Sem hesitações, a equipa que tem aconselhado o Governo na gestão de controlo da epidemia de covid-19 acredita que “está na altura de aliviar as medidas”, mantendo a “monitorização e alerta”. Neste sentido, propôs hoje ao Governo novos passos rumo à normalidade e que poderão já ser alvo de decisão do Conselho de Ministros de quinta-feira. Ainda não é o alívio total das restrições, que já não são muitas, mas o fim pode estar próximo – e pode acontecer no próximo mês.
A equipa que tem aconselhado António Costa estabeleceu agora dois níveis, sendo que, perante a evolução favorável de todos os indicadores (Rt abaixo de 1, diminuição da incidência, ocupação de camas de UCI abaixo da linha vermelha e mortalidade a estabilizar), o país pode avançar já para o nível 1.
Na prática, isso significa que pode cair a exigência de apresentar um teste negativo para entrar num recinto desportivo ou em bares e discotecas, que já não será preciso apresentar certificado digital para entrar num restaurante, espetáculo ou hotel, que já não precisa de haver limitações de lotação em lojas nem a proibição do consumo de álcool na rua. E deixaria de haver a recomendação do teletrabalho sempre que possível.
Em relação aos testes para o SARS-CoV-2, estes seriam necessários na admissão em lares e hospitais, para despiste de sintomas, em locais de maior risco de transmissão e junto de funcionários do pré-escolar, já que trabalham com crianças não vacinadas (abaixo dos 5 anos), explica ao Expresso Raquel Duarte, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e uma das autoras da proposta. Ou seja, a lógica de testagem massificada deve começar a mudar desde já.
Não sendo expectável um aumento de casos após este alívio (a previsão dos peritos aponta para uma redução sustentada da incidência, com níveis muito baixos dentro de dois meses), a recomendação aponta para uma avaliação a 15 dias, com a possibilidade de se passar ao patamar subsequente – o nível 0 – quando estiverem reunidas duas condições: uma ocupação em UCI por doentes covid inferior a 170 (estava ontem nas 142) uma mortalidade abaixo dos 20 óbitos por milhão de habitantes a 14 dias. Neste momento, este valor ainda está bem acima: 63 por milhão.
Mas há dois fatores que indiciam a melhoria deste indicador: não só estagnou, como está mesmo a diminuir se a análise se resumir aos últimos 7 dias, indicou Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde. Além disso, acrescentou, com a incidência a cair também entre os mais idosos (os que são mais vulneráveis) é “esperada uma redução da mortalidade na próxima semana”.
Na reunião do Infarmed não foi apresentada uma data, mas, segundo Raquel Duarte, a previsão é a de que se atinja um valor abaixo das 20 mortes por milhão de habitantes a 14 dias “no próximo mês e qualquer coisa”. Ou seja, até ao final de março, e se tudo correr sem imponderáveis, testes, certificados, máscaras ou o reporte diário dos casos deixarão ser necessários.
No caso específico das máscaras, a proposta dos peritos prevê apenas a promoção da sua utilização “perante sintomas respiratórios ou perceção de risco”. No fundo, explica Raquel Duarte, trata-se de aplicar o que se aprendeu nestes últimos anos, nomeadamente em termos de comportamentos: não ir ao local ao trabalho ou à escola se se está doente, usar máscara perante risco de transmissão, manter a especial proteção de população vulneráveis, como residentes em lares.
Com um aviso: a pandemia ainda não acabou e continua a ser preciso avançar com “cautela”, monitorizando e precavendo a ocorrência de novos surtos.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL