O Dia Mundial dos Doentes de Lepra foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1954, a pedido de Raoul Follereau, tem como objectivo alertar a população mundial para as condições de sofrimento e de miséria em que vivem muitos milhões de pessoas atingidas pela doença da lepra. Hoje é celebrado em cerca de 130 países.
Em Portugal, a APARF, cumprindo os seus estatutos, assinala o Dia pelo 34º ano consecutivo. Com a colaboração do Núcleo do Porto, Grupos Locais e uma vasta rede de voluntários dispersos pelo País, sensibiliza a população para a problemática da Lepra, (quer na sua vertente de doença física quer na sua acentuada marca de estigma social) ao mesmo tempo promove o Peditório Nacional.
Conforme explica a a APARF “a data mantém-se muito actual pois, apesar da progressiva redução do número de doentes, a doença ainda não foi erradicada, sobretudo em países pobres onde todos os anos surgem inúmeros casos novos”. Existe tratamento para a lepra “o que tem ajudado a salvar muitos milhões de doentes”. Contudo, o sucesso da cura depende também de outras condições “como seja o combate à desnutrição, falta de água potável e parcos padrões de higiene de pessoas que vivem abaixo do nível da dignidade humana. Com a prevenção podemos erradicar a doença de lepra”.
Segundo o relatório publicado pela OMS a 4 de Setembro último, “no ano de 2019, foram diagnosticados 202.185 novos casos de lepra em 160 países, designadamente na Índia, Brasil e Indonésia, com 159.753 novos casos”.
Em Portugal o número de doentes é reduzido. Os novos casos, num total de 6, diagnosticados no ano de 2019, são pessoas imigradas, oriundas de países endémicos, África, América Latina e Ásia. Estes doentes são tratados pelo Serviço Nacional de Saúde.
A Região Litoral Centro de Portugal (Coimbra, Leiria, Lisboa e Vale do Tejo) foi, tradicionalmente, a mais atingida pela doença. Por esse motivo o Hospital Rovisco Pais foi construído no Centro do País, na Tocha, Cantanhede. Este Hospital, destinado ao tratamento dos doentes de Lepra, registou (desde 1947) cerca de 3.260 processos clínicos de doentes, internados ou acompanhados em regime externo.
Sobre a APARF
– A APARF – Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau, fundada em 1987, é uma IPSS, sem fins lucrativos, reconhecida oficialmente de utilidade pública. Tem Direcção Nacional e a sede em Lisboa. Integra um Núcleo Regional (de âmbito distrital) e várias dezenas de Grupos Locais (de âmbito de povoação ou freguesia).
– Tem por objecto principal prestar assistência material, sanitária e moral às pessoas afectadas pela doença de Hansen (Lepra), promover acções de luta contra a doença e outras causas de marginalização social.
– Apoia em Portugal os doentes de lepra e suas famílias
– Em 20 de Janeiro de 2021 comemora 34 anos de actividade
– Durante a sua existência já diagnosticou e acompanhou milhares de doentes de lepra em mais de 50 países, de quatro continentes
– É membro da UIARF – União Internacional das Associações Raoul Follereau, sediada em Paris, França
– Inscrita e acreditada como Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento
– A sua acção é inspirada na vida e obra de Raoul Follereau
Sobre RAOUL FOLLEREAU
Escritor, jornalista e advogado francês, nascido em 1903, que deixou a sua actividade profissional para se dedicar exclusivamente à causa dos doentes de lepra, após um primeiro encontro com estes doentes, em 1935, no Níger. Em 1957 visita Portugal e o Hospital Rovisco Pais, na Tocha. Em 1966 criou o ILEP (Federação Internacional das Associações que lutam contra a Lepra no Mundo). Em 1968 cria as Fundações Raoul Follereau e visita Portugal pela 2ª vez, proferindo conferências em diversos locais do país; visita o Hospital Rovisco Pais pela segunda vez.
Em 50 anos ao serviço dos doentes de lepra, juntamente com Madeleine Boudou, com quem casou em 1925, deu a volta ao mundo várias vezes a visitar leprosarias/prisões, a proferir milhares de conferências, numa entrega total ao serviço destes estigmatizados doentes. Raoul Follereau faleceu em Paris, a 6 de Dezembro de 1977. Contava 74 anos o “vagabundo da caridade” ou “apóstolo dos leprosos” como era frequentemente apelidado.
O que é a LEPRA
A doença de Hansen mais conhecida como Lepra é uma doença infecciosa crónica, causada pela “Mycobacterium Leprae”, caracterizada por largo período de incubação (até dez anos ou mais).
As primeiras referências escritas relativas à Lepra datam de 1500 anos a. C. Desde então a doença era considerada como um castigo divino, até que a identificação do bacilo veio esclarecer a sua causa.
A identificação do bacilo responsável pela doença foi identificado em 1873 pelo médico norueguês Dr. Gerhard Armauer Hansen, daí provindo o nome de Doença de Hansen.
Os enfermos eram internados compulsivamente em Lazaretos ou ilhas de Leprosos ficando privados dos mais elementares direitos, como o casamento, família, circulação no território, herdar ou possuir bens. Tais medidas foram implementadas sobretudo para não contagiarem a restante família e sociedade.
A lepra não é hereditária, como se julgou durante muitos séculos, mas contagiosa pois passa de uma pessoa afectada a uma outra “susceptível”. O contágio verifica-se em ambientes e entre populações que sofrem de desnutrição, sem acesso a água potável e, portanto, de baixos padrões de higiene.
Apenas no Século XX, na década de quarenta, se criou o primeiro medicamento, a sulfona, que conteve a proliferação da doença, mas não como tratamento definitivo e sua cura. Esta só foi possível a partir de 1980, com a poliquimioterapia – PCT. Quando aplicados em prazos e doses adequadas permite o tratamento rápido, completo e não deixa sequelas no doente. No entanto, na ausência de vacina e, dado o longo período de incubação do bacilo, torna-se difícil a erradicação da doença.
Quando não é diagnosticada e tratada atempadamente, evolui e causa úlceras ao nível da pele, afecta o sistema nervoso periférico, mutila, provoca a cegueira e a morte.