período igual ou superior a 3 meses). A fibromialgia pode desencadear-se após um incidente traumático ou devido a problemas emocionais, sendo que o diagnóstico é clínico.
De uma forma geral, os doentes apresentam extrema sensibilidade ao toque (alodonia), a qual muitas vezes representa desconforto e dor pelo simples facto de receberem um abraço. Gerir a alodonia com vontade de receber um abraço, um gesto de carinho por parte de quem nos rodeia nem sempre se torna tarefa fácil, pois impera a dualidade entre abraçar e sentir dor ou sentir a necessidade de um abraço e evitá-lo para impedir a dor.
Doentes fibromiálgicos podem ter vida quotidiana incapacitante
A vida quotidiana de um doente com fibromialgia pode ser muito incapacitante, incompreendida e angustiante, isto porque, nunca existem certezas acerca do dia-a-dia, ou seja, é difícil fazer planos e prever na íntegra um dia de vida familiar, social e laboral. Um doente fibromiálgicos deixa de ter planos para o seu dia-a-dia, pela incerteza que os seus planos serão cumpridos. A incapacidade de realizar uma simples tarefa de vida diária, como realizar a higiene pessoal ou preparar uma refeição representam condições facilitadoras de sintomatologia depressiva e isolamento social pelo fato dos doentes muitas vezes se sentirem “inúteis”.
A dor que acompanha diariamente os doentes fibromiálgicos, deve ser entendida como uma eterna companheira da vida destes doentes. Desta forma, o doente pela experiência e pelo quotidiano irá adquirir uma maior compreensão acerca das suas restrições quotidianas. Um fator importante para esta condição de vida chama-se aceitação da doença e das condições impostas pela doença.
Tratamento da fibromialgia: farmacológico e não farmacológico
O tratamento da fibromialgia deve abranger o enfoque sociopsicossomático, com recurso a tratamento farmacológico e não farmacológico (prática de exercício físico, fisioterapia, hidroterapia, psicoterapia, nutrição, técnicas de relaxamento).
Hoje em dia, a sociedade ainda desconhece e desvaloriza a doença pelo fato de ser uma “doença invisível” aos olhos, no entanto bastante real para quem sente e vive com este fantasma diariamente. O doente fibromiálgicos para além de sofrer com toda a sintomatologia envolvente da doença, sofre também pelo fato de viver com alterações significativas na sua vida quotidiana causadas pelas limitações da sua atividade, pela sintomatologia depressiva, pela alteração do padrão do sono e também pela incompreensão e menosprezo da sociedade. Ainda que, da sociedade, sejam proferidas críticas depreciativas, tais como “estás tão bem”, “não existe dor tão prolongada e tão incapacitante”, “hoje em dia já nem te arranjas…é para pensarmos que estás mesmo doente?”, “essa doença não mata”, ou “não finjas que estás doente”, a certeza é só uma, o doente fibromiálgicos perante tanta dor, incompreensão e por sentir comprometida a sua qualidade de vida, familiar, social e laboral, jamais finge estar com dor, ele na verdade aprendeu a fingir que maioritariamente encontra-se bem, confortável e com qualidade de vida.
Termino assim com uma frase de Fernando Pessoa “o poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”.
(Artigo publicado na edição online do Caderno Semear Saúde)