A virologista Raquel Guiomar, do Instituto Ricardo Jorge, disse hoje que os falsos positivos em testes PCR de despistagem à covid-19 podem dever-se a uma “pequena contaminação” da amostra em análise ou a incorreta interpretação dos dados.
Sem comentar diretamente o caso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que voltou hoje a testar negativo à covid-19 após ter testado positivo depois de um primeiro teste negativo, Raquel Guiomar referiu que casos pontuais como o que sucedeu, em que há resultados que suscitam dúvidas, é necessária uma “segunda avaliação”, a cargo do Instituto Ricardo Jorge, o laboratório de referência em Portugal.
O chefe de Estado testou primeiro negativo à covid-19 com um teste de antigénio e depois testou positivo com um teste PCR. Voltou a testar negativo com dois novos testes PCR. O primeiro teste PCR foi feito num laboratório da rede nacional, os dois últimos no Instituto Ricardo Jorge.
Os testes de antigénio, que detetam proteínas do coronavírus da covid-19, permitem obter resultados mais rápidos, sendo recomendados, por exemplo, para controlar surtos.
Contudo, estes testes são menos sensíveis, particularmente quando a carga viral é mais baixa (o que pode acontecer no início ou no fim da infeção) e não há sintomas, e, por isso, são menos fiáveis do que os testes PCR, que detetam pequenas quantidades de material genético do vírus, sendo recomendados, por exemplo, a doentes internados ou assintomáticos com contactos de alto risco com casos confirmados de infeção.
Raquel Guiomar, que é responsável pelo Laboratório Nacional de Referência para o Vírus da Gripe e outros Vírus Respiratórios no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em Lisboa, assinalou à Lusa que, perante um teste de antigénio com resultado negativo para a covid-19, as orientações em Portugal mandam que se faça um novo teste para confirmar os resultados, no caso um teste PCR (ou teste molecular).
Tendo o teste PCR dado um resultado diferente, deve ser repetido para que não subsistam dúvidas.
Como possíveis justificações para que um teste PCR tenha dado (falso) positivo depois de um teste de antigénio negativo, a virologista aponta “uma pequena contaminação” da amostra durante a análise laboratorial ou a “valorização de algum sinal” na interpretação dos dados.
Sem citar nomes, Raquel Guiomar adiantou que o Instituto Ricardo Jorge “está a tentar perceber o que se passou” junto do laboratório da rede que fez o teste PCR que deu na segunda-feira um falso positivo para a covid-19 para o Presidente da República.
Feitos dois novos testes PCR, um ainda na noite passada e outro hoje, o Instituto Ricardo Jorge confirmou resultados negativos para a covid-19 para Marcelo Rebelo de Sousa.
A covid-19 é uma doença respiratória causada por um novo coronavírus (tipo de vírus, o SARS-CoV-2) detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China, e que se disseminou rapidamente pelo mundo.
Em Portugal, morreram 8.080 pessoas dos 496.552 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.